Comentário

Eleições e luta

Ilda Figueiredo

Image 6555

Nas jor­nadas de tra­balho dos de­pu­tados do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu, que con­cluímos no final da se­mana pas­sada com vi­sitas aos dis­tritos da Guarda e Cas­telo Branco, re­co­lhemos inú­meros exem­plos das con­sequên­cias das po­lí­ticas de di­reita que, se­guindo as ori­en­ta­ções da União Eu­ro­peia, le­varam à des­truição de partes fun­da­men­tais do nosso apa­relho pro­du­tivo, à cres­cente pri­va­ti­zação de sec­tores es­tra­té­gicos, à li­be­ra­li­zação do sector fi­nan­ceiro e de ser­viços pú­blicos, além de ter ser­vido de pre­texto para mai­ores ata­ques aos di­reitos so­ciais e la­bo­rais. As con­sequên­cias estão aí: de­sem­prego, de­si­gual­dades so­ciais, po­breza, agra­va­mento do dé­fice e da dí­vida pú­blica e pri­vada de Por­tugal ao es­tran­geiro.

E novas ame­aças surgem, como na área dos cui­dados de saúde, com a nova pro­posta de di­rec­tiva sobre a li­be­ra­li­zação destes ser­viços, a acres­centar ao en­cer­ra­mento de ser­viços de saúde ou ao seu atro­fi­a­mento e mai­ores di­fi­cul­dades de acesso. Ainda há dias, na vi­sita ao hos­pital de Chaves, que serve uma larga re­gião de Trás-os-Montes, re­gião onde aca­baram com­boios, ouvi grandes pre­o­cu­pa­ções de utentes (mu­lheres e ho­mens de fracos re­cursos eco­nó­micos), de mé­dicos, en­fer­meiros e ou­tros fun­ci­o­ná­rios com os anun­ci­ados cortes do Go­verno nos trans­portes de do­entes e ou­tros apoios so­ciais.

Foi a apli­cação da Po­lí­tica Agrí­cola Comum, da Po­lí­tica Comum de Pescas e da li­be­ra­li­zação do co­mércio in­ter­na­ci­onal que levou à des­truição de uma parte sig­ni­fi­ca­tiva dos nossos sec­tores pro­du­tivos, a que acresceu, na úl­tima dé­cada, a perda da so­be­rania nas po­lí­ticas mo­ne­tá­rias e cam­biais, com a en­trada de Por­tugal na União Eco­nó­mica e Mo­ne­tária.

Por todo o País são muito vi­sí­veis as con­sequên­cias desta po­lí­tica, com o en­cer­ra­mento de mi­lhares de em­presas, a des­truição de mi­lhares de ex­plo­ra­ções agrí­colas, o aban­dono das terras e a ameaça que per­siste sobre al­guns sec­tores in­dus­triais, como o têxtil, no­va­mente pres­si­o­nado pelos acordos de livre co­mércio da União Eu­ro­peia, seja no Norte com a têxtil al­go­do­eira e os têx­teis-lar, seja nas Beiras, de­sig­na­da­mente no dis­trito de Cas­telo Branco.

Tudo isto con­tri­buiu para su­jeitar a in­dús­tria por­tu­guesa e a agri­cul­tura aos in­te­resses da Ale­manha e da França, per­mi­tindo também a des­re­gu­la­men­tação da es­tra­tégia das mul­ti­na­ci­o­nais eu­ro­peias, ame­ri­canas, ja­po­nesas ou ou­tras, que aban­donam o País ou cen­tra­lizam a pro­dução quando se acabam os apoios co­mu­ni­tá­rios. Por exemplo, como ainda esta se­mana com­pro­vámos na Guarda, a mul­ti­na­ci­onal ame­ri­cana Delphi en­cerrou a fá­brica, que ali co­meçou com cerca de três mil tra­ba­lha­dores, e agora ter­minou com apenas cerca de 300, sendo que so­mente al­guns foram trans­fe­ridos para Cas­telo Branco, au­men­tando ainda mais o de­sem­prego na re­gião.

 

Um voto de pro­testo

 

A ver­dade é que foram os de­pu­tados co­mu­nistas no Par­la­mento Eu­ropeu (PE) quem sempre votou contra estas po­lí­ticas, quem alertou para as suas con­sequên­cias, quem de­nun­ciou os seus re­sul­tados e exigiu a sua re­visão, mesmo quando os de­pu­tados de ou­tros par­tidos in­si­nu­avam que que­ríamos im­pedir a mo­der­ni­zação de Por­tugal, ou quando Ca­vaco Silva, então pri­meiro-mi­nistro, afir­mava que tí­nhamos de estar no «pe­lotão da frente». Foi o PCP que sempre de­nun­ciou e con­tinua a de­nun­ciar estas me­didas de cres­cente sub­missão de Por­tugal às ori­en­ta­ções e di­rec­tivas eu­ro­peias, seja no PE, seja na As­sem­bleia da Re­pú­blica. Al­guns sec­tores da eco­nomia por­tu­guesa re­co­nhecem-no e afirmam-no, como ainda agora acon­teceu na Co­vilhã, com os in­dus­triais dos la­ni­fí­cios.

É par­ti­cu­lar­mente vi­sível, neste mo­mento, o enorme des­con­ten­ta­mento po­pular com as con­sequên­cias das me­didas anti-so­ciais dos su­ces­sivos PEC e do ac­tual or­ça­mento do Es­tado que re­cebeu apoio do PS e do PSD. Sen­timo-lo em sí­tios tão di­versos como na vi­sita ao Museu do Côa, onde o Go­verno PS está a pôr tudo em causa, sem ouvir quem ali tra­balha, não des­ti­nando verbas para o seu fun­ci­o­na­mento e apos­tando na pri­va­ti­zação da sua gestão através de mais uma Fun­dação.

Es­tamos nos úl­timos dias da cam­panha elei­toral. Como re­pe­timos nos con­tactos com a po­pu­lação, é pre­ciso trans­formar o des­con­ten­ta­mento com a po­lí­tica de di­reita de Só­crates e Ca­vaco, do PS, PSD e CDS no voto de pro­testo, in­dig­nação, re­volta e firme de­ter­mi­nação na cons­trução de uma al­ter­na­tiva que au­mente a pro­dução, e dis­tribua com jus­tiça a ri­queza pro­du­zida, para au­mentar o em­prego com di­reitos e er­ra­dicar a po­breza. Esse é o voto em Fran­cisco Lopes, já no pró­ximo do­mingo, para re­forçar e apoiar novas lutas, de­pois das elei­ções.



Mais artigos de: Europa

Pressão e chantagem

Os tra­ba­lha­dores da fá­brica de Mi­ra­fiori da Fiat, em Turim, apro­varam sob fortes pres­sões e ame­aças um acordo que ex­tingue o con­trato co­lec­tivo vi­gente e viola a le­gis­lação la­boral ita­liana.

RFA recrutou Klaus Barbie

O antigo chefe da Gestapo em Lyon, Klaus Barbie, após a Segunda Guerra Mundial tornou-se colaborador dos serviços secretos (BND) da República Federal Alemã, de acordo com o semanário Der Spiegel (17.01). O «carniceiro de Lyon», que em 1987 foi condenado a prisão...