A fuga de Caxias foi há 50 anos
Dos episódios que marcaram a heróica resistência dos comunistas à ditadura fascista, as fugas das prisões encontram-se ente os mais notáveis. Em primeiro lugar, porque os comunistas, ao evadir-se, faziam-no para continuar, cá fora, a luta contra o fascismo, correndo o risco (tantas vezes concretizado) de sofrerem uma nova prisão; em segundo lugar, pelo que essas fugas revelam de persistência, coragem e organização. A fuga de Caxias é disto um excelente exemplo.
Quando na manhã do dia 4 de Dezembro de 1961, oito dirigentes e militantes do PCP – Francisco Miguel, José Magro e Guilherme da Costa Carvalho, do Comité Central, e António Gervásio, Domingos Abrantes, Ilídio Esteves, António Tereso e Rolando Verdial, que acabaria mais tarde por trair o Partido – escaparam em alguns instantes do Forte de Caxias num carro blindado, tinham atrás de si um longo tempo de preparação, durante o qual houve que avaliar possibilidades e riscos e prever o imprevisível. Muitos planos foram traçados e quase outros tantos acabariam por cair por terra. Até àquele que acabaria por devolver os oito comunistas à liberdade.
Juntamente com José Magro, o grande dinamizador da fuga, coube a António Tereso um papel fundamental na sua preparação: fazendo-se passar por «rachado», ganhando a confiança dos carcereiros, foi ele que descobriu o carro blindado e o preparou; foi ele que sabotou os restantes automóveis de forma a evitar eventuais perseguições; e foi também ele que conduziu o carro blindado, até o abandonar em Lisboa, depois de deixar em segurança os restantes camaradas.
A audácia da fuga e a rapidez com que tudo se passou deixou os guardas que a ela assistiram sem capacidade de reacção, pelo menos quando esta poderia fazer alguma diferença. À hora do recreio dos presos, um carro, conduzido pelo falso «rachado», entra no pátio interior do Forte, colocando-se entre um grupo de presos que jogava – ou fingia jogar – com uma bola. Os presos cercam o veículo e ao grito de Golo! entram no carro, que arranca em direcção ao portão principal, que não resiste ao embate. Poucos segundos depois, os oito fugitivos estão já fora da prisão em direcção a Lisboa, sob os disparos, tardios e inúteis, dos guardas e dos polícias.
O Avante! da primeira quinzena de Dezembro considerou esta fuga uma «importante vitória do Partido e das forças democráticas e um sério revés para o fascismo e todo o seu odioso aparelho repressivo». Destacava ainda, mais adiante, que a evasão desses oito militantes constituía um «importante reforço das fileiras do Partido e permitirá intensificar a luta do povo português». Os próprios fugitivos, numa saudação publicada na primeira página desse mesmo Avante!, salientaram que a «vontade indómita de prosseguir a luta pelos nossos ideais e pela libertação de Portugal da tirania fascista foram as razões profundas que nos levaram a não hesitar em arriscar a vida para efectuar esta evasão».
Não passou muito tempo até que se confirmassem estas palavras: José Magro teve um papel destacado nas grandes jornadas do 1.º de Maio de 1962 em Lisboa, enquanto que António Gervásio foi um dos principais organizadores da luta vitoriosa dos operários agrícolas do Sul do País, que no ano de 1962 conquistaram a jornada diária de oito horas.