Milhões fazem de Maio a sua bandeira
Massivas movimentações de massas ocorreram em todo o mundo a propósito do Dia Internacional do Trabalhador. A factura da crise apresentada pelo capital foi recusada, e a defesa dos direitos sociais e laborais, de salários e emprego, e de políticas que beneficiem os trabalhadores e o povo foram exigências comuns.
«”Devolvam o futuro roubado, o país e o Estado!”, exigiram os russos»
Na Europa, o destaque para as celebrações do 1.º de Maio vai para a Grécia. Em Atenas e Salónica, as iniciativas sindicais, em especial as realizadas pelo PAME, foram uma contundente resposta às medidas draconianas e ao saque do capital imposto pelo FMI e pela UE. Os trabalhadores rejeitaram a deterioração das condições de vida do povo e manifestaram-se favoráveis à «força popular para mudar o poder», como se lia numa faixa. O protesto terminou frente às embaixadas de França e EUA, sinal da solidariedade dos gregos para com o povo líbio, agredido pelo imperialismo.
Ainda na Grécia, o 1.º de Maio foi aproveitado pelos trabalhadores do Porto do Pireu para iniciarem uma greve contra o plano de privatizações em curso, razão que levou também o sindicato da companhia de electricidade a anunciar, para este mês, uma jornada de paralisação. A 11 de Maio está prevista uma nova greve geral, a segunda desde Janeiro.
Na Rússia, o mais importante acto do 1.º de Maio foi dinamizado pelo Partido Comunista da Federação Russa, que juntou dezenas de milhares de pessoas da cidade e dos subúrbios no centro de Moscovo. «Devolvam o futuro roubado, o País e o Estado!», exigiu-se. Em São Petersburgo, a polícia deteve algumas dezenas de pessoas que tentaram impedir a marcha de apoio aos sindicatos controlados pelo partido Rússia Unida.
Já em Espanha, Madrid Valência ou Barcelona, entre outras cidades do território, foram palco de grandes acções de massas contra a especulação e o desemprego, flagelo que atinge quase cinco milhões de trabalhadores, enquanto que na Alemanha, em França e na Itália, milhões de trabalhadores saíram às ruas contra os recuos civilizacionais e os ataques a quem trabalha, contra a corrupção e pela justiça social e o progresso.
Ainda no Velho Continente, ocorreram comemorações populares do 1.º de Maio, por exemplo, em Londres contra os cortes que o governo pretende aplicar, e em Zurique, onde se exigiu a implementação imediata do salário mínimo.
Povo alerta
Depois de derrubados os regimes de Mubarak e Ben Ali, egípcios e tunisínos encheram as já históricas praças centrais do Cairo e de Tunes para demonstrarem que não aceitam o regresso ao passado recente, afirmando que pretendem avançar para reformas mais profundas que lhes garantam melhores condições de vida e de trabalho.
Em Marrocos, as marchas de Casablanca, Rabat ou Marraquexe, por seu lado, alertaram para o possível aproveitamento pelo regime dos atentados ocorridos na quinta-feira, e sublinharam que tal não pode impedir a implementação das prometidas reformas. «A classe operária condena os actos terroristas», «A classe operária está na vanguarda da luta pela democracia», ou «Abaixo o despotismo», foram algumas das inscrições nas faixas levadas à marcha laboral em Marraquexe.
Já na Turquia, a tradicional marcha até à praça Taksim ocorreu sem incidentes e as centenas de milhares de manifestantes lograram chegar ao local onde há 34 anos dezenas de trabalhadores foram assassinados. Importantes mobilizações de massas ocorreram ainda em Izmir e Ancara.
Na cidade da Praia, em Cabo Verde, os sindicatos saíram à rua para exigir o aumento dos salários e a descida dos preços, já que, afirmam, o poder de compra do povo tem vindo a cair desde 2006, razões idênticas às dos trabalhadores das Filipinas e Taiwan.
No Iémen, o dia do Trabalhador também foi celebrado, com centenas de milhares de iemenitas a aproveitarem a jornada para reiterarem a exigência de demissão do presidente Alí Saleh. Saleh, aliado do imperialismo, tinha-se comprometido a abandonar o poder, mas voltou atrás e agora rejeita o plano do Conselho do Golfo.
Na Indonésia, os trabalhadores marcharam até ao palácio presidencial para exigirem Segurança Social, isto apesar da forte presença policial na capital do país, Jacarta.
A força das massas
Com a revolução cubana a celebrar mais de meio século, milhões de pessoas foram às ruas de Havana defender o carácter socialista da revolução, e na Venezuela, o presidente Hugo Chávez esteve com o povo e os trabalhadores na Avenida Bolívar, em Caracas, depois de uma longa coluna humana ter percorrido algumas das principais avenidas da cidade.
Na Bolívia, o presidente Evo Morales aproveitou o 1.º de Maio para anular um decreto de 1985 que estabelecia o modelo económico do país como de mercado. Morales comprometeu-se ainda a implementar uma a nova lei do trabalho, exigida pela poderosa central sindical boliviana, que realizou iniciativas do Dia Internacional do Trabalhador nas nove regiões do país.
No Brasil, as comemorações conjuntas do 1.º de Maio trouxeram às ruas cerca de 10 milhões de trabalhadores em 200 cidades do país. Uma das reivindicações centrais foi a redução da jornada de trabalho sem perda de salário, ao passo que no Uruguai, o movimento sindical unitário aproveitou a jornada para exigir ao governo que altere ao modelo económico e social do país, uma vez que com a actual matriz é impossível avançar para uma mais justa redistribuição da riqueza.
Maior equidade na hora de partilhar os rendimentos do trabalho reivindicaram, igualmente, os trabalhadores na Guatemala, onde o fim do trabalho infantil e da discriminação das mulheres, bem como o direito à terra espoliada pelos terratenentes e as multinacionais, foram outras das exigências. Na Nicarágua, um mar de gente defendeu o rumo de progresso social empreendido pelo governo do presidente Daniel Ortega e em São Salvador, uma gigantesca manifestação exigiu salários dignos e melhores condições de vida, bem como a equiparação do salário mínimo nos sectores privados e público. «Para continuar a mudança, avancemos com a luta popular», podia ler-se no pano que encabeçava a manifestação.
Já no Peru, os trabalhadores aproveitaram o 1.º de Maio para exigirem a recuperação dos direitos perdidos nas últimas décadas, expressando apoio ao candidato presidencial Ollanta Humala. No fim marcharam até ao monumento ao fundador da CGTP, o comunista José Carlos Mariátegui.
Nas Honduras, os trabalhadores manifestaram-se em Tegucigalpa, capital do país, e noutras cidades para denunciarem o regresso do neoliberalismo pela mão do governo golpista, e exigirem o fim da violência e o regresso da normalidade democrática ao país, ao mesmo tempo que no Equador os trabalhadores marcharam num contexto político marcado pelo apoio ao presidente Rafael Correa, que enfrenta um plebescito crucial este sábado.
No México, a perda do poder de compra, o desemprego e os aumentos dos combustíveis, alimentos e serviços públicos estiveram no centro da revolta de milhares de trabalhadores que marcharam em todo o país, e no Panamá reivindicou-se o aumento geral dos salários e o decréscimo dos preços.
No Japão, os protestos antinucleares estiveram em destaque no 1.º de Maio, especialmente em Tóquio onde o povo exigiu o desmantelamento daqueles complexos energéticos. O Partido Comunista do Japão esteve ao lado desta reivindicação.
Em Seul na Coreia do Sul, os trabalhadores exigiram protecção ao emprego e melhores salários, e nos EUA, em cidades como Nova Iorque, Los Angeles, Seatle, São Francisco, Chicago, Santa Fé, Baltimore, Boston ou Sacramento, entre outras, os trabalhadores, autóctones e imigrantes, recusaram os cortes nos programas sociais impostos pelas administrações central e locais a propósito da crise, exigiram o regresso imediato dos soldados destacados nas guerras de agressão imperialista e defenderam os direitos laborais e em particular a acção e organização sindical.
De salientar, ainda, as grandes movimentações de massas na Colômbia, às quais o regime agora liderado por Juan Manuel Santos respondeu com repressão. Em Bogotá, pelo menos 70 pessoas foram detidas e 30 ficaram feridas no 1.º de Maio. O governo não terá gostado que os trabalhadores rejeitem o Plano de Desenvolvimento e o Tratado de Livre Comércio com os EUA, e, por isso, mandou a polícia intervir. O secretário-geral do Partido Comunista da Colômbia, Jaime Caycedo, escapou ao disparo de uma granada de gás lacrimogéneo, que acabou por atingir um camarada que o acompanhava.