O coro dos«remodeladores»

Carlos Gonçalves

Como o PCP previu e pre­veniu, no quadro do apro­fun­da­mento da crise ca­pi­ta­lista, o re­sul­tado destes muitos anos de contra re­vo­lução e de di­ta­dura do ca­pital fi­nan­ceiro, da UE e do Euro, é uma si­tu­ação ca­tas­tró­fica. A sé­tima ava­li­ação da troika veio apenas com­provar o que era evi­dente – que esta po­lí­tica serve os grandes se­nhores do di­nheiro e não re­solve coisa ne­nhuma, nem o dé­fice, nem a dí­vida; que o saque do país, dos tra­ba­lha­dores e do povo é o ob­jec­tivo real do pacto de agressão, anti-pa­trió­tico e anti-po­pular; e que este é um rumo sem saída de de­sastre e de­clínio na­ci­onal.

Mesmo assim, ou por isso mesmo, de­ci­diram novas me­didas de con­ti­nui­dade do roubo. Mas o povo luta e re­siste e a re­a­li­dade re­volta-se. A CRP causa di­fi­cul­dades ao es­bulho do OE, logo o Go­verno fora da lei dis­para contra o Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal. Mas es­cas­seiam os ar­gu­mentos e fa­lham-lhe forças, até o PS se vê obri­gado (contra gosto) a uma “moção de cen­sura”. A si­tu­ação está cada vez mais in­sus­ten­tável para este go­verno e até a po­lí­tica de di­reita co­meça a correr riscos.

Pe­rante o fra­casso, o agra­va­mento das di­fi­cul­dades e con­tra­di­ções in­ternas e a de­gra­dação da base so­cial e po­lí­tica de apoio ao go­verno – que re­sultam do em­bate per­sis­tente da luta po­pular de massas (por mais que a es­condam), a pu­ta­tiva re­mo­de­lação torna-se a “banha da cobra” da sal­vação do Pacto.

E eis que todos os “troi­kistas”, uns às claras, ou­tros nem por isso, pedem a mi­rí­fica re­mo­de­lação do go­verno, para re­solver a “de­so­ri­en­tação” e a “in­com­pe­tência”, que assim se re­velam o que sempre foram - bodes ex­pi­a­tó­rios, isto é, mi­nis­tros des­car­tá­veis, para que possa con­ti­nuar a mesma po­lí­tica.

Para o PS, a “re­mo­de­lação” pode ajudar a manter as elei­ções afas­tadas e isso é o que de facto lhe im­porta. Para o an­gus­tiado Re­belo Sousa, que já está a ver o go­verno “feito ao bife”, é ur­gente uma “re­mo­de­lação pro­funda”, que pode até ser de todo o Go­verno e meter gente da “área do PS”, isto é um “Go­verno de sal­vação” do ca­pital. Com vozes e so­listas vá­rios, o coro dos “re­mo­de­la­dores” só toca a mú­sica do ca­pital fi­nan­ceiro, para salvar o pacto de agressão e afundar o país.

É ur­gente acabar com esta mú­sica da des­graça e, apoi­ados no grande coral da luta de massas, fazer soar a sin­fonia dum Por­tugal com fu­turo.



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