Congresso de luta
Persistir na unidade e luta dos trabalhadores, exigir a reindustrialização do País e alcançar uma mudança política que valorize o trabalho com direitos foram preocupações que marcaram o 2.º Congresso da Fiequimetal.
O sucesso da luta é construído com trabalho intenso
Sob o lema «Valorizar o trabalho! Desenvolver o sector produtivo! Melhores salários! Trabalho com direitos!», o congresso reuniu na sexta-feira, dia 21, na Filarmónica Alverquense, mais de 350 delegados, em representação dos nove sindicatos que integram a maior estrutura do movimento sindical unitário na indústria (que passa agora a denominar-se Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas).
Ao congresso assistiram também algumas dezenas de convidados, incluindo representantes estrangeiros de dezena e meia de organizações. Não vimos por lá outra comunicação social.
Este foi «um congresso de luta, virado para a frente, um congresso que deposita na Direcção Nacional agora eleita um Programa de Acção, um conjunto de orientações e uma Proclamação, que são as orientações seguras para o rumo do muito trabalho que temos a desenvolver, desde já, a tarefa prioritária que é dar um grande contributo para o êxito da greve geral de 24 de Novembro» – salientou, no encerramento, o coordenador da Fiequimetal. João Silva, que faz parte da Comissão Executiva da CGTP-IN, viu no congresso a demonstração de «uma confiança inabalável em que vamos continuar a luta e vamos vencê-la, com esta força que daqui emana e que corresponde à força dos trabalhadores que nós representamos», o que foi sublinhado pelos aplausos dos delegados e pela palavra de ordem mais gritada no auditório: «A luta continua!»
Saudada com entusiasmo em praticamente todas as intervenções – e foram proferidas mais de três dezenas –, a decisão da CGTP-IN de convocar greve geral para 24 de Novembro ocupou boa parte da intervenção do Secretário-geral da central, no final dos trabalhos. Manuel Carvalho da Silva começou por dar nota dos plenários nacionais de trabalhadores dos transportes e da Administração Pública, em que tinha participado, para realçar a importância da luta nestes sectores. Confrontados com «um ataque violentíssimo», os trabalhadores estão a mobilizar para uma forte resposta, em defesa dos salários, dos postos de trabalho e dos serviços públicos. Tal resposta é também importante para o sucesso da luta geral, notou Carvalho da Silva, acentuando a necessidade de promover a solidariedade de quem trabalha noutras áreas e, em geral, da população durante as greves e outras acções já decididas.
Sendo contra o aumento da exploração e contra o empobrecimento, a greve geral é também por um Portugal desenvolvido e soberano e pelo futuro do País. Conta com «uma importante base de unidade sindical», assente «num consenso total entre os activistas da CGTP-IN, numa determinação total para fazer a greve» e, por outro lado, acrescentou o dirigente, «também é positivo que a UGT tenha tomado por unanimidade a decisão de convergir para esta greve». Apesar da justificada confiança, ressalvou que a greve geral «tem que ser construída» e o seu êxito «vai depender do nosso trabalho» de esclarecimento, informação e mobilização.
Unanimidade
Nas votações dos vários documentos não houve votos contra e na eleição da Direcção Nacional, com uma única lista candidata, não houve votos nulos.
Por maioria, com duas abstenções, foram aprovadas alterações pontuais aos Estatutos. Por unanimidade, foram aprovados o Programa de Acção, uma Proclamação, uma moção sobre o sector empresarial do Estado e contra a política de privatizações. Uma moção sobre o reforço da organização sindical foi aprovada com uma abstenção. A este propósito, João Silva disse, na intervenção de encerramento:
«Tivemos um congresso de unanimidade, não de unanimismos. É uma unanimidade que corresponde ao sentimento e à vontade dos trabalhadores, uma unanimidade revolucionária, porque é ela que nos permite sairmos daqui com uma enorme coesão e uma enorme força para concretizar as orientações.»
Do lado certo
Representando trabalhadores de importantes subsectores da indústria, vários delegados se referiram ao processo de destruição da produção nacional, que acompanhou a política de direita dos últimos 35 anos em Portugal. Comentando quem vem agora, mais uma vez, dizer que a greve geral representará um prejuízo para a economia, Carvalho da Silva recordou outros prejuízos, bem mais graves, e respectivas responsabilidades:
«Não foram os trabalhadores nem a sua luta quem destruiu o sector produtivo. Nós lutámos contra essa destruição e levámos catalogações de conservadores e de não percebermos a modernidade. Nós estivemos do lado certo e não do lado do desastre.
«Não foram os trabalhadores e as suas organizações quem andou a reclamar que os roubos privados – os desvios do BPN e outros, que são casos de polícia e de justiça – passassem para dívidas inscritas no Orçamento do Estado, para o povo pagar.
«Não foram os trabalhadores e o povo quem provocou o desvio de milhares de milhões de euros dos esquemas das parcerias público-privadas e da multiplicação de administrações nas empresas para servir clientelas. Não foram os trabalhadores e o povo quem provocou o aumento da economia clandestina, a fraude, a evasão e a corrupção.»