O caso Offshore Leaks

A riqueza oculta

A di­mensão da fuga é iné­dita e pro­mete agitar as águas em muitos países do mundo, re­ve­lando nomes de em­presas e par­ti­cu­lares que ocultam nos pa­raísos fis­cais uma ri­queza imensa.

Fuga de do­cu­mentos re­vela se­gredos do ca­pital

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Uma equipa de jor­na­listas de todo o mundo tra­ba­lhou nos úl­timos 15 meses sobre 2,5 mi­lhões de fi­cheiros que re­velam os se­gredos de mais de 120 mil em­presas se­de­adas em pa­raísos fis­cais (offshore), bem como os nomes de po­lí­ticos e mag­natas de todo o mundo que par­ti­cipam nesta fuga fiscal pla­ne­tária.

A gi­gan­tesca base de dados ob­tida pelo In­ter­na­ti­onal Con­sor­tium of In­ves­ti­ga­tive Jour­na­lists (ICIJ), uma as­so­ci­ação sem fins lu­cra­tivos se­deada em Washington, contém re­gistos de­ta­lhados das contas de em­presas e in­di­ví­duos de mais de 170 países e ter­ri­tó­rios.

«O ta­manho total dos fi­cheiros, cerca de 200 gi­gabytes, é mais de 160 vezes maior do que a fuga de in­for­mação dos do­cu­mentos do De­par­ta­mento de Es­tado dos EUA, a que a Wi­ki­leaks teve acesso em 2010», lê-se no co­mu­ni­cado da ICIJ, di­vul­gado dia 4.

A as­so­ci­ação, que ob­teve os dados de an­tigos fun­ci­o­ná­rios das em­presas de Port­cullis Trustnet e Com­monwe­alth Trust Li­mited, con­firma o cres­ci­mento ex­po­nen­cial do mundo se­creto dos offshore, no qual as grandes for­tunas es­capam aos im­postos, ocultam actos de cor­rupção e au­mentam o fosso entre ricos e po­bres.

Esta fraude fiscal gi­gan­tesca custa caro aos povos, pe­na­li­zados com im­postos mais ele­vados para com­pensar os fundos im­pu­ne­mente des­vi­ados pelos po­de­rosos, que secam as eco­no­mias e pro­vocam o au­mento do de­sem­prego e a de­gra­dação das con­di­ções de vida.

O ICIJ re­fere ainda que os mag­natas re­correm a com­plexos es­quemas para ad­quirir man­sões, iates, obras de arte e ou­tros bens de luxo, fu­gindo ao fisco de uma forma anó­nima, através de mé­todos que não estão ao al­cance do resto dos ci­da­dãos.

Na in­ves­ti­gação par­ti­ci­param 86 jor­na­listas de 46 países de co­nhe­cidos ór­gãos de in­for­mação, como os bri­tâ­nicos The Guar­dian e BBC, o francês Le Monde, os ger­mâ­nicos Süd­deutsche Zei­tung e Nord­deuts­cher Rund­funk, o norte-ame­ri­cano The Washington Post e ca­deia ca­na­diana Ca­na­dian Bro­ad­cas­ting Cor­po­ra­tion, entre ou­tros 31.

Um mundo se­creto

A exis­tência de offshores é há muito co­nhe­cida e de­nun­ciada, mas os go­vernos con­ti­nuam a fe­char be­nig­na­mente os olhos de­vido às suas es­treitas li­ga­ções com o grande ca­pital.

Es­tima-se que abri­guem 25 bi­liões de euros, mas nin­guém sabe ao certo quais os mon­tantes que mo­vi­mentam, nem exac­ta­mente como e para onde. E os do­cu­mentos agora re­ve­lados, apesar da sua im­por­tância, apenas abarcam uma pe­que­nís­sima parte desta enorme eco­nomia sub­ter­rânea.



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