O PS no sítio do costume

Jorge Cordeiro

Seguro e o PS não re­sis­tiram à ex­te­nu­ante ta­refa de, du­rante uma longa e in­ter­mi­nável se­mana, fin­girem-se de opo­sição ao rumo de de­sastre que pela mãos do Go­verno, e as suas pró­prias, des­graça a vida dos por­tu­gueses e afunda o País. Não fosse o diabo tecê-las, pe­rante tão pe­noso quanto inu­si­tado exer­cício opo­si­ci­o­nista de ame­açar num dia com moção e en­rolar no outro a cen­sura, Se­guro veio pôr cobro a qual­quer réstia de dú­vidas sobre o ver­da­deiro lugar do PS que pu­dessem so­bre­viver em es­pí­ritos menos avi­sados no res­caldo de tão es­for­çadas ma­no­bras.

A adesão e as­sumpção pelas suas pró­prias mãos da re­cla­mação da re­dução do nú­mero de de­pu­tados como a questão cen­tral que tem para propor ao País, no quadro da mais de­su­mana ofen­siva contra os tra­ba­lha­dores e o povo por­tu­guês, as­sume si­mul­ta­ne­a­mente uma inequí­voca gra­vi­dade, uma es­cla­re­ce­dora con­fissão do papel do PS e as am­bi­ções an­ti­de­mo­crá­ticas que pros­segue.

Gra­vi­dade re­sul­tante de Se­guro, e o par­tido que di­rige, vir dar corpo à cor­rente de de­ma­gogia, po­pu­lismo e re­ac­ci­o­na­rismo que situa na re­pre­sen­tação de­mo­crá­tica os pro­blemas do País e não na po­lí­tica pros­se­guida e nos in­te­resses que ela cor­po­riza. Uma es­cla­re­ce­dora con­fissão de, na au­sência de ele­mentos que o dis­tan­ciem e dis­tingam em ques­tões es­sen­ciais, do pro­grama de ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento que o Go­verno PSD/​CDS pros­segue com a cúm­plice co­la­bo­ração do PS, Se­guro optar por uma de­plo­rável par­ti­ci­pação nas ma­no­bras de di­versão para des­viar as aten­ções sobre as causas, con­sequência e res­pon­sa­bi­li­dades quanto ao rumo de de­clínio e re­tro­cesso que juntos vêm im­pondo há largos anos ao País. Uma in­dis­far­çável am­bição, fa­zendo coro com a di­reita e os sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios, de cons­truir um mo­delo de re­pre­sen­tação par­la­mentar que no fun­da­mental as­se­gure a sua re­dução de­mo­crá­tica e o en­fra­que­ci­mento das forças e par­tidos (em par­ti­cular o PCP) que re­sistem ao do­mínio do ca­pital mo­no­po­lista sobre todas as es­feras da vida na­ci­onal, as­se­gu­rando a PS e PSD con­di­ções para uma mais livre e ace­le­rada exe­cução do pro­grama de agressão aos sa­lá­rios, aos di­reitos e à de­mo­cracia.



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