Recuos

A his­tória é ori­ginal e exem­plar: o Mi­nis­tério da Edu­cação de­cidiu que, afinal, os pro­fes­sores que vão as­se­gurar os ho­rá­rios ainda por pre­en­cher as­si­narão com as es­colas «um con­trato com a du­ração da ne­ces­si­dade tran­si­tória iden­ti­fi­cada pelo es­ta­be­le­ci­mento de en­sino» (pa­la­vras do Mi­nis­tério).

Onde está a ori­gi­na­li­dade? É que, exac­ta­mente na vés­pera deste co­mu­ni­cado la­bo­ri­o­sa­mente «ofi­cial», o mesmo Mi­nis­tério da Edu­cação con­fir­mava, com igual vigor e de­ter­mi­nação, que estes do­centes iriam ter «con­tratos men­sais».

E onde está a exem­pla­ri­dade? Sim­ples­mente nisto: o único ca­minho para der­rubar esta po­lí­tica de ruína ge­ne­ra­li­zada está na luta.

Como esta, onde os pro­testos de pro­fes­sores e seus sin­di­catos obri­garam este Go­verno de tec­no­cratas pre­sun­çosos e re­ac­ci­o­ná­rios a re­cuar numa de­cisão es­can­da­losa.

 

Ex­tin­ções

 

Aí está, de­vi­da­mente quan­ti­fi­cada, a «pou­pança» que o pri­meiro-mi­nitro anun­ciou ir fazer na «má­quina do Es­tado»: foram ex­tintos 1712 cargos su­pe­ri­ores e 137 or­ga­nismos pú­blicos, pou­pando-se com tais «ex­tin­ções» à volta de 100 mi­lhões de euros.

Como, cer­tei­ra­mente, anota Ma­nuel An­tónio Pina no Jornal de No­tí­cias, também José Só­crates eli­minou 1812 cargos di­ri­gentes (por sinal, mais 100 do que os agora anun­ci­ados por Co­elho) e 227 or­ga­nismos pú­blicos (também, por sinal, mais 90 do que os agora anun­ci­ados por Co­elho), sem que daí re­sul­tasse qual­quer «pou­pança» que se visse.

O que re­sultou – mas isso também não está quan­ti­fi­cado – foi um alu­vião de «co­lo­ca­ções» de amigos e cor­re­la­tivos no ema­ra­nhado da má­quina do Es­tado, a con­sumir à tripa-forra os re­cursos do País.

Tal como o está já, fre­ne­ti­ca­mente, a fazer este bando de bu­ro­cratas que julgam ter-se apos­sado do País através de uma ali­ança ma­nhosa, pin­dé­rica e re­ac­ci­o­nária que os em­po­leirou no poder.

 

«Apoios»

 

Pri­meiro a no­tícia, apre­sen­tada com pro­sápia pelo Go­verno: os apoios do Es­tado à compra de ma­nuais es­co­lares vão au­mentar cerca de 1,2%.

Faz-se as contas e con­clui-se que as fa­mí­lias mais po­bres vão re­ceber, no mí­nimo, mais 30 cên­timos, e, no má­ximo, mais dois euros de com­par­ti­ci­pação na compra dos ma­nuais es­co­lares.

Quando o País já sente no pelo que este Go­verno está ze­lo­sa­mente a exe­cutar o que os se­nhores do di­nheiro lhe mandam fazer – e que visa, es­sen­ci­al­mente, apro­veitar a «maré da crise» para re­duzir a es­com­bros todos os di­reitos so­ciais con­quis­tados com a Re­vo­lução de Abril –, es­perar-se-ia umas pe­quenas «de­ma­go­gias so­ciais» para dis­farçar a ofen­siva brutal em curso.

Ora estes «apoios aos po­bres» nos li­vros es­co­lares po­diam ter uma ex­pressão menos afron­tosa que estes va­lores entre 30 cên­timos e dois euros, e sem grandes dis­pên­cios: bas­tava que o Es­tado ne­go­ci­asse com as edi­toras para, com o peso de largas cen­tenas de mi­lhares de ma­nuais es­co­lares em causa, obter apoios subs­tan­tivos dessas mesmas edi­toras.

Seria uma pe­chincha e o Go­verno fazia fi­gura nos tais «apoios aos po­bres».

Mas, para isso, era pre­ciso que este Go­verno ti­vesse um pingo da tal «cons­ci­ência so­cial» que tanto apregoa.

Mas nem isso tem.



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