Nos 90 anos do Partido

Afirmar o seu projecto e intensificar a luta

Rui Fernandes (Membro da Comissão Política do PCP)

O Par­tido co­me­mora este ano os seus 90 anos. Não pre­ci­sando de datas re­dondas para co­me­morar o seu ani­ver­sário, é in­des­men­tível que 90 anos de in­ter­venção, de acção ab­ne­gada em de­fesa dos tra­ba­lha­dores e do povo, de luta pela li­ber­dade, a de­mo­cracia e o so­ci­a­lismo, dão-lhe um sig­ni­fi­cado par­ti­cular.

Co­me­mo­ramos os 90 anos do Par­tido com os olhos postos no fu­turo

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Sig­ni­fi­cado esse que ganha ainda uma outra im­por­tância no con­texto dos fortes ventos hostis ao pro­gresso so­cial que fus­tigam os povos e, em par­ti­cular, a si­tu­ação na­ci­onal. Um Par­tido in­con­fun­dível pela sua his­tória, pelo seu pro­jecto de fu­turo, pelas suas ca­rac­te­rís­ticas e iden­ti­dade, cuja ac­tu­a­li­dade e va­li­dade se evi­den­ciam nos tempos que vi­vemos e que se cons­ti­tuem em ins­tru­mentos es­sen­ciais na luta pela rup­tura e a mu­dança, na luta contra o ca­pi­ta­lismo.

Co­me­morar os 90 anos do Par­tido é, antes de mais, re­do­brarmos os es­forços co­lec­tivos para o seu re­forço. Re­forço da sua li­gação às massas, da sua es­tru­tura, dos meios para a sua in­ter­venção. Re­forço que passa pela in­ten­si­fi­cação da luta, grande e pe­quena, contra esta po­lí­tica e as suas con­sequên­cias para os tra­ba­lha­dores e o País. Luta tanto mais ne­ces­sária quando estão em curso novas ofen­sivas contra os di­reitos do tra­balho e a des­va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios, a po­breza e a ex­clusão alas­tram, ao mesmo tempo que o ca­pital fi­nan­ceiro em­bolsa mi­lhões de lu­cros. 

Neste con­texto, a cam­panha em curso em torno de Por­tugal a Pro­duzir, as­sume par­ti­cular im­por­tância. Im­por­tância, desde logo, porque é aqui, neste ele­mento, que re­side muito do que res­peita à saída para a si­tu­ação do país, ao com­bate ao de­sem­prego, à afir­mação da so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais. Im­por­tância também para o apro­fun­da­mento do co­nhe­ci­mento da si­tu­ação nos con­ce­lhos e/​ou fre­gue­sias e a ne­ces­sária ar­ti­cu­lação entre esse co­nhe­ci­mento e a in­ter­venção par­ti­dária, a di­na­mi­zação da luta e a ele­vação da cons­ci­ência po­lí­tica.

 

A ofen­siva ide­o­ló­gica vai-se in­ten­si­ficar

 

Os ele­mentos que com­põem a ofen­siva ide­o­ló­gica, não se al­te­rando nos seus eixos fun­da­men­tais, ga­nham em cada mo­mento ex­pres­sões pró­prias. Co­nhe­cemos a re­cor­rente e ge­ne­ra­li­zada téc­nica de res­pon­sa­bi­lizar a «po­lí­tica», «os po­lí­ticos» ou a «classe po­lí­tica» pelo es­tado a que chegou a si­tu­ação do País, me­tendo tudo no mesmo saco, mi­ni­mi­zando o voto con­de­na­tório dos que so­frem com as po­lí­ticas de di­reita, mas pro­cu­rando também assim con­duzir à de­sis­tência e ao con­for­mismo, ao não vale a pena lutar. Acção ide­o­ló­gica que visa con­duzir à ine­vi­ta­bi­li­dade destas po­lí­ticas e à ine­vi­ta­bi­li­dade de terem de ser os par­tidos de sempre – PS, PSD e CDS-PP – a pros­se­guirem no poder. Acção ide­o­ló­gica em torno da de­no­mi­nada «ci­da­dania» como con­tra­ponto aos par­tidos, como se in­ter­venção e acção par­ti­dária, sin­dical, nas as­so­ci­a­ções de re­for­mados, nas co­mis­sões de pais, nas co­mis­sões de utentes, nas as­so­ci­a­ções de es­tu­dantes, etc., não fossem afir­ma­ções de ci­da­dania, não raras vezes de uma co­ra­josa ci­da­dania que muitos desses arautos e pro­cla­ma­dores da ci­da­dania nunca ti­veram a co­ragem de as­sumir. 

Im­porta pois, na acção geral do Par­tido, in­cor­porar os ele­mentos de es­cla­re­ci­mento que ajudem à ele­vação da cons­ci­ência po­lí­tica, desde logo le­vando às massas não só aquelas que são as pro­postas do Par­tido, mas pro­cu­rando que sejam agentes ac­tivos na sua de­fesa e di­vul­gação.

É ne­ces­sário pros­se­guir o es­cla­re­ci­mento sobre a na­tu­reza de classe do sis­tema. É ne­ces­sário ex­plicar a com­ple­men­ta­ri­dade da de­mo­cracia po­lí­tica, eco­nó­mica, so­cial e cul­tural e des­mis­ti­ficar a ideia de que não existem ou­tros es­tá­dios de de­mo­cracia para além da­quilo que está, e que tudo se re­sume à dis­cussão sobre o nú­mero de de­pu­tados e o mé­todo de eleição e, claro está, ao voto de tempos a tempos. É ne­ces­sário ajudar à ele­vação da cons­ci­ência que per­mita dis­tin­guir o «falso dono do ver­da­deiro pro­pri­e­tário[1]» e à com­pre­ensão de que «mudar de feitor não é trans­formar as es­tru­turas[2]».

 A vida con­firma que o PCP é o único Par­tido que, com fir­meza e co­e­rência, de­fende os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País. A vida con­firma que o povo por­tu­guês tem no PCP a única força po­lí­tica que, em todas as cir­cuns­tân­cias, es­tará sempre a seu lado. Por isso, or­gu­lhosa e hon­ra­da­mente co­me­mo­ramos os 90 anos do Par­tido, com os olhos postos no fu­turo e com a con­fi­ança do valor do nosso ideal e pro­jecto.



[1]     Mário Sa­cra­mento, dis­curso pro­fe­rido no te­atro Avei­rense em 11 de Ja­neiro de 1969.

[2]     idem



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