Pagamentos
Veio tudo escarrapachado esta semana no Jornal de Notícias: Paulo Portas, como ministro da Defesa da anterior coligação PSD/CDS, não só terá aceitado pagar 30 milhões de euros a mais pelos submarinos comprados à empresa alemã Forrestal, como aprovou o negócio mesmo depois de a empresa construtora ter reduzido a capacidade operacional dos navios sem, contudo, baixar o preço.
Entalado com perguntas do JN sobre o assunto, Paulo Portas escusou-se a responder e comprometeu-se a «fazer uma declaração» terça ou quarta-feira desta semana.
Trata-se de um embaraço espectável e, decerto, satisfatório para quem lançou este «isco» aos jornais, neste tempo de frenetismo eleitoral onde PS e PSD, batendo-se ambos pela vitória eleitoral no próximo dia 5 de Junho, se desunham a desencavar escândalos atribuíveis ao outro lado. Ora o CDS voltou ao estatuto de apêndice outra vez indispensável ao PSD para se alçar ao poder.
Seja como for, há nova leitura para a sigla escolhida pelo próprio Portas para identificar este partido: o «PP» consignado como «Partido Popular» significa, afinal, os «Pagamentos do Portas».
Compungimentos
Soares dos Santos, presidente do conselho de administração da Jerónimo Martins e, actualmente, o «segundo mais rico de Portugal», foi reverencialmente entrevistado por Fátima Campos Ferreira na RTP-1 e, nessa entrevista, decidiu mostrar-se «preocupado» com a miséria e o desemprego que grassam no País, arrematando com a velha receita de qualquer capitalista: o que é preciso é trabalhar-se mais («dar corda aos sapatos» foi o aforismo de que se socorreu, o que deixou a Fátima prostrada de adoração, se não mesmo de fé).
É claro que não lhe ocorreu «preocupar-se» com os 99 mil euros que recebeu a mais em 2010 do que havia recebido no ano anterior, totalizando um «salário», como administrador, de um milhão e 131 940 euros (isto sem falar dos múltiplos «dividendos» que o alcandoraram a «2.º mais rico»).
E muito menos lhe ocorreu que o seu «salário» de um milhão e cento e trinta e dois mil euros dava para pagar os salários do ano inteiro a 150 ou a 200 trabalhadores das suas próprias empresas, conforme estejamos a falar dos «ordenados de miséria» ou de uma «miséria de ordenados», que tanto parecem afligir este «preocupado» capitalista.
Confirmações
Paulo Jorge Silva, inspector tributário e testemunha no julgamento do «caso BPN», revelou que o ex-presidente do banco, Oliveira Costa, vendeu, em 2001, a Cavaco Silva e à sua filha 250 mil acções da Sociedade Lusa de Negócios a um euro cada, quando as comprara a 2,10 euros. Declarou também não encontrar «qualquer explicação» para esta única operação realizada pelo grupo SLNSGPS a um euro por acção e um prejuízo avultado para Oliveira Costa (275 mil euros).
Mas a «explicação» está na cara! Tudo isto aconteceu em nome da amizade!
Entretanto, como não é admissível um «homem ético» como Cavaco Silva aceitar um favor que arruinava um amigo, resta-nos imputar-lhe a ignorância dos meandros da coisa. Passa a economista manhoso, mas fica uma seriedade em pessoa.