O flagelo do desemprego

José Martins

Um pro­fundo re­ac­ci­o­na­rismo e uma cega in­di­fe­rença à dra­má­tica si­tu­ação so­cial que atinge mi­lhões de por­tu­gueses marca a go­ver­nação da di­reita mais re­van­chista.

Go­ver­nação que, sob o falso ar­gu­mento da crise e a en­ce­nação dos «sa­cri­fí­cios para todos», mais não pre­tende do que re­forçar os me­ca­nismos de ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores e as­se­gurar aos grandes grupos eco­nó­micos na­ci­o­nais e es­tran­geiros um pro­cesso ex­tra­or­di­nário de re­pro­dução de mais-va­lias e de acu­mu­lação brutal de ri­queza.

E os efeitos, tão de­vas­ta­dores como pre­o­cu­pantes, estão à vista, com o en­cer­ra­mento de mi­lhares de em­presas e o de­sem­prego ma­ciço e pro­lon­gado, a pe­sada carga tri­bu­tária e o roubo dos sub­sí­dios de fé­rias e de Natal, o brutal corte nos di­reitos so­ciais e o au­mento ga­lo­pante da po­breza e da mi­séria.

E o fla­gelo do de­sem­prego, um dos pro­blemas mais graves que atra­vessam a so­ci­e­dade por­tu­guesa. Um mi­lhão de de­sem­pre­gados. Ho­mens e mu­lheres, ope­rá­rios qua­li­fi­cados, qua­dros mé­dios e su­pe­ri­ores, agri­cul­tores e micro, pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios na ruína, fa­mí­lias in­teiras, mi­lhares de jo­vens – todos eles atin­gidos e ví­timas desta po­lí­tica cor­po­ri­zada pela tríade de agressão, des­truição e caos. O de­sem­prego foi e é o ins­tru­mento mais brutal e de­su­mano uti­li­zado pelo grande ca­pital com vista à in­ten­si­fi­cação da ex­plo­ração do tra­balho as­sa­la­riado, e veja-se o rasto de des­truição e de re­volta le­gí­tima que os nú­meros ofi­ciais do de­sem­prego en­cerram: Por­tugal 14,3%; Grécia, 20%; Ir­landa, 14,4%; Es­panha, 21%, per­fa­zendo, em sen­tido res­trito, um total de sete mi­lhões e 530 mil de­sem­pre­gados.

E de­pois é o ciclo in­fernal da chan­tagem sobre os que têm em­prego e os que não o têm, obri­gando uns e ou­tros a acei­tarem em­pregos menos qua­li­fi­cados, a tra­ba­lharem mais horas, a terem menos di­reitos e a serem pior re­mu­ne­rados.

 

Fra­casso do sis­tema ca­pi­ta­lista

 

O gi­gan­tesco au­mento do de­sem­prego e suas con­sequên­cias dra­má­ticas para a vida dos tra­ba­lha­dores e dos povos re­pre­sentam, in­du­bi­ta­vel­mente, a prova do fra­casso do sis­tema ca­pi­ta­lista e das po­lí­ticas que dele emergem.

Não há me­mória de que os países que re­cor­reram ao FMI (Fundo Mo­ne­tário In­ter­na­ci­onal) te­nham al­guma vez re­gis­tado me­lhoria dos seus dé­fices, bem pelo con­trário, ti­veram sempre agra­va­mentos bru­tais.

A re­ceita do FMI tem sido sempre a mesma, va­ri­ando a du­reza das me­didas em função do ser­vi­lismo dos go­vernos que pedem a sua «ajuda»: li­be­ra­li­zação do con­trolo de im­por­ta­ções; con­trolo dos cré­ditos ban­cá­rios; taxas de juro mais altas; exi­gên­cias quanto às re­servas ban­cá­rias; con­trolo dos dé­fices; di­mi­nuição das des­pesas so­ciais; au­mento dos im­postos; abo­lição dos sub­sí­dios so­ciais; con­trolo dos au­mentos sa­la­riais; pri­va­ti­za­ções e des­man­te­la­mento da po­lí­tica de preços; fa­ci­li­dades ao in­ves­ti­mento es­tran­geiro; perda da so­be­rania dos países.

A «ajuda», em­bora apregoe à boca cheia aus­te­ri­dade, vai em­pur­rando os países que caem na teia a con­sumir mais do que re­cebem. A dí­vida vai au­men­tando. Os países já não pagam a dí­vida mas os juros da dí­vida – na si­tu­ação por­tu­guesa, já ul­tra­passam os oito mil e 800 mi­lhões de euros, re­pre­sen­tando cinco por cento do PIB.

Assim, o FMI e res­tante ca­ma­rilha cum­prem a sua função prin­cipal para que foram cri­ados: apro­fundar a de­pen­dência eco­nó­mica dos países mais fracos e fa­ci­litar a pe­ne­tração e es­bulho por parte das grandes mul­ti­na­ci­o­nais.

 

Tra­ba­lha­dores não se re­signam

 

Mas as contas podem-lhes sair fu­radas. Os tra­ba­lha­dores, hoje, pelo grau de co­nhe­ci­mentos e ins­trução, com­param o roubo a que estão su­jeitos com o au­mento dos lu­cros dos grande grupos eco­nó­micos e não se re­signam, nem aceitam o jogo da men­tira sobre a «aus­te­ri­dade» em nome dos cha­mados «in­te­resses na­ci­o­nais.»

É hoje já evi­dente as di­fi­cul­dades das troikas na­ci­o­nais e es­tran­geiras em co­locar ao nosso País o «nó cor­re­diço». E isto acon­tece porque os tra­ba­lha­dores e cada vez mais am­plas ca­madas da po­pu­lação se lhes opõem com a sua luta e cres­cente força e in­fluência.

Apesar da vasta e com­plexa cam­panha de con­di­ci­o­na­mento e in­to­xi­cação da opi­nião pú­blica, pre­pa­ra­tória e jus­ti­fi­ca­tiva das bru­tais me­didas im­postas pelas troikas es­tran­geira e na­ci­onal, os tra­ba­lha­dores e o País exigem um rumo di­fe­rente e foi isso que afir­maram no dia 11 de Fe­ve­reiro na gi­gan­tesca e po­de­rosa ma­ni­fes­tação do Ter­reiro do Paço.

Face ao jogo da men­tira por parte da di­reita ins­ta­lada no poder, é pre­ciso agir e am­pliar a luta de classes. De­nun­ciar e com­bater esta po­lí­tica de caos e des­truição e criar as con­di­ções para a con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica ver­da­dei­ra­mente pa­trió­tica e de es­querda.

Senão, re­cessão e mi­séria. A di­reita nada tem para dar ao povo por­tu­guês! Só o PCP pode ga­rantir uma po­lí­tica de pro­gresso e de fu­turo para o nosso País.



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