Fortunas

O Pú­blico puxou para 1.ª pá­gina a no­tícia de que «Por­tugal perdeu  300 mi­li­o­ná­rios no ano pas­sado», es­pe­ci­fi­cando que «mi­li­o­ná­rios são pes­soas com uma for­tuna lí­quida igual ou su­pe­rior a um mi­lhão de dó­lares (700 mil euros)» e con­ta­bi­li­zando 10 700 desses ven­tu­tosos mi­li­o­ná­rios «contra» os 11 000 do ano an­te­rior.

Es­tra­te­gi­ca­mente, a no­tícia faz também saber que «em 2010 a for­tuna dos mais ricos do mundo cresceu 9,4%, mas em Por­tugal a ten­dência foi con­trária», dei­xando assim a ideia de que a fa­mosa «crise» também «atingiu os mais ricos» no nosso país.

A no­tícia, con­tudo, não es­cla­receu que entre esses 10 700 mi­li­o­ná­rios re­gis­tados no nosso país há vá­rios deles (o Amorim das cor­tiças e o Bel­miro dos su­per­mer­cados são apenas dois exem­plos) que viram as suas for­tunas subir no mesmo ran­king, a par de muitos ou­tros que detêm o poder na banca e nos grandes grupos eco­nó­micos, pelo que apro­veitar o facto de o nú­mero de mi­li­o­ná­rios ter des­cido para dar a ideia de que a acu­mu­lação da ri­queza em pri­vados também desceu, não passa de burla gros­seira.

Além disso, os 300 mi­li­o­ná­rios que Por­tugal «perdeu» o ano pas­sado são apenas me­tade dos 600 que «con­quis­tara» no ano an­te­rior, o que des­dra­ma­tiza a «perda» e in­dica que os mi­li­o­ná­rios cá do burgo andam, afinal, de vento em popa e afi­na­dís­simos com os «cres­ci­mentos mun­diais» da ac­tu­a­li­dade...

 

Fugas

 

Por falar em mi­lo­ná­rios, foi também no­tícia de 1.ª pá­gina no Jornal de No­tí­cias (e em man­chete) que o es­pe­cu­lador ma­dei­rense Joe Be­rardo (também co­nhe­cido por «in­ves­tidor» em be­ne­vo­lentes cír­culos jor­na­lís­ticos) foi «apa­nhado em falta» pelo fisco e logo em re­lação ao Museu Co­lecção Be­rardo, o tal que José Só­crates pa­tro­cinou pes­so­al­mente e de­sem­bocou na en­trega, de ban­deja, da zona mu­se­o­ló­gica do Centro Cul­tural de Belém ao es­pe­cu­lador, para que nela abri­gasse a sua co­lecção de arte a ex­pensas do Es­tado e por um pe­ríodo mí­nimo de 10 anos.

Consta que a Fun­dação Be­rardo não li­quidou IVA nem re­teve IRS em 2009, quando ad­quiriu obras de arte para o Museu Co­lecção Be­rardo, no total da mó­dica quantia de 129 mil euros.

É claro que o «in­ves­tidor Be­rardo» nega a coisa, como convém – o que, pro­va­verl­mente, aca­bará por fazer ven­ci­mento, nos es­consos  da Jus­tiça por­tu­guesa.

Pa­ra­fra­se­ando Só­crates, deve ser isto que vem «en­ri­quecer o nosso país» e jus­ti­ficar a «con­cessão» do CCB...

 

«Ajudas»

 

Por­tugal vai re­ceber apenas 4,5 mi­lhões de euros de ajuda ali­mentar da União Eu­ro­peia (UE) no pró­ximo ano, o que cor­res­ponde a menos 16 mi­lhões de euros do re­ce­bido este ano e cerca de um quinto do que foi dado em 2010.

A razão destes cortes bru­tais é sim­ples: os go­ver­nantes da União de­ci­diram aplicá-los ao Pro­grama Co­mu­ni­tário de Ajuda Ali­mentar a Ca­ren­ci­ados, o que sig­ni­fi­cará uma re­dução dos ac­tuais 500 mi­lhões de euros, para os 113 mi­lhões de euros pro­gra­mados para o pró­ximo ano.

Faz todo o sen­tido: se a União Eu­ro­peia en­tende que o «au­xílio» a prestar a países mem­bros como a Grécia, Ir­landa e Por­tugal con­siste em os as­fi­xiar, por que não fazer o mesmo aos anó­nimos «ca­ren­ci­ados» da União?



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