Adenda do PS ao pacto orçamental

Um remendo

O PCP votou contra a re­so­lução do PS para um acto adi­ci­onal sobre cres­ci­mento e em­prego ao tra­tado or­ça­mental eu­ropeu. Trata-se de uma adenda que do seu ponto de vista tem apenas como pro­pó­sito «fingir» que al­tera o pacto or­ça­mental, esse «ver­da­deiro pro­jecto de sub­missão e de li­mi­tação ina­cei­tável de so­be­rania do nosso País».

O de­pu­tado co­mu­nista Ho­nório Novo clas­si­fica mesmo de «re­mendo» esta ini­ci­a­tiva le­gis­la­tiva do PS, a quem acusou de tentar por esta via «sa­cudir a água do ca­pote» pe­rante um pacto or­ça­mental que re­força as con­di­ções de sub­ju­gação do País às po­lí­ticas im­postas pela troika.

Sem di­fi­cul­dade em en­tender-se em torno do di­ploma do PS es­ti­veram os par­tidos da mai­oria go­ver­na­mental, en­cer­rado que foi por ambas as partes mais um ca­pí­tulo dessa re­cor­rente no­vela onde pro­ta­go­nizam fin­gidas dis­cor­dân­cias no aces­sório com as quais pro­curam ca­mu­flar a sua real con­ver­gência nas ques­tões es­sen­ciais.

Ao vi­a­bi­li­zarem o texto do PS, com efeito, PSD e CDS-PP as­se­gu­raram o que dizem ser a ma­nu­tenção do «con­senso eu­ropeu» entre os par­tidos do cha­mado «arco da go­ver­na­bi­li­dade», como tratou de su­bli­nhar o de­pu­tado do PSD An­tónio Ro­dri­gues.

 

Por outro rumo

 

Lei­tura dis­tinta foi a do PCP, que re­jeitou ainda de forma clara o que con­si­derou as «ri­dí­culas al­te­ra­ções» igual­mente for­ma­li­zadas nesta ma­téria pelo PSD e o CDS-PP», su­bli­nhando que a pos­tura de todos os par­tidos que subs­cre­veram o pacto de agressão o que re­vela é «sub­missão, o vergar de ca­beça pe­rante as im­po­si­ções ex­ternas, pe­rante as po­lí­ticas da troika».

É a pos­tura de quem, tudo visto e so­mado, aceita um pacto or­ça­mental que tem em vista criar con­di­ções para que a «nossa po­lí­tica or­ça­mental passe a ser in­te­gral­mente de­ci­dida em Bru­xelas».

Um pacto or­ça­mental que impõe li­mites do dé­fice e da dí­vida, tu­tela tri­bu­nais, fixa multas a aplicar a Por­tugal caso «pise o risco», es­ta­be­lece ori­en­ta­ções e re­formas que visam ex­clu­si­va­mente a eli­mi­nação de di­reitos la­bo­rais e do di­reito ao tra­balho, «ma­nieta e sub­mete a so­be­rania or­ça­mental pre­vista na Cons­ti­tuição» só pode, por isso, me­recer a re­jeição firme e inequí­voca do PCP, se­gundo Ho­nório Novo, que re­a­firmou a ne­ces­si­dade de in­ten­si­ficar a luta por outro ca­minho, «por op­ções es­tra­té­gicas al­ter­na­tivas» que de­fendam acima de tudo a afir­mação de Por­tugal e da sua ca­pa­ci­dade pro­du­tiva, a qua­li­dade dos seus tra­ba­lha­dores e do seu di­reito ina­li­e­nável a uma vida digna e com di­reitos.

«Op­ções e al­ter­na­tivas que de­fendam o equi­lí­brio das contas pú­blicas através do cres­ci­mento da sua eco­nomia, através das suas micro e pe­quenas em­presas, através de um sis­tema fi­nan­ceiro e de uma super-es­tru­tura eco­nó­mica co­lo­cada ao ser­viço do País e do povo e não ao ser­viço de in­te­resses es­tran­geiros», sus­tentou.

 

Sa­cri­fí­cios bru­tais

 

Na vés­pera do de­bate sobre a adenda do PS ao tra­tado or­ça­mental vi­eram a pú­blico pre­vi­sões da OCDE sobre a evo­lução da eco­nomia por­tu­guesa. Ho­nório Novo trouxe-as à co­lação para su­bli­nhar que são a con­fir­mação do «ca­minho de de­sastre a que as po­lí­ticas de in­sa­ni­dade do pacto or­ça­mental e do me­mo­rando da troika estão a con­duzir Por­tugal e os por­tu­gueses».

«Foi a OCDE a fazer ex­plodir as pre­vi­sões do Go­verno», frisou, lem­brando que a re­cessão afinal vai pro­longar-se em 2013, agra­vando-se já em 2012 (ao con­trário do que diz o Go­verno), en­quanto a taxa de de­sem­prego ul­tra­pas­sará também lar­ga­mente as tí­midas pre­vi­sões do Exe­cu­tivo de Passos Co­elho e Paulo Portas (acima de 15 por cento em 2012 e dos 16 por cento em 2013).

«Afinal, apesar da aus­te­ri­dade cega, dos sa­cri­fí­cios bru­tais im­postos aos tra­ba­lha­dores e aos re­for­mados, apesar do em­po­bre­ci­mento a que se quer con­denar o País, é muito pro­vável que nem se­quer as metas do dé­fice pre­vistas pelo Go­verno sejam cum­pridas», ad­vertiu Ho­nório Novo, que ad­mitiu ainda como muito pro­vável que novas me­didas contra os tra­ba­lha­dores, contra o povo, «es­tejam já a ca­minho para serem im­postas ao País».



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