O VOTO CERTO

«O pro­grama comum à troika PS/​PSD/​CDS é o que foi de­ci­dido pela troika FMI/​BCE/​UE»

A três se­manas das elei­ções, no ce­nário som­brio da dra­má­tica si­tu­ação ge­rada por trinta e cinco anos de po­lí­tica de di­reita – que a troika FMI/BCE/UE veio agravar bru­tal­mente – é ne­ces­sário não deixar cair no es­que­ci­mento, em pri­meiro lugar, que há res­pon­sá­veis pela si­tu­ação a que o País chegou e que esses res­pon­sá­veis têm nome: são o PS, o PSD e o CDS/​PP, os quais, ao longo de mais de três dé­cadas, inin­ter­rup­ta­mente, no poder ou dis­far­çados de «opo­sição», têm vindo a exe­cutar ou apoiar essa po­lí­tica de di­reita – e que, agora, aplaudem as me­didas de­cre­tadas pela re­fe­rida troika.

Ne­ces­sário é, igual­mente, as­si­nalar a ânsia com que esses par­tidos pro­curam fugir a essas res­pon­sa­bi­li­dades, sa­cu­dindo a água do ca­pote, acu­sando-se uns aos ou­tros da res­pon­sa­bi­li­dade que é de todos eles.

Re­giste-se, ainda, que neste tempo elei­toral, em que os di­versos par­tidos apre­sentam os seus pro­gramas elei­to­rais, esses três par­tidos – essa troika na­ci­onal – pros­se­guindo a velha farsa das di­ver­gên­cias in­ven­tadas, fingem ter pro­gramas pró­prios e di­fe­rentes, pro­cu­rando es­conder a todo o custo que o pro­grama comum à troika PS/​PSD/​CDS é o que foi de­ci­dido pela troika FMI/BCE/UE, é o pro­grama con­tido no pacto de sub­missão e agressão aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

E esse é um pro­grama brutal, pre­dador, vi­rado contra os in­te­resses de Por­tugal e da imensa mai­oria dos por­tu­gueses – e bem elu­ci­da­tivo do con­teúdo da cha­mada «ajuda» a Por­tugal por parte do grande ca­pital fi­nan­ceiro.

A tal «ajuda» de 78 mil mi­lhões de euros, dos quais 12 mil mi­lhões serão para apoios di­rectos à Banca (que be­ne­fi­ciará, ainda, de ga­ran­tias no valor de 35 mil mi­lhões). A tal «ajuda» sobre a qual Por­tugal terá que pagar de juros, no total, mais de 30 mil mi­lhões de euros. A tal «ajuda» que, à se­me­lhança do que acon­teceu na Grécia e na Ir­landa, não só não re­sol­verá como agra­vará todos os graves pro­blemas exis­tentes.

 

Para esta si­tu­ação e para este pro­grama há uma al­ter­na­tiva, pa­tente nas pro­postas apre­sen­tadas pelo PCP, pro­postas as­sentes no seu co­nhe­ci­mento pro­fundo da re­a­li­dade na­ci­onal e na sua ha­bi­tual pos­tura de in­tran­si­gente de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País – pro­postas que, por isso mesmo, são não apenas fun­da­men­tadas, sé­rias e exequí­veis, mas de ne­ces­sária e ur­gente apli­cação.

Com efeito, como o PCP propõe no seu Com­pro­misso Elei­toral – que, como afirmou o Se­cre­tário-geral do Par­tido, Je­ró­nimo de Sousa, «não é um com­pro­misso com a Banca nem com o grande ca­pital na­ci­onal ou es­tran­geiro, mas com os tra­ba­lha­dores, o povo e o País» – a saída do afun­da­mento pro­vo­cado pela po­lí­tica de di­reita e, agora, pelas me­didas de­cre­tadas pela fa­mi­ge­rada troika, passa, de­sig­na­da­mente, pela re­ne­go­ci­ação da dí­vida e pelo re­di­rec­ci­o­na­mento das par­ti­ci­pa­ções de en­ti­dades pú­blicas em fundos es­tran­geiros para a compra da dí­vida so­be­rana; por pôr Por­tugal a pro­duzir, cri­ando mais em­prego, res­pei­tando e es­ti­mu­lando os di­reitos so­ciais e la­bo­rais, au­men­tando a ri­queza na­ci­onal e dis­tri­buindo jus­ta­mente essa ri­queza – sempre tendo como re­fe­rên­cias bá­sicas cru­ciais a de­fesa da so­be­rania e da in­de­pen­dência na­ci­onal, da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa e do re­gime de­mo­crá­tico.

E passa, con­se­quen­te­mente, pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita – que nunca é de­mais de­nun­ciar como uma po­lí­tica an­ti­pa­trió­tica, an­ti­de­mo­crá­tica e an­ti­po­pular, ao ser­viço dos in­te­resses ex­clu­sivos dos grandes grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros – e pela im­ple­men­tação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, ao ser­viço dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo, dessa imensa mai­oria de por­tu­gueses que tem sido o alvo prin­cipal da po­lí­tica dos go­vernos que há trinta e cinco anos fla­gelam Por­tugal.

 

Na cons­trução dessa al­ter­na­tiva ne­ces­sária, os tra­ba­lha­dores e o povo têm um papel de­ci­sivo e a luta de massas apre­senta-se como ca­minho pri­mor­dial para lá chegar.

Su­blinhe-se a im­por­tância das grandes jor­nadas de luta le­vadas a cabo pelos tra­ba­lha­dores ao longo dos úl­timos meses – que terão con­ti­nui­dade ime­diata nas ma­ni­fes­ta­ções de 19 de Maio, em Lisboa e no Porto – e re­giste-se que, a par da luta dos tra­ba­lha­dores, as elei­ções de 5 de Junho cons­ti­tuem uma opor­tu­ni­dade para dar mais força à luta e que os seus re­sul­tados po­derão vir a tra­duzir-se num con­tri­buto re­le­vante para a der­rota do pacto da sub­missão e para um passo em frente na cri­ação das con­di­ções ne­ces­sá­rias para a im­ple­men­tação da po­lí­tica al­ter­na­tiva e para a cons­trução da al­ter­na­tiva po­lí­tica.

Na ver­dade, muita coisa de­pende da cor­re­lação de forças saída destas elei­ções. Daí a im­por­tância de­ci­siva do au­mento da vo­tação na CDU.

Daí, por­tanto e igual­mente, a im­por­tância de­ci­siva do en­vol­vi­mento in­tenso na ba­talha elei­toral do co­lec­tivo par­ti­dário co­mu­nista, dos mem­bros do PEV e da ID, de todos os ac­ti­vistas da CDU, es­cla­re­cendo e mo­bi­li­zando para o voto certo, de­mons­trando que são muitas e fortes as ra­zões para o voto na CDU: para o voto em quem não apenas não tem res­pon­sa­bi­li­dades na dra­má­tica si­tu­ação exis­tente, mas se bateu sempre, ao longo desse tempo, contra a po­lí­tica de de­sastre na­ci­onal que con­duziu a essa si­tu­ação; para o voto em quem não apenas não aceita este pacto de sub­missão mas não de­siste de lutar contra ele, glo­bal­mente, e contra cada uma das suas me­didas con­cretas; para o voto em quem não apenas não aceita esta po­lí­tica de afun­da­mento na­ci­onal, mas lhe con­trapõe um novo rumo para Por­tugal; para o voto em quem, se­gu­ra­mente, o uti­li­zará para am­pliar e in­ten­si­ficar a luta e impor a al­ter­na­tiva.