A França cerca a Argélia pelo Sul

Carlos Lopes Pereira

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Pros­segue a in­ter­venção mi­litar da França no Mali, a pre­texto do com­bate a «ter­ro­ristas» is­lâ­micos ar­mados e da de­fesa da in­te­gri­dade ter­ri­to­rial da­quele país da África Oci­dental.

De­sem­bar­cada há um mês na an­tiga co­lónia, com forte apoio da avi­ação, a le­gião fran­cesa avançou ra­pi­da­mente na zona Norte do Mali, do­mi­nada desde me­ados de 2012 pri­meiro por in­de­pen­den­tistas tu­a­re­gues e de­pois por «is­la­mitas ra­di­cais». Re­con­quis­taram nas mar­gens do Níger as ci­dades es­tra­té­gicas de Gao e Tum­buktu, a um mi­lhar de qui­ló­me­tros de Ba­mako, a ca­pital, e che­garam às portas de Kidal, perto da fron­teira com a Ar­gélia. Os re­beldes re­ti­raram-se quase sem dar com­bate e acan­to­naram-se numa zona mon­ta­nhosa do ex­tremo Nor­deste do Mali.

A ope­ração «Serval», or­de­nada por Fran­çois Hol­lande em res­posta a um «pe­dido de ajuda» ur­gente do de­sa­cre­di­tado pre­si­dente in­te­rino ma­liano, Di­on­counda Traoré, para travar o avanço jiha­dista para Sul, en­volve cerca de 4000 efec­tivos fran­ceses, aos quais se junta o mal pre­pa­rado exér­cito ma­liano. Es­tados Unidos, Grã-Bre­tanha e ou­tros países oci­den­tais apoiam a in­ter­venção com lo­gís­tica e in­for­ma­ções e Lon­dres anun­ciou também o envio de duas cen­tenas de «ins­tru­tores mi­li­tares» para a re­gião.

Uma força Oeste-afri­cana, a Missão In­ter­na­ci­onal de Apoio ao Mali (Misma), com 6000 sol­dados de países da Co­mu­ni­dade Eco­nó­mica dos Es­tados da África Oci­dental (Ce­deao), está a pre­parar len­ta­mente as pri­meiras uni­dades.

Na se­mana pas­sada, o pre­si­dente Hol­lande efec­tuou uma vi­sita-re­lâm­pago a Ba­mako e à his­tó­rica Tum­bucku. «Já fi­zemos muito tra­balho mas ainda não aca­bámos», afirmou. E ga­rantiu que as tropas fran­cesas per­ma­ne­cerão o tempo que for ne­ces­sário até serem subs­ti­tuídas por forças afri­canas, sendo o ob­jec­tivo re­cu­perar a in­te­gri­dade ter­ri­to­rial do Mali.

No plano po­lí­tico, a União Afri­cana, cuja 20.ª con­fe­rência de chefes de Es­tado e de go­verno se reuniu em Addis-Abeba, deu o seu apoio à in­ter­venção mi­litar fran­cesa no Mali.

Também na ca­pital etíope, sede da or­ga­ni­zação pan-afri­cana, re­a­lizou-se uma con­fe­rência in­ter­na­ci­onal vi­sando fi­nan­ciar a força mi­litar afri­cana para o Mali e a «re­es­tru­tu­ração» do exér­cito ma­liano. A par dos países afri­canos, par­ti­ci­param União Eu­ro­peia, Es­tados Unidos e Japão.

O pre­si­dente da Costa do Marfim e da Ce­deao, Alas­sane Ou­at­tara, es­timou em 950 mi­lhões de dó­lares a verba ne­ces­sária para «a re­cons­trução do Mali». Para este fiel aliado de Paris que chegou ao poder em tan­ques fran­ceses, «a guerra contra o ter­ro­rismo in­ter­na­ci­onal é um ini­migo comum e diz res­peito a todos».

Opi­nião di­fe­rente tem o Par­tido Ar­ge­lino para a De­mo­cracia e o So­ci­a­lismo (PADS), para quem os im­pe­ri­a­listas fran­ceses pre­tendem «im­plantar per­ma­nen­te­mente as suas tropas no Mali e trans­formar este país em posto avan­çado de con­trolo das ri­quezas do Sahel». Com a pre­tensa le­gi­ti­mi­dade con­fe­rida à sua in­ter­venção pelas Na­ções Unidas, «o im­pe­ri­a­lismo francês ob­teve o aval da Ce­deao, o seu ins­tru­mento ne­o­co­lo­ni­a­lista, para as­sumir o papel de gen­darme da África fran­có­fona e fazer e des­fazer os re­gimes afri­canos ao sabor dos seus in­te­resses», acres­centa.

Para os co­mu­nistas ar­ge­linos, o Oci­dente apoia-se em mo­vi­mentos re­ac­ci­o­ná­rios que se ca­mu­flam sob a re­li­gião para con­tra­riar a von­tade de eman­ci­pação dos povos e abater os di­ri­gentes que lhe fazem frente. Com a nova aven­tura mi­litar afri­cana, o im­pe­ri­a­lismo francês «mata dois co­e­lhos com uma ca­ja­dada»: co­loca tropas no Mali e es­conde com esta in­ter­venção «o seu plano de cerco à Ar­gélia pelo Sul», tendo em vista re­forçar as pres­sões sobre os seus go­ver­nantes «para os em­purrar ainda mais na via do com­pro­misso e da rup­tura com as suas ori­en­ta­ções anti-im­pe­ri­a­listas tra­di­ci­o­nais.»

O PADS de­nuncia as men­tiras da pro­pa­ganda oci­dental: «O im­pe­ri­a­lismo en­gana o povo ma­liano, ao qual quer fazer acre­ditar que pro­cura pro­tegê-lo das hordas obs­cu­ran­tistas. É ne­ces­sário ser in­génuo ou cego ou estar de má-fé para es­quecer ou não per­ceber que du­rante de­zenas de anos estes grupos e os seus re­gimes são e foram os me­lhores au­xi­li­ares do im­pe­ri­a­lismo: no Afe­ga­nistão, na Bósnia, no Ko­sovo, na Líbia e agora na Síria.»

Lem­brando que o im­pe­ri­a­lismo está con­fron­tado com a mais grave crise es­tru­tural da sua his­tória e que, por isso, pre­cisa de di­vidir os povos para in­ten­si­ficar a pi­lhagem das suas ri­quezas, o par­tido dos co­mu­nistas ar­ge­linos in­siste que são as po­tên­cias oci­den­tais que «or­ga­nizam a in­se­gu­rança ge­ne­ra­li­zada na re­gião para jus­ti­ficar as suas in­ge­rên­cias».



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