Procissões de encapuçados nas vielas do poder …

Jorge Messias

Um só ca­minho é pra­ti­cável ; e não para mudar a pró­pria Sorte, de­ci­dida de uma vez por todas. Mas, pelo menos, para co­nhecê-la.

O ca­minho é lan­çarmos-nos em cheio ao tra­balho es­pe­rando ter êxito, ga­nhar di­nheiro e pres­tígio, al­cançar su­cesso porque ... quem tem êxito nas ac­ti­vi­dades hu­manas é es­pe­rado no Pa­raíso ; quem falha, falha não só aqui, mas também na Eter­ni­dade, pois no plano de Deus-pa­trão foi co­lo­cado entre aqueles que aca­barão para sempre no In­ferno !(Opus Dei, uma in­ves­ti­gação jor­na­lís­tica”, Vit­torio Mes­sori ci­tando Es­crivá de Ba­la­guer, na pag. 140”).

 

Os ho­mens mais pe­ri­gosos são aqueles que apa­rentam muita re­li­gi­o­si­dade, es­pe­ci­al­mente quando estão or­ga­ni­zados e detêm po­si­ções de au­to­ri­dade, con­tando com o pro­fundo res­peito do povo, o qual ig­nora o seu sór­dido jogo pelo poder, nos bas­ti­dores ...”

( Padre An­tónio Ri­vera, ex-je­suíta ).

 

A crise ac­tual do ca­to­li­cismo é de­ter­mi­nada por um facto in­con­tes­tável : a co­e­xis­tência de duas vi­sões do mundo ra­di­cal­mente di­fe­rentes ; e a in­tensa co­ber­tura da co­mu­ni­cação so­cial sobre a crise fi­nan­ceira ou crise eu­ro­peia, ig­no­rando o ele­fante na sala. O que vai acon­te­cendo é que as pes­soas que pro­duzem coisas reais no mundo real, já não prestam ho­me­na­gens à besta fi­nan­ceira Wall Street, aos es­cra­vi­za­dores de mentes do Va­ti­cano ou aos va­len­tões de Washington DC “

(Igreja Ca­tó­lica Re­no­vada do Brasil).

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Por vezes, ao olharmos nos ecrãs da TV as ima­gens dos mem­bros da troika ou o es­pec­tá­culo que nos é dado pelos mem­bros das po­de­rosas ad­mi­nis­tra­ções dos bancos ou das grandes em­presas, é-nos di­fícil deixar de ima­ginar as longas filas de monges e sa­cer­dotes que no de­correr da his­tória mar­caram com os seus há­bitos, a sua unção e os seus dis­cursos fá­ceis, os cor­re­dores dos con­ventos ou os sa­lões dos paços reais e da alta aris­to­cracia do reino. E, com efeito, os laço que unem fan­tasmas e corpos ainda pal­pi­tantes é evi­dente: nuns e nou­tros casos, tratou-se e trata-se de fazer ne­gócio, ar­re­cadar os lu­cros e con­cen­trar ca­pi­tais. Porque, um dia (que não virá longe, se­gundo os car­deais) o Va­ti­cano rei­nará na terra. Mas não rei­nará sem a banca a seu lado. Por isso mesmo, a Cúria vai me­lho­rando cons­tan­te­mente as suas po­si­ções no mer­cado fi­nan­ceiro.

En­tre­tanto, passam os meses e os anos e muito pouco ou nada pa­rece con­firmar a visão op­ti­mista da igreja de Roma. Mul­ti­plicam-se os es­cân­dalos e vão sur­gindo factos que com­provam a quebra de in­fluência do apa­relho ecle­siás­tico e da sua tra­di­ci­onal dis­ci­plina de classe. Avultam os crimes se­xuais, fi­nan­ceiros, de abuso do poder, etc. O Va­ti­cano surge en­vol­vido, di­recta e in­di­rec­ta­mente, em ma­téria cri­minal tal como acon­tece com o IOR, o Bank of Ame­rica, o Crédit Agri­cole, o Com­merz­bank, a So­ciété Gé­né­rale, o J.P. Morgan, o Goldman Sachs, a Union des Ban­ques Suisses, o Ban­quia, o Po­pular, também todos aqueles que já ci­támos e muitos mais que vão apa­re­cendo se bem que a igreja tudo fi­zesse para que fossem es­que­cidos. No en­tanto, eles per­ma­necem pre­sentes nas me­mó­rias de muitos de nós.

Deve, en­tre­tanto, re­co­nhecer-se que o génio ino­vador do co­légio epis­copal não es­gota o seu poder ino­vador. Não é só através dos es­quemas tra­di­ci­o­nais de aqui­sição e am­pli­ação do poder - como as Con­cor­datas ou as isen­ções fis­cais ne­go­ci­adas com go­vernos amigos – que o Va­ti­cano actua. Ou­tros ca­nais, por­ven­tura de mais alto risco, estão dis­po­ní­veis e devem me­recer toda a nossa atenção, so­bre­tudo por serem al­ta­mente di­ver­si­fi­cados : os offshores, as bolsas de va­lores, o en­sino e a saúde pri­vados, o ter­ceiro sector e a se­gu­rança so­cial, a so­li­da­ri­e­dade fi­lan­tró­pica no com­bate à po­breza, a po­lí­tica na­ci­onal, a po­lí­tica eu­ro­peia e a po­lí­tica do ter­ceiro mundo, o fosso bem e mal-amado entre ricos e po­bres, etc., etc. Por todos os es­paços li­vres o Va­ti­cano se mete, qual pi­olho por cos­tura ...

Assim se pre­para, pelos ca­mi­nhos do padre Es­crivá e do seu con­ti­nu­ador Rat­zinger, o Mi­lénio da Nova Ordem que en­tre­gará a uma só Igreja o co­mando dos ho­mens e sa­grará o Ca­pital … Re­du­zi­rindo de novo o Homem à con­dição de es­cravo e subs­ti­tuindo o seu livre ar­bí­trio por um banal im­plante elec­tró­nico co­lo­cado à flor da pele ! ...

No meio de tudo isto, o que por­ven­tura mais es­panta é que os ca­tó­licos da Te­o­logia da Li­ber­tação se con­ti­nuem a calar … Tempos houve em que in­vo­cavam

a plena ma­ni­fes­tação da vida, da jus­tiça e da dig­ni­dade” ! Cha­mavam-lhes, então, ca­tó­licos pro­gres­sistas.



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