Re­a­lizou-se no pas­sado dia 24 de Março o pri­meiro de um ciclo de três de­bates pro­mo­vidos pelo Sector In­te­lec­tual de Lisboa do PCP sob o tema Os in­te­lec­tuais e o Par­tido. Os dois pri­meiros in­ter­ve­ni­entes, os pro­fes­sores Paulo Al­meida e Nuno Crato fo­caram em par­ti­cular a fi­gura e a acção cul­tural e cí­vica de Bento de Jesus Ca­raça, des­ta­cando a im­por­tância his­tó­rica e a ac­tu­a­li­dade das suas con­cep­ções acerca da cul­tura e do papel da edu­cação e do en­sino como fac­tores de de­sen­vol­vi­mento in­di­vi­dual, so­cial e de­mo­crá­tico. Foi ainda sa­li­en­tado o papel cen­tral que de­sem­pe­nhou no re­forço e alar­ga­mento dos mo­vi­mentos de uni­dade an­ti­fas­cista, a sua ex­cep­ci­onal ca­pa­ci­dade de es­ta­be­lecer con­ver­gên­cias e de con­gregar per­so­na­li­dades aliada a firmes po­si­ções de prin­cípio e ide­o­ló­gicas, e o valor e o ca­rácter sin­gular de ini­ci­a­tivas como a Bi­bli­o­teca Cosmos e a Uni­ver­si­dade Po­pular.

Areosa Feio re­feriu o seu tes­te­munho pes­soal da ac­ti­vi­dade po­lí­tica de Bento de Jesus Ca­raça como mi­li­tante co­mu­nista e como fi­gura cen­tral dos grandes mo­vi­mentos de uni­dade de­sen­vol­vidos na época, no­me­a­da­mente o MUD e o MUNAF e a sua forte li­gação e in­cen­tivo ao MUD Ju­venil. Su­bli­nhou a im­por­tância da mo­bi­li­zação de um largo con­junto de in­te­lec­tuais, na sua mai­oria mi­li­tantes do PCP, em ta­refas de di­vul­gação e re­sis­tência cul­tural, na di­na­mi­zação de co­lec­ti­vi­dades e bi­bli­o­tecas po­pu­lares, de con­ví­vios, de de­bates, con­fe­rên­cias e lei­turas de textos, ac­ções em que par­ti­ci­pavam, entre tantos ou­tros, ci­en­tistas como Ma­nuel Va­la­dares e Ani­ceto Mon­teiro, es­cri­tores como Alves Redol e So­eiro Pe­reira Gomes, ar­tistas plás­ticos como Júlio Pomar e Vasco da Con­ceição, ar­qui­tectos como João Si­mões e Hu­ertas Lobo, mú­sicos com Fer­nando Lopes-Graça.

Ma­nuel Gusmão lem­brou ou­tros as­pectos desta in­serção e pro­xi­mi­dade, su­bli­nhando que a in­tensa ac­ti­vi­dade de in­te­lec­tuais pro­gres­sistas e o cres­ci­mento da in­fluência do PCP entre os in­te­lec­tuais nesta época é in­dis­so­ciável do de­sen­vol­vi­mento do Par­tido re­sul­tante da re­or­ga­ni­zação dos anos 40/​41, e que ela cor­res­ponde a uma cons­ta­tação mais geral: a de que em todos os pe­ríodos em que cresce e se re­força a acção e a im­plan­tação do Par­tido junto da classe ope­rária se ve­ri­fica igual­mente um re­forço da in­fluência entre os in­te­lec­tuais. Su­bli­nhou a ma­triz ma­te­ri­a­lista e mar­xista do pen­sa­mento de Bento de Jesus Ca­raça, e como ele se in­tegra in­tei­ra­mente no pa­tri­mónio teó­rico do Par­tido, no seu com­bate pela eman­ci­pação in­te­gral dos in­di­ví­duos e da so­ci­e­dade em re­lação a todas as formas de do­mi­nação e de opressão.