Ler «O Capital»

Filipe Diniz

A recente crise despoletada em Chipre obriga a um esforço de informação. E não é fácil, porque os grandes media fazem com a crise do capitalismo a mesma coisa que fazem com as agressões imperialistas: são parte interessada e cúmplice, e «informam» em função disso.

Por exemplo: em relação à bárbara medida, sem precedentes, de sacar dinheiro aos depositantes dos bancos, grandes ou pequenos, o que destacam em coro esses media? Que se trata de ir às contas onde dinheiro sujo dos «russos» é branqueado. Como se não houvesse abundante branqueamento de dinheiro da mesma origem em outras sedes, em países como a Holanda ou a Grã-Bretanha ou o Luxemburgo. Como se fosse por acaso que duas das quatro maiores firmas mundiais de contabilidade (KPMG e PricewaterhouseCoopers, que não são certamente «russas») estão instaladas na ilha. Como se o Laiki Bank, agora em maus lençóis, não tivesse como um dos maiores accionistas uma companhia do Dubai. Como se, no fim de contas, esse dinheiro «russo» não fosse hoje parte integrante do sistema financeiro do capitalismo global onde não tem cor, nem cheiro, nem nacionalidade.

Se o Laiki Bank atraía investimentos do exterior com taxas de juro da ordem dos 5%, que diferença faz isso em relação ao que fazia o ICESAVE na Islândia, para onde afluíam vultuosos depósitos oriundos da Grã-Bretanha, por exemplo? A questão é ainda a mesma: os mecanismos que levam o capital a procurar maximizar os lucros na especulação financeira, para compensar a inexorável lei da queda tendencial da taxa de lucro no sistema produtivo. E se os lucros do grande capital se encontram em risco na roleta financeira, avançam as troikas para roubar aos trabalhadores e garantir os bancos.

No «Capital» (Livro 3.º, Tomo VI) Marx enumera seis «causas contrariantes» dessa lei. Vale a pena sublinhar quatro delas: a elevação do grau de exploração do trabalho; a compressão do salário para baixo do seu valor; a sobrepopulação relativa; o comércio externo. Relê-las é ler, em síntese, o programa das troikas, que Passos e Portas aplicam de forma fanática e ao qual Seguro garante fidelidade.



Mais artigos de: Opinião

O Chipre só tem uma solução!

O desenrolar dos acontecimentos no Chipre, sujeito a um autêntico assalto comandado pela Alemanha por via do Eurogrupo, levanta um sem número de questões. Tentaremos por isso centrarmo-nos apenas em alguns aspectos chave da situação. Uma primeira nota vai para o carácter...

Expressão da capacidade realizadora do PCP

Coincidindo com as comemorações do 92.º Aniversário do Partido, entramos igualmente numa fase decisiva da preparação da Festa do Avante!. Está já disponível a EP Entrada Permanente para a 37.ª edição da Festa, que terá lugar nos próximos dias 6, 7 e 8 de Setembro na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal.

Os confiáveis

O escândalo do roubo às contas particulares dos cipriotas decidido pelos 17 ministros da Economia dos países do Euro, evidenciou que os atilados dirgentes da «Europa Connosco» são aventureiros e, sobretudo, gente nada confiável. Aventureiros porque, julgando velar pelos...

O caminho de Seguro

Seguro não pára: depois da «hora da mudança», ei-lo, frenético, em rota de moção para a mudança… Tudo mentira. Quando anunciou a chegada da «hora da mudança» estava, certamente, a pensar na mudança da hora – que essa, sim,...

Iguais – também na hipocrisia

Coloca-se por vezes a questão de destrinçar as diferenças, por escanzeladas que sejam, entre as forças que apoiam e concretizam a política de direita – PS, PSD e CDS-PP. É claro que, vistas à lupa, descobre-se umas escassas nuances, de tonalidade ou de executante,...