O Natal da nossa tristeza

José Casanova

Para a imensa mai­oria dos por­tu­gueses, este foi um mau, um pés­simo Natal. Foi o Natal do de­sem­prego (na mai­oria dos casos sem o res­pec­tivo sub­sídio); das pen­sões e re­formas bru­tal­mente am­pu­tadas; dos sub­sí­dios rou­bados; dos di­reitos la­bo­rais as­sal­tados; de ser­viços pú­blicos es­sen­ciais li­qui­dados; do poder local de­mo­crá­tico fla­ge­lado; da in­de­pen­dência na­ci­onal des­pre­zada. Foi, por tudo isso, o Natal da po­breza, da mi­séria, da fome – da tris­teza. Foi, enfim, o pior de todos os na­tais pós-25 de Abril.

Vão longe os tempos da Re­vo­lução de Abril, esses tempos lu­mi­nosos a apontar o fu­turo, esses tempos do res­peito pelos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo; do res­peito pelos prin­cí­pios e va­lores de­mo­crá­ticos; do res­peito pelo in­te­resse na­ci­onal – que é o in­te­resse dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País.

Olhando para trás, para os quase qua­renta anos que já lá vão desde 1974, não há me­mória de Natal tão pobre. E tão triste.

Para a imensa mai­oria dos por­tu­gueses, in­sista-se. Porque para a imensa mi­noria este foi um Natal de far­tura, de abas­tança, de bem-estar. De acordo, aliás – como não se cansam de nos lem­brar os pro­pa­gan­distas das bon­dades da ex­plo­ração do homem pelo homem – com a «ordem na­tural das coisas», ex­pressão que tra­du­zida à letra dá mais ou menos isto: ricos e po­bres sempre houve e há-de haver e queira Deus que os ricos sejam cada vez mais ricos para po­derem dar mai­ores es­molas aos po­bres...

Natal triste, por­tanto.

«Culpa da crise» – dizem os cul­pados, sa­cu­dindo a água dos ca­potes, fin­gindo que não sabem que de há quase trinta e sete anos a esta parte são eles, e só eles, que têm es­tado nos su­ces­sivos go­vernos, todos pra­ti­cando a mesma po­lí­tica de di­reita, todos rou­bando Abril a Abril.

E são muitos esses cul­pados, tantos que seria fas­ti­dioso nomeá-los um a um.

Por isso, apon­temos o dedo – por ordem de en­trada em cena – a al­guns dos prin­ci­pais cau­sa­dores deste Natal triste para a imensa mai­oria dos por­tu­gueses: Mário So­ares, Ca­vaco Silva, An­tónio Gu­terres, Durão Bar­roso, José Só­crates, Passos Co­elho/​Paulo Portas...

Foram eles que nos en­traram pelas cha­minés e nos trou­xeram, como prenda, este Natal da nossa tris­teza.



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