<i>O amor ao povo Líbio</i>

Ângelo Alves

No quadro de uma grave si­tu­ação in­terna na Líbia mar­cada pela re­pressão e pelo en­fren­ta­mento entre opo­si­tores e apoi­antes do re­gime de Kha­dafi, a NATO e as suas prin­ci­pais po­tên­cias pa­recem querer lançar-se numa nova aven­tura mi­litar contra o país que detém as mai­ores re­servas de pe­tróleo de África.

Os si­nais são muitos. Os EUA con­cen­tram forças mi­li­tares na­vais nas costas lí­bias e as grandes po­tên­cias da NATO anun­ciam o envio de po­de­rosos meios mi­li­tares com o ar­gu­mento do res­gate. A NATO reúne e deixa no ar a pos­si­bi­li­dade da in­ter­venção mi­litar. Sar­kozy e David Ca­meron lançam o mote da «ur­gência de uma acção eu­ro­peia» e EUA e Grã-Bre­tanha avançam com a ameaça de ins­tau­ração de uma área de ex­clusão aérea na Líbia. O Washington Post anuncia que a Ad­mi­nis­tração Obama está a ana­lisar me­didas mi­li­tares para in­tervir. Hil­lary Clinton afirma que os EUA «estão em con­tacto com nu­me­rosos lí­bios que tentam or­ga­nizar-se no Leste [da Líbia]»[1] e anuncia que a sua Ad­mi­nis­tração está dis­posta a fa­cultar «qual­quer tipo de ajuda» aos opo­si­tores de Kadhafi[2].

O im­pe­ri­a­lismo pre­para-se para 'sal­var' o povo Líbio do 'di­tador louco' e en­tre­tanto ocultam-se no­tí­cias como a que dá conta que «opo­si­tores e par­ti­dá­rios de Kadhafi opõem-se à in­ter­venção es­tran­geira»[3]. O dis­curso da 'in­ter­venção hu­ma­ni­tá­ria' volta às pa­ran­gonas e é pro­cla­mado por aqueles que or­de­naram à força aérea da NATO o bom­bar­de­a­mento de civis no Afe­ga­nistão cau­sando 65 mortes. É 'ven­dido' por aqueles que ven­deram a Kadhafi os pro­gramas de ajuste do FMI e que estão na origem da de­te­ri­o­ração da si­tu­ação so­cial no país; por aqueles que são cúm­plices dos su­ces­sivos bom­bar­de­a­mentos a civis na Faixa de Gaza pela força aérea is­ra­e­lita; por aqueles que fingem não saber das mortes dos ma­ni­fes­tantes no Bah­rein e no Iémen e or­denam a vi­o­lenta re­pressão de ma­ni­fes­ta­ções no Iraque ou anun­ciam que afinal Guan­ta­namo não vai fe­char.

Kadhafi está en­ga­nado quando diz que o seu povo o ama, e uma das ra­zões re­side no facto de ao abraçar a «guerra contra o ter­ro­rismo» ter vol­tado as costas ao seu pró­prio povo. O ver­da­deiro amor ao povo Líbio passa neste mo­mento por im­pedir mais um crime 'hu­ma­ni­tá­rio' do im­pe­ri­a­lismo e afirmar sem ti­bi­ezas que lhe ca­berá de­cidir do seu pró­prio des­tino.



[1] La Jor­nada – 28/​02/​11

[2] idem

[3] Te­lesur - 01/​03/​11

 



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