O direito a ser informado

Jorge Messias

«O es­tado bur­guês nada mais é do que uma se­gu­rança mútua da classe bur­guesa contra os seus ele­mentos iso­lados, contra a classe ex­plo­rada; uma se­gu­rança que deve tornar-se cada vez mais dis­pen­diosa e au­tó­noma em re­lação à classe bur­guesa... toda a crí­tica deve ser pre­ce­dida pela crí­tica da re­li­gião» – Karl Marx, «Obras com­pletas»

 

Por­tugal não vive apenas uma crise a juntar a ou­tras crises an­te­ri­ores: pisa o li­miar do es­ma­ga­mento, não só do País mas também do povo e das suas con­quistas de­mo­crá­ticas. Aliás, a crise não é só por­tu­guesa: de­saba sobre os es­tados ca­pi­ta­listas do mundo da glo­ba­li­zação e é paga pelos tra­ba­lha­dores e pelas po­pu­la­ções das na­ções mal­ditas que geram os es­cravos e o pe­tróleo. Para além de tudo isto, há guerras e ru­mores de guerras, ofen­sivas per­ma­nentes de in­trigas e de en­ce­na­ções, ma­ni­pu­la­ções fi­nan­ceiras e um fer­vi­lhar cres­cente da in­dig­nação entre os po­bres, os ex­plo­rados e os opri­midos que, to­davia, tardam em en­con­trar formas de or­ga­ni­zação ca­pazes de sa­cu­direm os jugos e pas­sarem à fase das re­vo­lu­ções so­ci­a­listas.

Como se sabe, o ca­pi­ta­lismo é uma gi­gan­tesca má­quina que, por um lado, ori­gina a for­mação de for­tunas pes­soais nunca vistas en­quanto, por outro lado, gera a mi­séria. No meio fica o de­serto onde mi­lhões dos que são hoje po­bres fazem ti­ro­cínio para os mi­se­rá­veis que amanhã serão. É aí que in­cubam as ilu­sões e se pro­duzem os mi­la­gres que ofuscam os que ainda vêem. Onde se aco­to­velam nas cá­te­dras os po­ten­tados e os ge­ne­rais, os bispos e os fei­ti­ceiros, os po­lí­ticos e os ban­queiros – os fa­bri­cantes de ilu­sões. A terra imensa que do­minam é ex­tensa como um con­ti­nente. Apa­ren­te­mente, mal se en­tendem uns aos ou­tros; mas no es­sen­cial, tão bem se dão que têm sa­bido per­ma­necer no poder, só por tro­carem o sen­tido às pa­la­vras ao longo de sé­culos a fio.

É todo este edi­fício que ac­tu­al­mente es­tre­mece. Não apenas como em sa­cu­di­delas an­te­ri­ores. O que se es­boça nos seus ho­ri­zontes é um ver­da­deiro apo­ca­lipse. Como des­truir o tra­balho e au­mentar os lu­cros do ca­pital?

O ca­pi­ta­lismo fa­bricou um monstro que é pre­ciso, en­tre­tanto, ter-se em atenção.

 

Di­nheiros e po­lí­ticas men­ti­rosas

 

Desde o 25 de Abril que as novas ge­ra­ções dos tec­no­cratas e ban­queiros se têm vindo a re­novar cons­tan­te­mente. A «re­vo­lução dos cravos» coin­cidiu, aci­den­tal­mente – sem nada terem a ver um fe­nó­meno e o outro – com o lan­ça­mento de um pro­jecto de Nova Ordem Mun­dial dos grandes ca­pi­ta­listas e da Igreja. Es­pe­ci­a­listas por­tu­gueses foram «lá fora» es­tudar, trou­xeram ori­en­ta­ções se­guras das cen­trais ca­pi­ta­listas e re­ve­laram-se ex­ce­lentes alunos, in­dis­cu­ti­vel­mente dignos de fi­gu­rarem no «pe­lotão da frente» da grande cor­rida da con­cen­tração de meios e re­cursos do ca­pital mun­dial. Agora, têm «amigos» por toda a parte, desde os ór­gãos supra-na­ci­o­nais às so­ci­e­dades mais se­cretas e mais sus­peitas. Para ilu­direm as massas, como es­tra­tégia cen­tral, usam a pa­lavra pre­vi­a­mente ma­ni­pu­lada: são, ao mesmo tempo, amigos e ini­migos dos po­bres; dizem-se e des­dizem-se e usam da du­pli­ci­dade para te­cerem as suas in­trigas. Por outro lado, sabem gerir com sen­tido po­lí­tico os si­lên­cios que in­ten­ci­o­nal­mente cul­tivam.

Todas estas prá­ticas têm «pa­redes-meias» com as tra­di­ções mi­le­nares das te­o­lo­gias an­tigas que fa­ziam a li­gação entre os mitos po­pu­lares, as fi­lo­so­fias do poder e o sagrado das es­cri­turas e as fun­diam de­pois. É esta uma das tác­ticas mais efi­ci­entes do ne­o­ca­pi­ta­lismo para va­lidar ano­ni­ma­mente a ex­plo­ração do homem pelo homem. No que se nota que aqui, como em tudo o mais, (por exemplo, na jus­ti­fi­cação das guerras de con­quista, nos con­flitos so­ciais, nas lutas inter-par­ti­dá­rias, nos ar­ti­fí­cios das es­ta­tís­ticas, nas re­formas da Edu­cação e da Saúde ou na sal­vação mi­ra­cu­losa dos de­sas­tres fi­nan­ceiros), o dedo dos en­sinos je­suítas. Nisto e em tudo onde se exija um pre­texto ide­o­ló­gico que o ca­pi­ta­lismo não possui. O Va­ti­cano é o seu mais va­lioso aliado po­ten­cial, como gi­gan­tesco grupo fi­nan­ceiro em que se trans­formou mas que ainda fun­ciona na pers­pec­tiva de en­ti­dade es­pi­ri­tual. O ca­pi­ta­lismo traz lu­cros fa­bu­losos à Igreja e só esta lhe pode for­necer a «mu­leta» ide­o­ló­gica que con­tinua a ser-lhe ne­ces­sária.

Este campo ope­ra­ci­onal não co­nhece fron­teiras e re­quer es­cla­re­ci­mentos ex­tensos. Daqui, parte uma su­gestão: porque não usar a net para cruzar ques­tões (por exemplo: Va­ti­cano/​FMI/​Grupos Fi­nan­ceiros/​ou ou­tras), sus­citar dú­vidas pes­soais e re­metê-las para esta secção do Avante!?

Aqui fica a pro­posta.     



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