Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal

Ler e reler, estudar e compreender

Nas mãos dos co­mu­nistas, a obra teó­rica de Álvaro Cu­nhal é uma arma para a luta que o Par­tido trava, afirmou Rui Mota, das Edi­ções Avante!, na apre­sen­tação na Co­vilhã do Tomo III das Obras Es­co­lhidas.

Rumo à Vi­tória per­mite com­pre­ender a es­tru­tura eco­nó­mica do fas­cismo

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O Salão dos Con­ti­nentes, no Centro de Tra­balho do Par­tido na Co­vilhã, foi o local es­co­lhido para a sessão de apre­sen­tação do Tomo III das Obras Es­co­lhidas de Álvaro Cu­nhal na noite de sexta-feira, dia 18. Rui Mota, das Edi­ções Avante!, a quem coube lançar o de­bate, chamou a atenção para a im­por­tância da obra teó­rica de Álvaro Cu­nhal, ci­tando o que o pró­prio Álvaro Cu­nhal es­creveu sobre os textos dos clás­sicos do mar­xismo-le­ni­nismo e os ma­te­riais do Par­tido: uns e ou­tros, dizia o his­tó­rico di­ri­gente co­mu­nista, «não podem ser lidos como um ro­mance para que se possa mais tarde dizer que já se leram. É ne­ces­sário lê-los e relê-los, é ne­ces­sário es­tudá-los e com­pre­endê-los».

Mas, avi­sava, «não se trata de cri­armos ideias de que es­tudar é tudo e afas­tarmos por­tanto os qua­dros do tra­balho cor­rente para os tor­narmos “teó­ricos” pe­tu­lantes». Pelo con­trário, pros­se­guiu Rui Mota, con­ti­nu­ando a ci­tação, o mar­xismo-le­ni­nismo é uma «ci­ência li­gada à vida e às con­di­ções de lugar e de tempo, uma ci­ência que se en­ri­quece com novas ex­pe­ri­ên­cias e novos co­nhe­ci­mentos». O re­pre­sen­tante da edi­tora lem­brou que «só a esta luz se pode ler e es­tudar a obra de Álvaro Cu­nhal».

Pela sua «im­por­tância fun­da­mental», Rui Mota cen­trou a sua in­ter­venção no Rumo à Vi­tória que, afirmou, «cons­titui um marco im­por­tan­tís­simo nas ci­ên­cias so­ciais por­tu­guesas»: nunca até então se tinha feito um es­tudo «tão pro­fundo da es­tru­tura so­cial e eco­nó­mica do fas­cismo» assim como desde então «não tem ha­vido ou­tros tão glo­bal­mente ca­pazes».

A de­fi­nição de li­nhas po­lí­ticas re­vo­lu­ci­o­ná­rias que vi­savam o der­ru­ba­mento do fas­cismo, «tão vá­lidas e cor­rectas que se ve­ri­fi­caram his­to­ri­ca­mente cerca de dez anos de­pois, com a re­vo­lução ini­ciada a 25 de Abril de 1974», também atesta da im­por­tância desta obra. Rumo à Vi­tória foi ainda, acres­centou, «uma obra de grande di­vul­gação no seio do mo­vi­mento pro­gres­sista por­tu­guês, cuja jus­teza levou ao Par­tido muitos de­mo­cratas».

 

O ver­da­deiro ca­rácter da di­ta­dura

 

Foi nesta obra que se de­finiu, «na mais clara e acer­tiva for­mu­lação al­guma vez ela­bo­rada», o ver­da­deiro ca­rácter da di­ta­dura fas­cista: para Álvaro Cu­nhal, tra­tava-se do «go­verno ter­ro­rista dos mo­no­pó­lios as­so­ci­ados ao im­pe­ri­a­lismo es­tran­geiro e dos la­ti­fun­diá­rios». Como sa­li­entou em se­guida Rui Mota, «se­pa­rando cada uma das partes cons­ti­tu­tivas desta for­mu­lação se ve­ri­fica a sua va­li­dade».

Tra­tava-se, pros­se­guiu, de um «go­verno ter­ro­rista», pois os in­te­resses de classe que de era ins­tru­mento «afron­tavam não só os in­te­resses da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores, mas também dos pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores, da pe­quena bur­guesia ur­bana e sec­tores da média bur­guesia e da in­te­lec­tu­a­li­dade». Rui Mota lem­brou ainda que já na­quela al­tura era pa­tri­mónio do mo­vi­mento pro­gres­sista por­tu­guês de que o re­gime «só se man­tinha pela força, e por isso só pela força po­deria ser der­ru­bado».

Mas a di­ta­dura era, também, «dos mo­no­pó­lios», re­sul­tantes, como sa­li­entou Rui Mota, não da «livre con­cor­rência ca­pi­ta­lista» mas da «uti­li­zação do poder co­er­civo do Es­tado para es­magar a pe­quena e média bur­gue­sias e re­primir o mo­vi­mento ope­rário, ao ser­viço das forças re­ac­ci­o­ná­rias do grande ca­pital e dos grandes agrá­rios». O con­trolo da eco­nomia na­ci­onal por um «pu­nhado de grandes fa­mí­lias» levou Álvaro Cu­nhal a afirmar que «não há hoje banco que não tenha fortes po­si­ções na in­dús­tria» e «não há grande in­dus­trial que não tenha po­si­ções nos bancos». Os pró­prios agrá­rios, pros­se­guia, «se tor­naram in­dus­triais e ban­queiros e vice-versa».

A as­so­ci­ação dos mo­no­pó­lios ao im­pe­ri­a­lismo es­tran­geiro era outra ca­rac­te­rís­tica, já que a de­pen­dência era «im­pres­si­o­nante»: es­crevia Álvaro Cu­nhal que ao «es­tran­geiro se paga a luz e a lâm­pada que nos ilu­mina, o pe­tróleo que con­su­mimos, o sabão e o sa­bo­nete com que nos la­vamos, a mar­ga­rina que co­memos, o leite con­den­sado ou re­fri­ge­rante que be­bemos, muitas por­tu­gue­sís­simas sar­di­nhas que pe­tis­camos, a louça de que nos ser­vimos, o fós­foro que acen­demos, o ci­garro que fu­mamos, o bi­lhete de eléc­trico em que nos trans­por­tamos, o te­le­fo­nema que fa­zemos».



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