A conversa muda, os objectivos são os mesmos

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política)

Há uns anos os pro­ta­go­nistas da po­lí­tica di­reita anun­ci­aram vezes sem conta a saída da crise e que já se via «uma luz ao fundo do túnel». Agora, Passos Co­elho pro­clama ci­ni­ca­mente e sem ponta de ver­gonha que há li­mites para os sa­cri­fí­cios e que «a corda não pode partir».

A luta de massas é con­dição não só para re­sistir como para avançar

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Antes des­do­braram-se em pro­cla­ma­ções de pro­pa­ganda sobre o ale­gado su­cesso e as su­postas van­ta­gens da «ida aos mer­cados». Jun­taram-lhe su­ces­sivas de­cla­ra­ções sobre a re­cu­pe­ração do País e sobre a pos­si­bi­li­dade de pres­cin­dirmos da troika a curto prazo.

Isso, se­gundo eles, re­pre­sen­taria um êxito das po­lí­ticas que im­pu­seram aos por­tu­gueses.

E dessa forma in­sistem em fazer crer que os sa­cri­fí­cios valem e va­leram a pena e que já se co­meçam a ver re­sul­tados.

Ainda os fo­guetes vão no ar e todos os in­di­ca­dores e pre­vi­sões que vão sendo co­nhe­cidos trazem à evi­dência a re­a­li­dade que a imensa mai­oria dos por­tu­gueses bem co­nhece: o con­ti­nuado agra­va­mento da si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial do País, re­sul­tado da po­lí­tica do ac­tual Go­verno e da con­cre­ti­zação do pacto de agressão, subs­crito por PS, PSD e CDS e que tem ser­vido de jus­ti­fi­cação para a im­po­sição de um pro­grama de au­mento da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, de re­tro­cesso so­cial e de de­clínio na­ci­onal, com­pro­me­tendo a vida de mi­lhões de por­tu­gueses e o fu­turo do País e das novas ge­ra­ções.

Os dados re­la­tivos à evo­lução do PIB; a des­truição de mais de 400 mil postos de tra­balho; a emi­gração for­çada de mais de 250 mil por­tu­gueses, na mai­oria jo­vens; a quebra acen­tuada no in­ves­ti­mento e na pro­cura in­terna; os nú­meros ca­la­mi­tosos do de­sem­prego, que ul­tra­passa um mi­lhão qua­tro­centos e trinta mil tra­ba­lha­dores; as fa­lên­cias de de­zenas de mi­lhares de micro, pe­quenas e mé­dias em­presas; a des­truição ace­le­rada do apa­relho pro­du­tivo, são factos bem re­le­vantes da si­tu­ação a que estão a con­duzir o País.

Ao con­trário do que al­guns pro­curam fazer crer, não é o Go­verno que fa­lhou nas pre­vi­sões, nem os de­sas­trosos re­sul­tados da sua po­lí­tica de­rivam da sua in­com­pe­tência. Bem pelo con­trário, os seus ob­jec­tivos estão a ser al­can­çados em pleno.

Trata-se de uma opção de classe que alivia cada vez mais a corda dos be­ne­fi­ciá­rios da po­lí­tica de di­reita deste Go­verno e dos an­te­ri­ores, con­ti­nu­ando a fa­vo­recer o grande ca­pital mo­no­po­lista, em par­ti­cular o fi­nan­ceiro, en­tre­gando-lhe uma par­cela cres­cente da ri­queza pro­du­zida e dos re­cursos do Es­tado e ali­e­nando, através das pri­va­ti­za­ções, em­presas fun­da­men­tais para o de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico do País. Uma opção de classe que quer tornar de­fi­ni­tivo o que antes anun­ci­avam como sa­cri­fí­cios tem­po­rá­rios, para con­so­lidar o re­tro­cesso so­cial e acen­tuar ainda mais a con­cen­tração da ri­queza.

São peças deste «puzzle» o au­mento da ex­plo­ração sobre os tra­ba­lha­dores, di­mi­nuindo sa­lá­rios e ou­tras re­mu­ne­ra­ções; a eter­ni­zação da pre­ca­ri­e­dade; a fa­ci­li­tação dos des­pe­di­mentos; a cha­mada re­fun­dação do Es­tado e os cortes de quatro mil mi­lhões de euros; a des­truição de con­quistas e di­reitos fun­da­men­tais; os cortes nos va­lores das pen­sões e re­formas; a di­mi­nuição drás­tica do acesso a pres­ta­ções e apoios so­ciais; o des­man­te­la­mento das res­tantes fun­ções so­ciais do Es­tado, de­sig­na­da­mente do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e da es­cola pú­blica; o ataque ao di­reito à ha­bi­tação através da nova lei das rendas.

O País não aguenta mais!

O PS, «pai» dos PEC e pri­meiro subs­critor do pacto de agressão, após um efé­mero fo­gacho em que fazia crer que de­fendia a de­missão deste Go­verno e a re­a­li­zação de elei­ções, de­pressa acertou o passo e pros­segue o seu rumo co­la­bo­ra­ci­o­nista que o cha­mado «do­cu­mento de Coimbra», subs­crito por Se­guro e An­tónio Costa, vem con­firmar.

O País não aguenta mais, é pre­ciso der­rotar este Go­verno e esta po­lí­tica. O Co­mité Cen­tral do Par­tido, reu­nido no do­mingo, sa­li­entou o «papel in­subs­ti­tuível da luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções, con­dição não só para re­sistir à ofen­siva e de­fender di­reitos, como para se cons­ti­tuir en­quanto factor de alar­ga­mento da cons­ci­ência po­lí­tica para a ur­gente e ina­diável rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e a cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva».

Trans­formar a cam­panha de in­for­mação e es­cla­re­ci­mento que es­tamos a di­na­mizar numa ex­pres­siva cam­panha de massas, que di­funda am­pla­mente a aná­lise e as pro­postas do Par­tido, é uma forma de ga­nhar cada vez mais por­tu­gueses para a «exi­gência da re­a­li­zação de elei­ções an­te­ci­padas que de­volvam a pa­lavra ao povo» e para a ne­ces­si­dade e a pos­si­bi­li­dade de «romper com o ac­tual rumo de de­sastre e abrir ca­minho à cons­trução de uma po­lí­tica e de um go­verno pa­trió­ticos e de es­querda». Vamos a isso!



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