O dia das surpresas

Margarida Botelho

Já se es­pe­rava que a ope­ração ide­o­ló­gica para pro­curar en­fra­quecer a adesão à greve geral de 24 de No­vembro fosse brutal. Go­verno, PS, pa­trões, o ha­bi­tual coro de co­men­ta­dores e es­pe­ci­a­listas, re­por­ta­gens es­tu­dadas ao mi­lí­metro, con­jugam-se numa enorme ope­ração de chan­tagem que pro­cura li­mitar a li­ber­dade de pen­sa­mento e de acção de todos e de cada tra­ba­lhador.

Na te­le­visão e nos jor­nais su­cedem-se os ar­gu­mentos «ci­en­tí­ficos» para não se fazer a greve: custa di­nheiro ao país, não re­solve nada, só pre­ju­dica ou­tros tra­ba­lha­dores e utentes, a troika e os mer­cados não gostam, etc.

Nos lo­cais de tra­balho a pressão cresce: as ame­aças – mais ve­ladas nuns casos, mais es­ca­brosas nou­tros –, as al­te­ra­ções de es­calas e turnos para que dia 24 fi­quem mais ex­postos os tra­ba­lha­dores mais vul­ne­rá­veis, até ar­tigos nos jor­nais de gente a de­clarar que não faz greve. É o caso de 31 pes­soas que as­sinam como «qua­dros da Metro do Porto, SA», que as­sinam um ar­tigo de opi­nião no Pú­blico com o es­cla­re­cedor tí­tulo «Metro do Porto: oito ra­zões para não fazer greve». Não é aqui o es­paço para des­montar o ar­tigo, mas fica o re­gisto de até onde pode chegar o lambe-bo­tismo.

E no en­tanto, nas em­presas e nos lo­cais de tra­balho, cons­trói-se uma enorme adesão à greve geral. Em ple­ná­rios, co­mu­ni­cados, con­tactos in­di­vi­duais, con­versas na linha, na pausa, no bal­neário, no ca­minho de casa, nos es­paços de con­vívio, em casa, são mi­lhões os tra­ba­lha­dores que estão neste mo­mento a de­cidir o que fazer a 24 de No­vembro. Mi­lhões que fazem contas ao dia de sa­lário per­dido, e nal­guns casos ao prémio que a ar­bi­tra­ri­e­dade pa­tronal ten­tará tirar e que faz tanta falta, mi­lhões que pensam no seu posto de tra­balho e na chan­tagem de que são ví­timas, mi­lhões que se in­ter­rogam até onde será esta gente capaz de ir para impor mais ex­plo­ração. Mi­lhões que, contra todas as pres­sões, sentem na pele que já chega, que é pre­ciso dar uma res­posta de uni­dade ao brutal saque a que o País está su­jeito, que é pre­ciso mos­trar que es­tamos dis­postos a lutar pelo em­prego, pelo sa­lário, por ho­rá­rios dignos, por uma vida digna, por um país com fu­turo.



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