A Constituição, roteiro para a utopia

«A Cons­ti­tuição en­quanto ro­teiro para a Utopia»: foi este o mote para um de­bate re­a­li­zado re­cen­te­mente em São João da Ma­deira, que contou com a pre­sença de João Oli­veira, de­pu­tado do PCP na As­sem­bleia da Re­pú­blica e membro do Co­mité Cen­tral. Após uma re­flexão ini­cial sobre o pró­prio con­ceito de utopia, que re­mete tanto para um local não exis­tente como para o de­sejo de uma so­ci­e­dade mais justa, es­ta­be­leceu-se desde logo uma dis­tância entre a Utopia e o texto cons­ti­tu­ci­onal, que pro­cura uma in­ter­venção sobre o con­creto e uma al­te­ração efec­tiva, ma­te­rial, do exis­tente. Ainda assim, a Cons­ti­tuição de Abril tem se­me­lhanças com textos de ca­rácter utó­pico, ao con­tem­plar a as­pi­ração a uma so­ci­e­dade mais justa.

Foi pre­ci­sa­mente este con­fronto entre dois pres­su­postos te­o­ri­ca­mente in­con­ci­liá­veis – a origem con­creta e ma­te­rial das normas cons­ti­tu­ci­o­nais e o pro­jecto de so­ci­e­dade que ori­enta a di­mensão pro­gra­má­tica da Cons­ti­tuição – que João Oli­veira pro­curou ana­lisar. Pri­meiro de­sen­vol­vendo uma abor­dagem his­tó­rica aos textos cons­ti­tu­ci­o­nais, num sen­tido lato, e de­pois apro­fun­dando a re­flexão sobre a Cons­ti­tuição apro­vada pela As­sem­bleia Cons­ti­tuinte em 1976. A sua razão de ser, ga­rantiu o de­pu­tado co­mu­nista, re­side na vida e nas ne­ces­si­dades do povo por­tu­guês, na ten­ta­tiva de propor a sua sa­tis­fação.

O pro­jecto con­sa­grado na Cons­ti­tuição, acres­centou João Oli­veira, com­porta uma ideia de so­ci­e­dade – de jus­tiça, igual­dade, fra­ter­ni­dade, pro­gresso, paz – que é de certa forma utó­pica, na me­dida em que aponta para o sonho como uma linha de ho­ri­zonte a que pro­gres­si­va­mente se pro­cura chegar. O ca­minho, esse, re­velou-se aci­den­tado, fruto do des­vir­tu­a­mento do texto ori­ginal da Cons­ti­tuição e dos atro­pelos a que tem sido su­jeito.

A Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa con­juga, por­tanto, o con­creto com o utó­pico, apon­tando o ca­minho para uma so­ci­e­dade que, não exis­tindo, se quer cons­truir. E para lá chegar, há que de­fendê-la, cumpri-la e efec­tivá-la. 



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