Depoimento de Rashid Saeed*

Conquistar a democracia

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A si­tu­ação no Sudão é par­ti­cular. De há um ano a esta parte e de­vido à se­pa­ração do nosso ter­ri­tório em dois países, um a Norte e outro a Sul, os par­tidos po­lí­ticos – e claro que também os co­mu­nistas – têm de adaptar a sua es­tra­tégia e tác­tica ao con­texto. Neste mo­mento es­tamos em­pe­nhados na pre­pa­ração do nosso 16.º Con­gresso, que se vai re­a­lizar em Cartum, e que de­verá abordar de forma pro­funda as novas con­di­ções, no­me­a­da­mente através da re­a­dap­tação do nosso pro­grama.

Para o Con­gresso duas ques­tões são desde logo fun­da­men­tais. Pri­meiro, o ob­jec­tivo de reu­ni­ficar o país. Se­gundo, con­ti­nuar o com­bate à di­ta­dura de ins­pi­ração is­la­mista que há 24 anos se impôs no Sudão, li­de­rada pelo ge­neral Al Ba­chir.

Pas­sámos por um pe­ríodo de clan­des­ti­ni­dade. Hoje somos um par­tido legal, mas cuja ac­ti­vi­dade está ex­tre­ma­mente con­di­ci­o­nada pelo re­gime, que não per­mite grande li­ber­dade de acção e or­ga­ni­zação. Um exemplo disso mesmo é a si­tu­ação do nosso jornal, o Al-Midan, que ce­lebra 62 anos em es­tado de in­ter­dição de cir­cu­lação. Isto é, não po­demos im­primir e dis­tri­buir o jornal, so­mente pu­bli­camos a versão na in­ternet.

Em 2005, com os acordos de paz, o Par­tido Co­mu­nista e o nosso jornal foram le­ga­li­zados no quadro de um am­bi­ente de de­sa­nu­vi­a­mento. Mas com a se­cessão do Sul, o re­gime voltou à carga e proibiu a cir­cu­lação do Al-Mida em papel. Ora, num país como o Sudão, a versão im­pressa é a forma de chegar não apenas aos nosso mi­li­tantes, como, so­bre­tudo, às massas po­pu­lares. Sem isso, es­tamos ex­tre­ma­mente con­di­ci­o­nados.

Com­bater a di­ta­dura de ins­pi­ração is­la­mista é, neste con­texto, o prin­cipal ob­jec­tivo do PC Su­danês, o que está in­ter­li­gado com a con­quista de um re­gime de­mo­crá­tico de am­plos di­reitos e li­ber­dades e a cons­trução de um Es­tado laico. A re­pressão e o des­fa­vo­re­ci­mento da po­pu­lação do Sul foi, aliás, um dos mo­tivos para que muitos dos seus ha­bi­tantes se ex­pres­sassem pela se­cessão. E a frag­men­tação pode não ficar por aqui, já que con­tinua o con­flito no Darfur.

Con­quis­tado um re­gime de­mo­crá­tico num país uni­fi­cado e em paz, o grande ob­jec­tivo é a ele­vação das con­di­ções de vida da es­ma­ga­dora mai­oria do nosso povo. 80 por cento da po­pu­lação su­da­nesa é pobre, e 30 por cento en­contra-se em ca­rência ali­mentar ex­trema. O re­gime is­la­mista pri­va­tizou a es­cola pú­blica, a saúde, todos os ser­viços pú­blicos, por isso, para os co­mu­nistas, é ne­ces­sário e ur­gente res­ta­be­lecer um re­gime de­mo­crá­tico que tenha como ob­jec­tivos re­cons­truir os ser­viços pú­blicos uni­ver­sais, assim como uti­lizar os re­cursos na­tu­rais e os seus pro­veitos em prol de todos os su­da­neses.

 

* Membro da direcção do PC Sudanês



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