Para vencer a crise só há um caminho

Rejeitar o programa de agressão

O pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar do PCP acusou o Go­verno de não dizer onde corta os 4000 mi­lhões de euros, porque quer fugir a esse de­bate, e con­si­derou que ver­da­dei­ra­mente o que ele pre­tende é fa­ci­litar os des­pe­di­mentos, pi­orar o acesso à saúde, de­gradar a es­cola pú­blica, en­tregar a eco­nomia aos grandes in­te­resses.

«O ver­da­deiro pro­grama que está sub­ja­cente a esta po­lí­tica não é conter o dé­fice e a dí­vida pú­blica. O ver­da­deiro pro­grama é per­mitir os des­pe­di­mentos mais fá­ceis, re­duzir os dias de in­dem­ni­zação para um terço do que eram; é im­pedir as pes­soas de terem acesso à saúde por ra­zões sócio-eco­nó­micas; é dar cabo da es­cola pú­blica des­pe­dindo pro­fes­sores e não do­centes; é en­tregar ala­vancas fun­da­men­tais da eco­nomia a grandes grupos eco­nó­micos na­ci­o­nais e es­tran­geiros», ex­pli­citou Ber­nar­dino So­ares, con­victo de que é este o ver­da­deiro pro­grama que o Go­verno tem na manga.

O líder par­la­mentar co­mu­nista fa­lava sexta-feira pas­sada no de­bate de ur­gência sus­ci­tado pelo PS sobre a al­ter­na­tiva para a crise, onde o Go­verno (re­pre­sen­tado por Portas e Gaspar) rei­terou o cum­pri­mento do me­mo­rando da troika, entre a ameaça ve­lada – «se aban­do­narmos o rumo tra­çado para che­garmos a porto se­guro fi­ca­remos ine­vi­ta­vel­mente à de­riva numa tem­pes­tade de pe­rigos e sem pers­pec­tiva de au­xílio», disse o mi­nistro das Fi­nanças, por exemplo –, e o na­moro ao PS como par­tido subs­critor do me­mo­rando para chegar a «com­pro­missos, aceites por ambas as partes».

Não é se­gu­ra­mente nem este o ca­minho nem esta a po­lí­tica, con­trapôs o PCP, de­fen­dendo que só com uma po­lí­tica de re­ne­go­ci­ação da dí­vida (apos­tando si­mul­ta­ne­a­mente no au­mento da pro­dução, na di­na­mi­zação da pro­cura in­terna, numa justa dis­tri­buição da ri­queza) é que «vamos vencer a crise em que es­tamos».

Ber­nar­dino So­ares afirmou ainda não ver «grande di­fe­rença entre os que di­ziam e dizem que é com o me­mo­rando da troika que vai haver cres­ci­mento e em­prego, e aqueles que dizem que querem cres­ci­mento e em­prego mas também querem cum­prido o me­mo­rando».

Ora com este pacto de agressão «não se tra­balha para o cres­ci­mento e o em­prego», tra­balha-se, sim, «para a re­cessão e para o de­sem­prego», ob­servou, ci­ente de que «quem não as­sumir isso com cla­reza está a en­ganar os por­tu­gueses quanto aos ver­da­deiros re­sul­tados da po­lí­tica que de­fende».

Lem­brou, por outro lado, que o PCP sempre de­fendeu contas pú­blicas equi­li­bradas, mas com o cres­ci­mento eco­nó­mico. E o que temos tido ao longo dos anos é a «opção entre pôr a eco­nomia a tra­ba­lhar para re­duzir o dé­fice ou pôr o dé­fice a tra­ba­lhar para re­duzir a eco­nomia», sendo que o Go­verno ac­tual e o seu an­te­cessor o que fi­zeram, acusou, «foi pôr o dé­fice a tra­ba­lhar para re­duzir a eco­nomia, com a con­sequência de com isso se re­duzir a eco­nomia e não o dé­fice».

Con­gra­tulou-se, noutro plano ainda, por «toda a gente já dizer que afinal a pro­cura in­terna também é im­por­tante». E anotou a este res­peito que se as PME ca­recem de cré­dito, o que é um facto, mais pre­cisam ainda que haja pro­cura in­terna, que as pes­soas te­nham di­nheiro para com­prar os seus bens e ser­viços. «Essa é a pri­meira ne­ces­si­dade e a mais ur­gente das PME», ga­rantiu Ber­nar­dino So­ares.


Ca­tás­trofe

«En­ga­naram os por­tu­gueses e os nú­meros são ab­so­lu­ta­mente elu­ci­da­tivos». A acu­sação foi di­rei­tinha para o Go­verno e para os par­tidos que o apoiam. Ho­nório Novo aludia ao facto de a re­a­li­dade estar to­tal­mente des­fa­sada da pro­messa feita há quase dois anos pelo Exe­cu­tivo de Passos e Portas de que o me­mo­rando da troika ne­go­ciado pelo PS era «ine­vi­tável e cons­ti­tuía o único ca­minho para re­duzir o dé­fice, re­e­qui­li­brar as contas pú­blicas, con­trolar e sus­tentar a dí­vida, pagar os com­pro­missos e voltar a fazer crescer Por­tugal».

Os dados com­provam como nada bate certo com o anun­ciado: «Em Maio de 2011, no me­mo­rando da troika anun­ciava-se que o dé­fice em 2013 seria de menos 3%; vai ser de 4,5%, 4,9%, 5%. Foi dito que em 2013 o País es­taria a crescer 1,2% do PIB; men­tira, vai con­ti­nuar a de­crescer 2%, no mí­nimo. Afir­mava-se que a taxa de de­sem­prego iria baixar de 12,9% para 12,4%; men­tira, vai ser su­pe­rior a 17,5%. E quanto à dí­vida pú­blica, pro­metia-se que seria 107% do PIB em 2012 e 108% em 2013; mais uma enorme men­tira, no final de 2012, a dí­vida ul­tra­passa 122% do PIB, mais do que a sexta ava­li­ação cor­ri­gida anun­ciara para o final deste ano, mais 15 pontos per­cen­tuais do que dis­seram que seria em Maio de 2011».

«Este é o re­sul­tado ca­tas­tró­fico de um ver­da­deiro pacto de agressão contra Por­tugal e os por­tu­gueses», con­cluiu Ho­nório Novo.



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