Cambalhotas

Ângelo Alves

O governo foi a Bruxelas, no dia 28, negociar com a Comissão Europeia e com os outros dois carrascos da troika estrangeira (BCE e FMI) as medidas que irão substituir as alterações à Taxa Social Única, entretanto derrotadas pela luta dos trabalhadores e do povo português. Negociar não será propriamente o termo mais adequado. O que o Governo foi fazer a Bruxelas foi pedir o aval, e submeter ao visto prévio, medidas orçamentais que serão apresentadas na reunião do Eurogrupo do próximo dia 8 e que serão incluídas na proposta de Orçamento do Estado para 2013. Foi isto que o Governo foi fazer a Bruxelas, pedir o aval e conspirar contra os trabalhadores e o povo português.

Dir-se-á que o Governo não deu conhecimento prévio das medidas porque teve medo da reacção popular, especialmente em vésperas de uma gigantesca manifestação da CGTP/IN. É verdade! Sobretudo porque as medidas que irá anunciar são, na sua natureza e objectivos, similares às derrotadas alterações à TSU – nomeadamente aquelas que visam roubar pelo menos meio salário aos trabalhadores portugueses por via do brutal aumento dos impostos. Portanto até aqui nada de novo. Independentemente da forma e do momento da conspiração, o que está hoje colocado, tal como ontem, é derrotar pela luta todo o pacto de agressão, as medidas passadas e as que virão.

Agora, o que é novo é a reacção do PS, indignado com o facto de o Governo ter feito o que o governo Sócrates fez várias vezes – «cozinhar» em Bruxelas os PEC ou o próprio pacto de agressão. Das duas uma, ou o PS está zangado porque foi posto de lado na conspiração com a UE e a troika, ou então, mudou diametralmente de opinião relativamente a dossiers como o Semestre Europeu, a Governação Económica ou o Pacto Orçamental e esqueceu-se de avisar. É que o que o Governo foi fazer a Bruxelas mais não é do que o que está previsto nesses autênticos coletes de força que visam expropriar os estados da sua soberania, nomeadamente em matéria orçamental. Coletes de força que foram não só aprovados como defendidos pelo PSD e CDS-PP e.... pelo PS! E esta verdade, as cambalhotas do PS não conseguem apagar.



Mais artigos de: Opinião

Organizar a luta

Com maior ou menor nível de consciência e, consequentemente, assumindo formas mais ou menos organizadas, grandes mobilizações populares e lutas sindicais marcam a actualidade nos países mais duramente atingidos pelas políticas da União Europeia, onde a...

A «mama»

Duas manifestações em 15 dias, que levaram às ruas mais de um milhão de pessoas, fazem necessariamente mossa em qualquer um, a começar nos visados dos protestos: os (glosando Cardoso Pires) excelentíssimos dinossauros deste Governo cretáceo (houve quem preferisse...

Só a luta consequente porá fim ao desastre

Agosto e Setembro ficam marcados por um vigoroso ascenso da luta, num processo que ali não começou, nem terminou. Importa salientar este aspecto porque a luta começou lá muito mais atrás, com a contestação ao pacto de agressão que levou muitos milhares à rua e à luta nas empresas e locais de trabalho contra o aumento da exploração, contra o encerramento de serviços públicos. A esta acresce a luta dos agricultores, dos micro, pequenos e médios empresários, dos profissionais das forças de segurança, dos militares, que em crescendo se tem verificado neste último ano e meio.

Os «Borgeas»

António Borges é o espelho dos muitos que, em nome dos interesses do grande capital ao serviço dos quais agem, saqueiam os rendimentos dos trabalhadores, arruínam a vida de milhões de portugueses, saqueiam os recursos nacionais, entregam o País ao estrangeiro. Dir-se-á...

O editorial acéfalo?

Sob o título «a moção de censura bicéfala», o Público desta terça-feira discorre sobre a apresentação de duas moções de censura distintas. Em editorial, afirma que estamos perante a «estranha decisão de serem apresentadas duas...