PCP exige apoio adequado à criação artística

Não há democracia sem Cultura

A cen­sura fi­nan­ceira está a as­fi­xiar a cri­ação ar­tís­tica, alerta o PCP, que acusa o Go­verno de querer apenas uma «cul­tura de en­tre­te­ni­mento e di­versão, ja­mais uma cul­tura re­sis­tente, li­ber­ta­dora e in­de­pen­dente».

Go­verno as­fixia fi­nan­cei­ra­mente a cri­ação ar­tís­tica

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As fun­ções cul­tu­rais do Es­tado não estão a ser cum­pridas e «sub­sumem-se na pro­pa­ganda do re­gime, na pro­moção de um ou outro rosto da cul­tura pop», em «eventos semi-pu­bli­ci­tá­rios», «na cri­ação de marcas tendo como pre­texto a arte» - ini­ci­a­tiva onde «se afundam mi­lhares de euros» -, en­quanto aos cri­a­dores, agentes e di­fu­sores da Cul­tura são so­ne­gados os meios in­dis­pen­sá­veis ao pros­se­gui­mento do seu tra­balho, de­nun­ciou o de­pu­tado co­mu­nista Mi­guel Tiago.

A tes­te­mu­nhar este gar­rote está o facto de o corte no apoio di­recto às artes, desde 2009, ser su­pe­rior a 75 por cento. O re­sul­tado dos con­cursos - pela forma (atrasos e mu­dança de re­gras a meio) e con­teúdo (cortes de quase 50% dos va­lores de fi­nan­ci­a­mento e di­mi­nuição da can­di­da­turas fi­nan­ci­adas) - é igual­mente elu­ci­da­tivo quanto às ori­en­ta­ções e ob­jec­tivos em pre­sença, sa­li­entou o par­la­mentar do PCP, que vê na acção do Go­verno o ní­tido pro­pó­sito de ani­quilar a li­ber­dade ar­tís­tica.

Pe­núria for­çada

Na de­cla­ração po­lí­tica que pro­feriu sobre o tema há oito dias, no Par­la­mento, em nome da sua ban­cada, Mi­guel Tiago lem­brou ainda essa outra cir­cuns­tância la­men­tável – ver­da­deira marca obs­cu­ran­tista que do­mina as op­ções go­ver­na­tivas – que é a de o or­ça­mento em vigor não atri­buir «um único euro pro­ve­ni­ente dos im­postos para o apoio às artes ou à pro­dução ci­ne­ma­to­grá­fica». Com efeito, es­cla­receu, no que toca às Artes, o que há é «uma mí­sera fatia dos jogos da Santa Casa» e, para o ci­nema, uma taxa sobre a pu­bli­ci­dade e os ca­nais por subs­crição. «Nem mesmo o re­co­nhe­ci­mento in­ter­na­ci­onal em fes­ti­vais de muitos re­a­li­za­dores por­tu­gueses sen­si­bi­liza o Go­verno», ver­berou, ob­ser­vando que são al­guns deles a as­se­gurar pelos pró­prios meios as des­lo­ca­ções se querem par­ti­cipar nesses fes­ti­vais.

Na sua in­ter­venção, que sus­citou per­guntas apenas das ban­cadas do BE e do PS, não tendo re­a­gido nem o PSD nem o CDS-PP - «quando se fala de cul­tura, a di­reita não tem nada para dizer», co­mentou a de­pu­tada do Bloco Ca­ta­rina Mar­tins -, Mi­guel Tiago su­bli­nhou ainda que o fi­nan­ci­a­mento às es­tru­turas de Arte e Cul­tura não é uma dá­diva do Go­verno antes cor­res­ponde a uma obri­gação de­vida àqueles que «são os ver­da­deiros cri­a­dores e ac­tores da cul­tura em Por­tugal».

Sem crí­tica dura não passou, por outro lado, a cres­cente de­missão do Es­tado no cum­pri­mento do ser­viço pú­blico que lhe in­cumbe no plano da Arte e Cul­tura, bem como a na­tu­reza das op­ções de po­lí­tica do Go­verno cujas con­sequên­cias estão à vista em planos como «pri­va­ti­za­ções e con­ces­sões na área dos Pa­lá­cios e Mo­nu­mentos, no aban­dono de pa­tri­mónio, na apro­pri­ação de te­a­tros por bancos, no en­cer­ra­mento de cen­tenas de salas de ci­nema, na as­fixia dos ci­ne­clubes, na des­truição da Tobis, no es­tran­gu­la­mento da Ci­ne­ma­teca, na pe­núria for­çada das es­tru­turas de cri­ação».

Lem­brar Álvaro Cu­nhal

No ano em que se co­me­mora o cen­te­nário do nas­ci­mento do his­tó­rico di­ri­gente co­mu­nista Álvaro Cu­nhal, a sua qua­li­dade de in­te­lec­tual e também de «homem das artes e da cul­tura» foi evo­cada por Mi­guel Tiago, que re­levou nele a sua «con­cepção da arte como valor hu­mano e, mais do que isso, como valor so­cial».

Um valor so­cial que a acção des­trui­dora deste Go­verno «não ca­lará», su­bli­nhou, afi­an­çando que o PCP não aceita «uma cul­tura mar­ginal» nem a po­lí­tica de «mi­ga­lhas e es­molas» que este e ou­tros go­vernos ape­lidam de «sub­sí­dios».

E o PCP re­jeita-a com fir­meza porque essa é a po­lí­tica que à ac­tual «pre­ca­ri­e­dade la­boral» e à «des­pro­tecção so­cial» quer juntar o «de­sem­prego mas­sivo», é a po­lí­tica que quer impor a «mo­no­cul­tura do­mi­nante e en­tor­pe­ce­dora», em subs­ti­tuição da «pro­dução ar­tís­tica e cul­tural, livre e in­de­pen­dente».

Daí a exi­gência do PCP, rei­te­rada por Mi­guel Tiago, de um po­lí­tica de fi­nan­ci­a­mento com re­cursos su­fi­ci­entes – 1% para a Cul­tura - , bem como de con­cursos «trans­pa­rentes, de­mo­cra­ti­ca­mente es­cru­ti­ná­veis, que saibam dis­tin­guir entre as com­pa­nhias de re­per­tório e as de ex­pe­ri­men­tação e in­ves­ti­gação».



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