Resistir é via única
«A luta é mesmo a nossa única arma e ela vai continuar», realçou José Manuel Oliveira, coordenador da Fectrans/CGTP-IN, anteontem à tarde, pouco antes da aprovação de uma semana de greves, a realizar em Janeiro.
Só há «investimento» em rescisões de contratos
Várias centenas de trabalhadores de empresas públicas de transportes e comunicações manifestaram-se anteontem à tarde, em Lisboa, contra as medidas do Governo para o sector e a política que está expressa no «plano estratégico de transportes». Respondendo ao apelo da federação e dos sindicatos filiados, a que se juntaram outras estruturas, como comissões de trabalhadores e sindicatos que não integram a CGTP-IN, os trabalhadores da CP, da Carris, do Metro, dos CTT, da Transtejo e da Soflusa começaram por concentrar-se no Terreiro do Paço, frente ao Ministério das Finanças, onde lembraram a grande manifestação de 20 de Outubro, a forte greve de 8 de Novembro e o contributo do sector para o sucesso da greve geral de 24 de Novembro, datas que constituem marcos visíveis no caminho de unidade e luta que decidiram seguir.
Carregando bandeiras e faixas, os trabalhadores deslocaram-se depois até à Praça Luís de Camões, depois de atravessarem a baixa, até ao Rossio, para subirem a Rua do Carmo em direcção ao Chiado. Sobre o murmúrio da tarde, fizeram-se ouvir palavras de ordem, como «quem trabalha não desarma, a luta é a nossa arma», «é preciso, é urgente, uma política diferente», «transportes públicos sim, privatizações não», «quem luta sempre alcança, queremos a mudança»... e também gritos de «gatunos» e epítetos semelhantes, dirigidos a mandantes com diversos níveis de responsabilidade no actual estado do sector e do País.
Numa breve intervenção, junto à estátua de Camões, José Manuel Oliveira acusou o Governo por apenas estar a fazer «investimento» em rescisões de contratos e conduzir uma política que visa garantir lucros às empresas privadas, à custa do erário público e de um serviço pior e mais caro. O dirigente da Fectrans e da CGTP-IN repudiou o ataque contra os acordos de empresa, que visa liquidar direitos e reduzir assim a remuneração dos trabalhadores em mais de um terço do valor actual, bem como o pretendido despedimento de alguns milhares de trabalhadores – uma medida que aguardará por enquanto uma concretização das alterações legislativas para despedimentos mais baratos.
José Manuel Oliveira garantiu que, perante a ofensiva do Governo e das suas administrações nas empresas, «não vamos ficar de braços cruzados», pois «a luta é a nossa única arma, para mudar as políticas no sector e para termos um Portugal mais justo e solidário».
Na resolução, lida de seguida por Sérgio Monte, dirigente do Sitra, e que teve aprovação unânime, aponta-se o próximo passo da luta dos trabalhadores: uma semana de luta, com greves, na segunda quinzena de Janeiro. Os contornos concretos serão decididos numa nova reunião de organizações representativas, que terá lugar no dia 4 de Janeiro, às 10 horas, na sede do SNTCT.
Uma delegação deixou a mensagem no Ministério da Horta Seca, ao cuidado de Álvaro Santos Pereira.
Tejo
No dia 6, os trabalhadores da Transtejo e da Soflusa decidiram mandatar os seus sindicatos para avançarem com greves em Janeiro. A decisão foi tomada num plenário, durante a tarde, que provocou a interrupção nas ligações fluviais entre as duas margens do Tejo. Afirmando a determinação de prosseguir o combate contra os objectivos do Governo e o «plano estratégico», os trabalhadores decidiram também participar na acção de anteontem.