Milhares de professores e educadores manifestam-se em Lisboa

Protesto, indignação e exigência

Pouco pas­sava das 17 horas quando a ca­beça da ma­ni­fes­tação pro­mo­vida pela Fen­prof, com con­cen­tração no Rossio, chegou ao largo da As­sem­bleia da Re­pú­blica, em São Bento, a 12 de Julho, dia em que os pro­fes­sores vol­taram à rua.

Grande res­posta dos pro­fes­sores ao ataque que está a ser des­fe­rido

Image 10920

«Apenas um ano de­pois da posse do Go­verno, aqui es­tamos para dizer que o que nos move não são as pes­soas, os go­vernos ou os par­tidos, mas as po­lí­ticas e me­didas con­cretas», afirmou Mário No­gueira, se­cre­tário-geral da Fen­prof, sa­li­en­tando que em 2008 a si­tu­ação era má, hoje é dra­má­tica. «Hoje não é só a fra­gi­li­zação da es­cola pú­blica, é a per­versão num pri­meiro mo­mento e a des­truição no se­guinte. Há um pri­meiro factor de ordem fi­nan­ceira, é ver­dade, por isso querem des­pedir os pro­fes­sores; mas há um factor de ordem ide­o­ló­gica que passa por re­duzir a es­cola pú­blica dos po­bres, dos que não têm li­ber­dade de es­co­lher outra, dos so­ci­al­mente ex­cluídos. A es­cola de se­gunda ca­te­goria!», acusou, va­lo­ri­zando aquela «grande res­posta dos pro­fes­sores ao ataque que está a ser des­fe­rido contra Por­tugal e os por­tu­gueses». «Nós, pro­fes­sores, edu­ca­dores e in­ves­ti­ga­dores somos da­queles que não pre­ci­samos de ban­dei­rinha na la­pela para pa­re­cermos por­tu­gueses», acres­centou, cri­ti­cando os «roubos sa­la­riais» os «roubos dos sub­sí­dios» e a «eli­mi­nação de di­reitos so­ciais e pro­fis­si­o­nais». «Mas querem roubar-nos ainda mais», ad­vertiu Mário No­gueira, re­fe­rindo-se ao «pro­cesso gra­dual que se inicia no ho­rário zero», para quem é con­tra­tado, que «passa pela mo­bi­li­dade» e «acaba na des­graça».

O se­cre­tário-geral da Fen­prof con­denou, de igual forma, a im­po­sição de mais 150 mega-agru­pa­mentos, a re­visão da es­tru­tura cur­ri­cular, o au­mento de alunos por turma, a ex­tinção dos Cen­tros Novas Opor­tu­ni­dades, a ex­tinção ou grande re­dução de ofertas edu­ca­tivas e for­ma­tivas, a re­dução de horas ao cré­dito das es­colas, entre muitas ou­tras me­didas avulsas. «Cortam para re­duzir em­pregos e, assim, des­pesas, in­di­fe­rentes às con­sequên­cias que são muitas e gra­vís­simas», sa­li­entou, fri­sando que «quando nos ma­ni­fes­tamos, es­tamos também a de­fender o fu­turo da es­cola pú­blica, um bem fun­da­mental da nossa de­mo­cracia».


«É o sis­tema edu­ca­tivo que perde»


Entre os muitos mi­lhares de ma­ni­fes­tantes, de todos os pontos do País, en­con­trava-se Jorge Pires, da Co­missão Po­lí­tica do PCP, que, du­rante o pro­testo, alertou para o facto de mais de 20 mil pro­fes­sores es­tarem pe­rante a pos­si­bi­li­dade de no final do mês de Julho serem des­pe­didos. «A partir de uma de­cisão or­ça­mental em que o Go­verno re­duziu, em mais de cem mi­lhões de euros, a verba des­ti­nada ao pa­ga­mento de sa­lá­rios de pro­fes­sores, o mi­nistro da Edu­cação avança com a re­visão cur­ri­cular, com a cons­ti­tuição dos mega-agru­pa­mentos, com a or­ga­ni­zação do ano lec­tivo que visa única e sim­ples­mente a re­dução do nú­mero de pro­fes­sores nas es­colas», in­formou, lem­brando que «com esta re­dução do nú­mero de pro­fes­sores nas es­colas é o sis­tema edu­ca­tivo que perde, é a qua­li­dade do en­sino que perde, são os alunos que perdem».

Esta acção contou ainda com a so­li­da­ri­e­dade da Frente Comum dos Sin­di­catos da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, que su­bli­nhou que «a luta dos pro­fes­sores é parte in­te­grante da luta dos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica pelos seus di­reitos fun­da­men­tais, contra o re­tro­cesso so­cial que tem vindo a ser im­posto por su­ces­sivos go­vernos, e pelos di­reitos da po­pu­lação a ser­viços pú­blicos es­sen­ciais de qua­li­dade, uni­ver­sais e gra­tuitos – de onde se des­tacam os ser­viços pú­blicos da edu­cação e en­sino»


O maior des­pe­di­mento co­lec­tivo de sempre


No pro­testo foi apro­vada uma Re­so­lução onde se in­forma que «o Go­verno pre­para o maior des­pe­di­mento co­lec­tivo dos do­centes con­tra­tados, fa­zendo ainda dis­parar o nú­mero muito ele­vado de ho­rá­rios-zero nas es­colas». «O de­sem­prego e a ins­ta­bi­li­dade, que no sector do En­sino e In­ves­ti­gação tem cres­cido muito acima da ele­vada média na­ci­onal, co­nhe­cerão, em Se­tembro, um au­mento nunca visto, cri­ando um pro­blema so­ci­al­mente in­sus­ten­tável, com im­pacto ex­tre­ma­mente ne­ga­tivo nas es­colas e na edu­cação em geral», re­fere o do­cu­mento, onde se exige:

 

  • A vin­cu­lação dos do­centes con­tra­tados que, no final do ano lec­tivo, reúnam as con­di­ções pre­vistas na lei geral do tra­balho;
  • A atri­buição de ser­viço lec­tivo a todos os do­centes dos qua­dros;
  • A sus­pensão de vi­gência da re­visão da es­tru­tura cur­ri­cular, a agre­gação de es­colas e agru­pa­mentos apenas nos casos em que se ve­ri­fique con­senso entre au­tar­quia e con­se­lhos ge­rais das es­colas, a re­dução do nú­mero má­ximo de alunos por turma e o res­peito pela au­to­nomia das es­colas na de­cisão sobre a sua oferta edu­ca­tiva e for­ma­tiva;
  • O au­mento das do­ta­ções or­ça­men­tais para o fun­ci­o­na­mento das Ins­ti­tui­ções pú­blicas do en­sino su­pe­rior, em queda desde 2005;
  • O pa­ga­mento das re­tri­bui­ções em atraso aos in­ves­ti­ga­dores e bol­seiros, bem como a ga­rantia de que se man­terá o mesmo nú­mero de bolsas e de con­tratos de in­ves­ti­gação para o pró­ximo ano, entre ou­tras re­tri­bui­ções que têm vindo a ser ne­gadas aos do­centes, no­me­a­da­mente a com­pen­sação pela ca­du­ci­dade dos con­tratos que está pre­vista na le­gis­lação.



Mais artigos de: Trabalhadores

Luta histórica na saúde

A greve dos mé­dicos, nos dias 11 e 12, teve adesão pra­ti­ca­mente total nos hos­pi­tais e cen­tros de saúde de todo o País e ga­nhou forte ex­pressão pú­blica com a ma­ni­fes­tação de quarta-feira, em Lisboa.

Vale mais o contrato colectivo

Os con­tratos co­lec­tivos de tra­balho têm força de lei e estão em vigor, so­bre­pondo-se às al­te­ra­ções in­cons­ti­tu­ci­o­nais do Có­digo do Tra­balho, re­alça a CGTP-IN, na quin­zena de acção e es­cla­re­ci­mento que ter­mina amanhã.

O Governo não pagou o <i>Metro</i> que inaugurou

Mais de 80 por cento do custo do alargamento do Metropolitano de Lisboa, que passa a contar com estações no Aeroporto, na Encarnação e em Moscavide, foram assumidos pela própria empresa, através de empréstimos bancários, embora se trate de um investimento que...

Protesto de enfermeiros

Amanhã, das 10 às 13 horas, na Rua Augusta, em Lisboa, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses vai instalar um «hospital do protesto», apelando a que os profissionais de enfermagem do distrito ali compareçam de bata branca, a fim de denunciarem publicamente a política do...

Frente Comum mobiliza para dia 26

Para a próxima quinta-feira, 26, a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública decidiu convocar uma iniciativa de luta, frente ao Ministério das Finanças, para a qual vai mobilizar dirigentes e delegados sindicais. A decisão consta da resolução...