Uma miséria de governo

«A intervenção que aqui fez é acima de tudo reveladora de uma enorme falta de vergonha», considerou António Filipe, dirigindo-se ao primeiro-ministro, naquela que foi uma das mais violentas críticas ao Governo feitas no debate.

Na base deste juízo esteve sobretudo o facto de o chefe do Governo, um dia depois do ministro das Finanças ter anunciado «o mais brutal assalto ao bolso dos portugueses de que há memória», ter ido ao Parlamento dizer que o «País está no bom caminho».

Palavras incisivas que parecem ter incomodado Passos Coelho (ou servido a este de pretexto para fugir como fugiu ao essencial da questão), a ponto de considerar a intervenção «indigna de um deputado eleito pelo povo e nessa medida não merecer resposta».

«Era o que faltava que não transmitíssemos aqui a indignação da generalidade dos portugueses», ripostou no final Bernardino Soares, devolvendo a acusação: «indigna é a sua política; indigno do lugar que ocupa é um governo que esmifra o seu povo para beneficiar alguns».

Contestada por António Filipe foi também a ideia muito apregoada pelo Governo e seus acólitos de que não há caminho alternativo. «Isto é puro terrorismo social», afirmou.

Por si expressa foi igualmente a convicção de que o Executivo do PSD e do CDS-PP «não tem legitimidade para levar por diante esta política». É que se trata de uma «política ilegítima porque é verdadeiramente de traição nacional», acusou.

«Prometeram um governo para Portugal mas comportam-se não como um governo de Portugal mas como uma regência para gerir o País às ordens de uma ocupação estrangeira, à custa da miséria dos portugueses», prosseguiu, num registo severo de repúdio por esta política que a olhos vistos conduz o País para o desastre.

Mas se este Governo está a «arrastar o País para a miséria, é ele próprio uma miséria de Governo», entende António Filipe, porquanto, exemplificou, «os ministros afundam-se em trapalhadas e enxovalhos», não falando no facto de este ser um Governo que «não pode sair à rua porque os seus membros são tratados pelos portugueses como de vulgares gatunos se tratasse».

E sobre os «sucessos» invocados pelo Governo, assinalou que esses resultados da governação estão bem plasmados no «ciclo vicioso de desemprego, de recessão, de desemprego e miséria».

«O que o senhor veio aqui dizer é que não há outro caminho ao suicídio, à liquidação do nosso País e isso os portugueses não aceitam», sustentou, defendendo que a «demissão do Governo é o único caminho para evitar a tragédia social para a qual estão a arrastar o País a grande velocidade».

«Este Governo vai sair e não será pela porta da frente. Sairá pela porta das traseiras que é a única forma por onde os portugueses o deixam sair à rua», concluiu, antes de formular uma antevisão: «o Governo sobrevive à moção de censura mas não sobreviverá à censura que vai por esse País fora».

 



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