Vamos a votos!

Pedro Campos

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Le­gal­mente, ter­minou no do­mingo, 30 de Se­tembro, a pu­bli­cação de son­da­gens sobre as pró­ximas elei­ções pre­si­den­ciais. Nesse mesmo dia, cinco dessas me­di­ções[1], entre elas uma cla­ra­mente li­gada à opo­sição da ex­trema-di­reita, davam a vi­tória ao can­di­dato bo­li­va­riano. Nesta, Hugo Chávez ga­nharia por dois pontos de di­fe­rença. Nou­tras, a van­tagem iria até aos de­za­nove pontos. Seja como for, a con­tagem está a poucos dias e aí sa­be­remos como fi­caram fi­nal­mente os nú­meros. Por agora, a grande dú­vida con­tinua a ser se a opo­sição acei­tará ou não de­mo­cra­ti­ca­mente a sua mais do que pro­vável der­rota elei­toral ou se en­saiará uma re­e­dição dos mo­mentos gol­pistas de Abril de 2002. Com as va­ri­a­ções da oca­sião, claro está. En­tre­tanto, no meio de cer­tezas e ru­mores que apa­recem todos os dias nos meios de co­mu­ni­cação re­la­ci­o­nados com a di­reita, tudo está a con­tri­buir para criar um clima de in­tran­qui­li­dade.

Num pro­grama de TV do canal ofi­cial, foi de­nun­ciado que Glo­bo­vi­sión, canal em­ble­má­tico da opo­sição, teria com­prado «118 co­letes anti-balas e perto de 50 más­caras anti-gás». Os co­letes te­riam sido ad­qui­ridos à em­presa In­ter­na­ti­onal Uti­lity Ser­vice e te­riam uma ca­pa­ci­dade de re­sis­tência ba­lís­tica 3A (ade­quada para sub-me­tra­lha­doras UMP5mm). É vox po­puli que houve uma compra se­me­lhante nos dias an­te­ri­ores ao golpe de Abril de 2002.

No jornal de opo­sição El Uni­versal[2] o ex-líder es­tu­dantil Yon Goi­co­echa es­creve, a 25 de Se­tembro, o ar­tigo «A fraude não é grátis». Nele «pre­para» o país para um ce­nário pa­re­cido a uma guerra civil. Entre alu­sões a que o CNE avan­çará com uma hi­po­té­tica fraude, que se avi­zinha um «mas­sacre» e que «em questão de horas, ha­verá duas massas hu­manas con­tra­postas e ra­di­ca­li­zadas», vai avi­sando que «sa­berá Deus quantos dias, se­manas ou meses pas­sará a po­pu­lação na rua...». Quem é este pro­feta do de­sastre? Um ar­ru­a­ceiro que du­rante as ma­ni­fes­ta­ções de 2008 pro­meteu «in­cen­diar Ca­racas» e que, talvez por isso, ob­teve o prémio Milton Fre­edom, do Ins­ti­tuto Caton, cujo valor su­pera o meio mi­lhão de dó­lares, com os quais vive hoje co­mo­da­mente nos Es­tados Unidos. De onde lhe vem esta ten­dência para a vi­o­lência? Talvez pela linha pa­terna. Em 2005 o pai foi con­de­nado a 25 anos de prisão pelo ho­mi­cídio de um jovem. Como se passou tudo? Se­gundo in­forma o mesmo jornal[3], Jorge Goi­co­e­chea, o pai, ao en­trar no es­ta­ci­o­na­mento do prédio onde vivia, chocou contra o poste do leitor de se­gu­rança. O ca­ri­cato da si­tu­ação pro­vocou al­guns gra­cejos de um grupo de jo­vens. Ágil como qual­quer pis­to­leiro do far-west, puxou pela sua arma e dis­parou sobre o grupo, as­sas­si­nando um jovem de 18 anos!

A par e passo com o an­te­rior corre in­sis­ten­te­mente o rumor de que na tarde do dia das elei­ções ha­verá re­nún­cias de al­guns mi­li­tares e de Vi­cente Díaz, reitor do CNE li­gado ao can­di­dato da opo­sição, como forma de pro­testo contra a «fraude». Este reitor (ver nota de há duas se­manas) é o mesmo que vem ga­ran­tindo que o sis­tema elei­toral é to­tal­mente se­guro e in­vi­o­lável.

Outro que se de­sen­canta...

Fi­nal­mente, outra no­tícia, que não rumor, que volta a sa­cudir as hostes da di­reita. Aldo Cer­meño, ex-go­ver­nador es­ta­dual, li­gado du­rante muitos anos ao par­tido da de­mo­cracia-cristã, des­ligou-se da opo­sição de di­reita e apelou ao voto em Hugo Chávez. Ra­zões? Ca­priles Ra­donski é um «sec­tário» e tem um «dis­curso duplo»!

Passam ver­ti­gi­nosos os dias e a opo­sição mais re­ac­ci­o­nária e rui­dosa, tal como o seu can­di­dato, veste pele de cor­deiro e nega o pas­sado mais ime­diato tra­tando de mos­trar-se de­mo­crá­tica. O jornal El Na­ci­onal, uma das pontas de lança da cons­pi­ração de Abril de 2002, no seu edi­to­rial de 26 de Se­tembro[4], na sequência de um ataque a An­tónio Pa­triota, mi­nistro bra­si­leiro, nega a res­pon­sa­bi­li­dade dos meios de co­mu­ni­cação nesse golpe ati­rando as culpas para as costas dos mi­li­tares. Claro, «es­quece» um pe­queno de­talhe. Na manhã de 12 de Abril, em Ve­ne­vi­sión, na pre­sença do contra-al­mi­rante gol­pista Mo­lina Ta­mayo e de Le­o­poldo López, um dos «che­fões» da di­reita, ambos entre eu­fó­ricos e emo­ci­o­nados, um edi­to­ri­a­lista de te­le­visão agra­decia aos meios de co­mu­ni­cação o seu papel pre­pon­de­rante nos pre­pa­ra­tivos do golpe de Es­tado.

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[1] http://​www.ciu­dadccs.info/​wp-con­tent/​uploads/​300912.pdf

[2] http://​www.elu­ni­versal.com/​opi­nion/​120925/​el-fraude-no-es-gratis

[3] http://​www.elu­ni­versal.com/​2010/​04/​29/​sucgc_art_a-20-anos-de-pri­si­on_1880091.shtml

[4] http://​www.el-na­ci­onal.com/​opi­nion/​edi­to­rial/​Pa­tri­o­ta_19_51784823.html

 



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