Novas greves nos transportes

A luta não pára

Contra cortes nos sa­lá­rios e nos di­reitos, pelo cum­pri­mento da con­tra­tação co­lec­tiva e contra pri­va­ti­za­ções, na pró­xima se­mana con­vergem vá­rias lutas dos tra­ba­lha­dores dos trans­portes.

As me­didas do Go­verno geram justa e forte con­tes­tação

A par da mo­bi­li­zação para a grande ma­ni­fes­tação na­ci­onal do pró­ximo sá­bado, os tra­ba­lha­dores e as suas or­ga­ni­za­ções re­pre­sen­ta­tivas per­sistem na luta. An­te­ontem es­ti­veram em greve, du­rante a manhã, com adesão pra­ti­ca­mente total e pa­ra­li­sação da cir­cu­lação e da ac­ti­vi­dade da em­presa, os tra­ba­lha­dores do Me­tro­po­li­tano de Lisboa. Pros­segue até final de Abril a greve ao tra­balho ex­tra­or­di­nário, ini­ciada há um mês pelos fer­ro­viá­rios da CP e da CP Carga.

Para o Sin­di­cato Na­ci­onal dos Tra­ba­lha­dores do Sector Fer­ro­viário, o Go­verno não per­mite que a ad­mi­nis­tração da CP dê cum­pri­mento ao acordo de em­presa, como fez com a Refer, a TAP ou a Carris, porque pre­tende apro­veitar-se do ar­ras­ta­mento do con­flito para des­gastar as em­presas fer­ro­viá­rias e usar a si­tu­ação para jus­ti­ficar os seus pro­jectos de maior des­mem­bra­mento e pri­va­ti­zação. O co­men­tário do SNTSF/​CGTP-IN surge num co­mu­ni­cado em que re­produz a po­sição ex­pressa pela ad­mi­nis­tração da CP, numa reu­nião com o sin­di­cato, se­gunda-feira: a apli­cação da le­gis­lação da Função Pú­blica no que con­cerne ao tra­balho ex­tra­or­di­nário, tra­balho em dia de des­canso, tra­balho em dia fe­riado e tra­balho noc­turno, co­lide com a or­ga­ni­zação da ac­ti­vi­dade na CP e isso já foi trans­mi­tido ao Go­verno, do qual se con­tinua a aguardar res­posta.

O sin­di­cato afirma que «não lhe fa­remos a von­tade» e que «vamos con­ti­nuar a luta em todas as frentes e também na de­núncia pú­blica destas si­tu­a­ções».

É nesta linha de pri­va­ti­za­ções que o sin­di­cato vê o acordo com a Si­e­mens, para cons­ti­tuir com a EMEF um agru­pa­mento com­ple­mentar de em­presas. «Aquilo que está a ser feito não se en­quadra na in­for­mação ini­cial que era dada», pois «não se ve­ri­fi­caram os in­ves­ti­mentos anun­ci­ados» e, em vez da ocu­pação de 60 tra­ba­lha­dores da EMEF, ocorrem pres­sões e ame­aças para que pes­soal com con­tratos pre­cá­rios res­cinda com a EMEF e se ins­creva na Si­emef, para con­ti­nu­arem com o mesmo tipo de vín­culo.

Por estes mo­tivos, o sin­di­cato e a Co­missão de Tra­ba­lha­dores da EMEF vão re­a­lizar uma acção de luta, in­cluindo uma vi­gília frente ao Mi­nis­tério da Eco­nomia, no dia 21, se­gunda-feira.

Para dia 23, quarta-feira, as es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores da So­flusa e da Trans­tejo con­vo­caram uma greve de três horas por turno, contra o roubo nos sa­lá­rios. Nesse dia inicia-se uma greve ao tra­balho ex­tra­or­di­nário e às des­lo­ca­ções em ser­viço, que de­verá pro­longar-se por dois meses. Na So­flusa já foi de­ci­dido em ple­nário, an­te­ontem, re­a­lizar mais três dias de greve, de duas horas por turno, no início de Abril.

O SNTSF e ou­tras or­ga­ni­za­ções re­pre­sen­ta­tivas en­tre­garam um pré-aviso de greve para a CP, a CP Carga e a Refer, du­rante todo o dia 25, sexta-feira. Os re­vi­sores, anun­ciou o SFRCI, também param dia 25, en­quanto os ma­qui­nistas fazem greve dia 23, das 5 às 9 horas. Os mo­to­ristas da Carris vão re­cusar horas ex­tra­or­di­ná­rias de 25 de Março a 8 de Abril, pelo cor­recto pa­ga­mento do tra­balho extra.

 

Uma «guerra» dos pa­trões

«As en­ti­dades pa­tro­nais do sector de trans­portes ro­do­viá­rios de mer­ca­do­rias não podem “usar” os

mo­to­ristas na sua pa­ra­li­sação», pro­testou a Fec­trans/​CGTP-IN. Num co­mu­ni­cado a pro­pó­sito da «pa­ra­li­sação» das em­presas (e an­te­rior ao acordo com o Go­verno anun­ciado an­te­ontem à noite), a fe­de­ração alertou os tra­ba­lha­dores para que «esta luta não só não é sua, como é contra si pró­prios, pois um dos ob­jec­tivos é forçar o Go­verno a aceitar as al­te­ra­ções à le­gis­lação la­boral», pro­cu­rando, em con­creto, «obter me­xidas nos ho­rá­rios de tra­balho e tornar legal o que hoje é ilegal».

Ci­tando o exemplo do trans­porte in­ter­na­ci­onal, a Fec­trans afirma que «os mo­to­ristas hoje levam menos di­nheiro para casa do que há 10 anos, de­vido ao blo­queio à ne­go­ci­ação co­lec­tiva por parte do pa­tro­nato, ao mesmo tempo que os ritmos de tra­balho au­mentam assim como as cargas ho­rá­rias».

Em vez das leis la­bo­rais, é a con­cor­rência des­leal pro­mo­vida pelas em­presas que cons­titui um pro­blema no sector, e seria pos­sível acabar com tal con­cor­rência se ficar acor­dado no con­trato co­lec­tivo um sa­lário digno para o mo­to­rista – como a fe­de­ração tem pro­posto à as­so­ci­ação pa­tronal An­tram.

Neste con­texto, «quem tem fortes ra­zões para lutar são os mo­to­ristas», pois «esta prá­tica do pa­tro­nato e do Go­verno só pode ter um ob­jec­tivo: fazer do mo­to­rista a “peça” mais ba­rata do ca­mião». A fe­de­ração avisa desde já que, «caso haja por parte do Go­verno al­te­ra­ções na le­gis­lação la­boral, no sen­tido de a tornar mais gra­vosa para os mo­to­ristas, e o pa­tro­nato con­tinue a negar um sa­lário digno, não resta aos tra­ba­lha­dores outra al­ter­na­tiva senão de­mons­trarem também a sua força».



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