A génese do sindicalismo unitário

As ori­en­ta­ções tra­çadas pelo PCP no início dos anos 40 para o tra­balho sin­dical, de­sen­vol­vidas nos anos se­guintes nos planos teó­rico e prá­tico, foram de­ci­sivas para a cons­trução do mo­vi­mento sin­dical uni­tário con­subs­tan­ciado na CGTP-IN e mantêm hoje, com con­di­ções to­tal­mente di­versas, uma enorme ac­tu­a­li­dade. Se a edi­fi­cação em Por­tugal de uma «ver­da­deira cen­tral sin­dical» tinha já sido apon­tada por Álvaro Cu­nhal no IV Con­gresso do Par­tido, re­a­li­zado em 1946, tendo em conta que as «ve­lhas cen­trais sin­di­cais so­ço­braram du­rante estes longos anos de terror fas­cista», este ob­jec­tivo só foi con­cre­ti­zado no início da dé­cada de 70.

Entre as duas datas, com avanços e re­cuos, há um in­tenso labor pela con­cre­ti­zação das ori­en­ta­ções de­fi­nidas, que eram: propor ver­da­deiras listas de frente única e não listas com­postas ex­clu­si­va­mente por co­mu­nistas; fazer pressão sobre as di­rec­ções dos sin­di­catos na­ci­o­nais para que as­sumam as rei­vin­di­ca­ções exi­gidas pelas massas ope­rá­rias; en­trar em massa para os sin­di­catos na­ci­o­nais e acon­se­lharem os tra­ba­lha­dores a en­trarem, com a fi­na­li­dade de trans­for­marem estes em or­ga­nismos de­fen­sores dos in­te­resses de classe; eleger di­rec­ções de tra­ba­lha­dores ho­nestos que gozem da con­fi­ança da classe quais­quer que sejam as suas con­vic­ções po­lí­ticas ou re­li­gi­osas.

A con­cre­ti­zação destas ori­en­ta­ções, de­fi­nidas em 1943, le­varia dois anos de­pois à eleição de meia cen­tena de di­rec­ções sin­di­cais uni­tá­rias e, como re­corda Amé­rico Nunes num ar­tigo re­cen­te­mente pu­bli­cado no Avante!, a um «novo ciclo de con­quista de di­rec­ções sin­di­cais entre 1966 e 1970». A 1 de Ou­tubro deste úl­timo ano era criada a In­ter­sin­dical, com as ca­rac­te­rís­ticas es­sen­ciais que mantém ainda hoje: ser uma cen­tral sin­dical uni­tária, de classe, in­de­pen­dente, de massas e de­mo­crá­tica.

Como lem­brou Fran­cisco Lopes na sessão do Porto, Álvaro Cu­nhal re­flectiu também, e pro­fun­da­mente, sobre o sin­di­ca­lismo de classe – não apenas nas obras que pro­duziu na clan­des­ti­ni­dade, mas também de­pois do 25 de Abril. O di­ri­gente do Par­tido lem­brou no­me­a­da­mente a par­ti­ci­pação, em 1995, numa ini­ci­a­tiva in­se­rida nas co­me­mo­ra­ções do 25.º ani­ver­sário da CGTP-IN, em que Álvaro Cu­nhal afirmou: «a au­to­nomia e a in­de­pen­dência do mo­vi­mento sin­dical sig­ni­ficam a nosso ver antes de mais au­to­nomia e in­de­pen­dência em re­lação às forças do ca­pital, in­cluindo aos go­vernos que as de­fendem e re­pre­sentam.» Uma lição in­tem­poral. 



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