Rabo escondido com o gato de fora

Margarida Botelho

Se hou­vesse um prémio na­ci­onal da des­fa­çatez, Paulo Portas devia ga­nhar. Aliás, já o devia ter ganho há anos e agora me­recia o prémio-car­reira. Numa ce­ri­mónia tipo Globos de Ouro, seria fácil montar o vídeo com os seus me­lhores mo­mentos: Paulo Portas jovem jor­na­lista pro­missor, Paulo Portas sal­tando ca­deiras num con­gresso do CDS para apertar a mão ao pre­si­dente do par­tido, Portas Pau­linho das feiras, Portas de­fensor dos ex-com­ba­tentes, Portas dos ve­lhi­nhos, Portas da la­voura, Portas do par­tido do con­tri­buinte, Portas da se­gu­rança – e por aí fora. Ma­te­rial não falta.

O ro­mance em torno do Or­ça­mento do Es­tado para 2013 é só mais uma peça no cur­rí­culo. Foram es­critos rios de tinta e gastas horas de co­men­tário te­le­vi­sivo sobre o «si­lêncio» de Paulo Portas, usado para agitar o fan­tasma da «ins­ta­bi­li­dade» e da «crise», como se ins­tá­veis e mer­gu­lhadas na crise não es­ti­vessem já as vidas dos por­tu­gueses. Rios de tinta e horas te­le­vi­sivas onde todos fin­giam não ter re­pa­rado que foi o Go­verno PSD-CDS que propôs este Or­ça­mento e que Portas e o CDS se sentam no Con­selho de Mi­nis­tros. De­pois de três dias de si­lêncio, Portas en­viou às re­dac­ções ao raiar do dia um co­mu­ni­cado em que – ó es­panto!, ó sur­presa! – re­vela que vai aprovar o Or­ça­mento. O tal que já tinha apro­vado no Con­selho de Mi­nis­tros. O tal que cumpre o que a troika es­tran­geira acordou com a troika na­ci­onal – CDS in­cluído – e se ma­te­ri­a­liza no pacto de agressão ao nosso povo e ao nosso País. Para en­fa­tizar o lance dra­má­tico, em jeito de re­con­ci­li­ação e su­pe­rior pa­tri­o­tismo, CDS e PSD juntam-se em jor­nadas par­la­men­tares con­juntas. Como se dizia dantes, em tempos muito ne­gros: a bem da nação.

Diz-se, quando al­guém ou al­guma ideia está mal es­con­dida ou mal dis­far­çada, que o gato está es­con­dido com o rabo de fora. Aqui já é ao con­trário: está o gato todo à mostra. Por mais ar­tista que seja, para mi­lhões de por­tu­gueses é in­des­men­tível a res­pon­sa­bi­li­dade de Portas e do CDS nesta po­lí­tica de roubo.



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