Venezuela vai a votos
Cumprindo com uma Constituição aprovada com o voto popular, os venezuelanos voltam às urnas no dia 14 de Abril para nova consulta presidencial, ainda sob o forte impacto emocional da partida física de Hugo Chávez.
Por recomendação expressa do líder da revolução bolivariana, manifestada no discurso memorável de 8 de Dezembro – uma peça de oratória e estratégica que hoje ganha uma dimensão gigantesca – o candidato das forças progressista é Nicolás Maduro, até há pouco vice-presidente. Do outro lado, repete Enrique Capriles, actual governador de Miranda – onde está Caracas – e um dos poucos estados (três de 20) conquistados pela oposição nas eleições de Dezembro de 2012, as primeiras sem a participação de Hugo Chávez. Capriles, de família emigrante abastadíssima, é de formação fascista. Na juventude foi membro de Tradição, Família e Propriedade. Este grupo, fundado por Plínio Corrêa de Oliveira em 1960, é uma seita católica ultra-conservadora, que foi criticada, em Abril de 85, pela Conferência Nacional de Bispos Brasileiros, que a acusou de «fanatismo religioso» e denunciou o «culto prestado ao seu chefe e à sua progenitora». Nos anos 70 a sua actividade, principalmente na América do Sul, esteve marcada por um anti-marxismo primário e pela luta contra a Teologia da Libertação. Tornaram-se tão perigosos na Venezuela que, em 1984, o governo de Jaime Lusinchi proibiu a sua actividade, acusando a TPF de organizar um complot para assassinar o Papa João Paulo II.
Duas hipóteses fascistas
Enrique Capriles pensou durante vários dias se ia ou não a eleições e parece ter sido literalmente «empurrado» para nova postulação. Decidiu, então, enveredar por um discurso de enorme agressividade e insulto à memória e à família de Hugo Chávez. A sua intenção é uma tentativa de agradar ao sector mais fascista e claramente golpista da oposição, que o criticou acremente por ter reconhecido a derrota nas eleições de Outubro de 2012, e prenuncia uma campanha de provocação e ódio, que coloca no horizonte duas hipóteses que já foram denunciadas pelas forças bolivarianas. Ambas estão ligadas aos constantes ataques ao organismo eleitoral, uns saídos da boca de Capriles, outros veiculados diariamente pela comunicação social que, na sua grande maioria, responde aos interesses da oposição mais visceramente anti-bolivariana. A primeira é a suspeita de que Capriles poderia retirar-se da luta a poucos dias do 14 de Abril por alegadas «faltas de garantias democráticas». A segunda seria ir até ao fim para continuar com as provocações e as tentativas de desestabilização e, no momento da verdade, não reconhecer a uma nova derrota, que poderia pôr ponto final à sua ambiciosa carreira política.
Sondagens dão vitória bolivariana
Segundo as mais recentes sondagens, Maduro ganharia comodamente com uma vantagem que estaria entre os 22 e os 16 pontos. Dataanálisis, empresa aliada da oposição, em estudo realizado em 12 e 13 de Março, afirma que o seu candidato reúne o apoio de 34,8% do eleitoral e Maduro supera-o por praticamente 16 pontos. IVAD, em sondagem feita entre 12 e 18 do mesmo mês fala numa diferença, a favor de Maduro, que se situa nos 22 pontos. Mas há mais. John Kelly afirmou há poucos dias que antecipa que Maduro ganhará as «eleições de 14 de Abril e que o país continue na mesma direção que sob o falecido Hugo Chávez». John Kelly é general e... chefe do Comando Sul dos EEUU.
O melhor sistema eleitoral do mundo
Quem assim se exprime sobre a Venezuela é Jimmy Carter (Setembro 2012) que, de passagem, se justifica acrescentando que tem essa opinião depois de ter assistido a 92 processos eleitorais pelo mundo fora.
Eduardo Semtei, jornalista da oposição, afirma que não há possibilidade de fraude eleitoral e que não acredita que o Conselho Nacional Eleitoral «seja um curral de delinquentes e patifes a controlarem máquinas para alterar o resultado».
Vicente Díaz, membro principal do CNE e crítico feroz do movimento bolivariano, afirma que «todo o venezuelano que vota por uma opção pode estar seguro de que o seu voto será contabilizado e será incorporado à totalização; pode votar com confiança».
Numa crítica aos anti-chavistas que, preparando-se para desconhecer o resultado eleitoral, criticam irracionalmente o CNE e querem voltar ao voto manual, parafraseou uma frase de Cristo: «Perdoa-os, Senhor, que não sabem o que dizem! Pedir isso é um «golo na própria baliza»...