Heróis do povo e heróis dos media

Carlos Lopes Pereira

Image 12221

O presidente Jacob Zuma foi reeleito por mais cinco anos à frente do Congresso Nacional Africano (ANC), que governa a África do Sul desde 1994. A eleição decorreu durante a 53.a conferência nacional do movimento, realizada em Mangaung, no centro do país.

Zuma, de 70 anos, obteve três quartos dos votos dos delegados, derrotando Kgalema Motlanthe, de 63 anos, até agora vice-presidente do ANC e da República.

Para número dois do movimento foi eleito Cyril Ramaphosa, activista anti-apartheid e antigo dirigente do Sindicato Nacional Mineiro (NUM), um dos mais influentes da Confederação dos Sindicatos da África do Sul (Cosatu). Na última década, Ramaphosa dedicou-se aos negócios e tornou-se um empresário rico, sendo apontado como capaz de fazer a ponte entre os princípios de justiça social defendidos pelo ANC e o mundo empresarial.

Hoje próximo de Zuma e outrora «delfim» de Nelson Mandela, descrito como «carismático», Ramaphosa poderá ser candidato à vice-presidência da África do Sul ou mesmo o substituto do actual líder nas eleições presidenciais de 2014.

A conferência do ANC ­­– o mais antigo movimento político africano, que este ano comemorou 100 anos de existência e tem mais de um milhão de membros ­–, elegeu também o secretário-geral, Gwede Mantashe, a secretária-geral adjunta, Jessie Duarte, o coordenador nacional, Baleka Mbete, e a tesoureira-geral, Zweli Mkhize.

Apesar das divergências internas, o conclave de Mangaung decorreu em ambiente sereno, longe da tensão do congresso anterior, em 2007, em Polokwane, quando Jacob Zuma afastou Thabo Mbeki da liderança do ANC e do país ajudado então por alguns dos que hoje o contestam.

Falando aos 4500 delegados, Zuma defendeu o rumo seguido pelo ANC, procurou «tranquilizar» os meios empresariais e prometeu mudanças. «Queremos atrair investidores tanto nacionais como estrangeiros», disse, explicando que na África do Sul devem coabitar os sectores público e privado. «Queremos combater a falsa impressão de que o país está dividido. (…) Temos um plano para fazer crescer a economia e criar empregos», assegurou, em resposta a críticas de que persistem graves problemas e desigualdades sociais. E advertiu que o caminho para a prosperidade desejada será «longo e duro» mas que o ANC «é a única esperança para os pobres e os excluídos».

Afirmando que a situação económica mundial poderia tornar mais difíceis de atingir esses objectivos, Zuma prometeu investir mais na educação, reafirmou o empenho no combate contra a corrupção, condenou a violência entre facções do ANC registada nos meses que antecederam a conferência. E foi muito aplaudido quando prestou uma vibrante homenagem a Nelson Mandela, de 94 anos (internado entretanto num hospital de Pretória), fundador da África do Sul democrática e herói do ANC.

Aprofundar a revolução
democrática e nacional

 O Partido Comunista da África do Sul (SACP), um dos integrantes da tripla aliança que governa a África do Sul há 18 anos – com o ANC e a Cosatu –, fez ouvir a sua voz na 53.a conferência, em Mangaung.

Numa intervenção do seu secretário-geral, Blade Nzimande, os comunistas saudaram o ANC, a maior organização política da história da África do Sul, o que lhe traz «responsabilidades e desafios adicionais». Como o de, ao mesmo tempo que dirige o país, ouvir sempre o povo – a governação deve ser uma combinação do poder das massas e do poder estatal, visando transformar a África do Sul em benefício acima de tudo dos trabalhadores e dos pobres.

Propondo o reforço da aliança com o ANC e os sindicatos também a nível local, os comunistas defenderam «uma transformação mais radical da economia em benefício da maioria do povo» e o aprofundamento da luta por uma África do Sul não racial, democrática, mais justa e igualitária.

Apoiando os esforços na luta contra a corrupção, o SACP garantiu a aliança com o ANC e esclareceu que, sendo organizações diferentes, haverá naturalmente aqui e ali pontos de vista e posições diferentes – que serão resolvidos nos locais próprios e não através dos media como pretexto para atacar o ANC. «Os revolucionários genuínos não são feitos pelos media comerciais mas através da luta com princípios e da defesa do movimento de libertação como um todo. Os heróis dos media não são os heróis do povo», lembrou Nzimande.

Os comunistas reafirmaram, no essencial, que as classes trabalhadoras, em conjunto com outras forças progressistas, no quadro da tripla aliança, devem assumir a continuidade e o aprofundamento da revolução democrática nacional na África do Sul.



Mais artigos de: Internacional

Rumo incerto na Tunísia

Os presidentes da República e da Assembleia Constituinte foram vaiados e apedrejados pelo povo de Sidi Bou Zid durante as celebrações oficiais do segundo aniversário do início da revolução tunisina. A expulsão dos governantes à pedrada foi o último episódio das convulsões que têm acompanhado o chamado processo de transição para a democracia no país.

Pela escola pública

Docentes e alunos concentraram-se, a semana passada, em Santiago do Chile, para denunciarem uma nova vaga da ofensiva governamental contra a escola pública.

Comunistas rejeitam

O Partido Comunista do Egipto (PCE) considera que a Constituição imposta pelo presidente do país, Mohamed Morsi, «ataca os direitos dos trabalhadores, dos camponeses e de outras camadas laboriosas em benefício do capital», não garante «os direitos das mulheres e...

Ucrânia

Um comício antifascista juntou dez mil pessoas, em Odessa, na Ucrânia, a meio da semana passada, em resposta às acções do grupo de extrema-direita intitulado de «Liberdade», que no dia 21 atacou o edifício da Câmara Municipal com o...