Mudar o Porto
No Porto, a CDU tem um património de intervenção e de conhecimento sustentados em anos e anos de trabalho junto das pessoas, com provas dadas ao nível da governação de importantes pelouros. Ao Avante!, Pedro Carvalho, cabeça de lista à Câmara Municipal, deu a conhecer o «projecto de esquerda» que responde às necessidades e aos seus problemas estruturais deste concelho, como o desemprego, a habitação, as acessibilidades, a perda de população e, entre outros, o encerramento de serviços públicos.
A CDU não aparece apenas quando existem eleições
Como avalias a situação no Porto, após 12 anos de governação da coligação PSD/CDS-PP?
O Porto perdeu peso económico e político a nível nacional e prosseguiu a sua desertificação humana e económica. Na última década, a cidade perdeu sete habitantes por dia, o peso da população com mais de 65 anos aumentou, representado hoje cerca de um quarto da população. Fruto de uma política de esvaziamento, de rendição aos interesses privados do grande capital que opera na cidade, o centro histórico perdeu população a um ritmo três vezes superior ao resto da cidade. Esta perda teve consequências no definhamento da actividade económica, sobretudo no comércio tradicional, assim como na receita fiscal.
Neste mandato, inscreveram-se nos centros de emprego cinco novos desempregados por dia, numa cidade com um fosso crescente entre pobres e ricos. No Porto cresceram, de forma mais acelerada que no resto do País, a pobreza, a fome e as desigualdades sociais. A «classe média» saiu da cidade por não encontrar habitação a preços acessíveis. Foram destruídos 1200 fogos de habitação social. A cidade está cada vez mais devoluta, com 29 mil fogos devolutos ou desocupados, sendo cada vez mais visível o crescimento do número de edifícios emparedados.
Agravaram-se as assimetrias entre a zona oriental, cada vez mais abandonada, e a zona ocidental, assim como entre a cota baixa e a cota alta, também fruto da redução dos serviços públicos. Muitos espaços e equipamentos públicos foram retirados do usufruto público, com uma política do PSD/CDS, muitas vezes viabilizada pelo PS, para concessionar tudo a privados. Na cidade, o autoritarismo reinou, num clima de confronto com as principais forças vivas. Este é o Porto que Rui Rio e a coligação PSD/CDS nos deixam. Este é o Porto que queremos mudar.
Uma das marcas do trabalho da CDU no Porto, para além do muito trabalho desenvolvido nos órgãos autárquicos, tem sido o contacto permanente com a população. De que forma é que estes dois factores se interligam?
É esse trabalho que nos dá um profundo conhecimento dos problemas e anseios dos portuenses, assim como dos problemas estruturais que afectam o Porto. É um trabalho corporizado em centenas de visitas, reuniões com as forças vivas da cidade e no gabinete da CDU, aberto à população, onde já recebemos, neste mandato, mais de duas mil pessoas. É desse contacto que resultam as nossas propostas. Neste mandato, o vereador da CDU apresentou mais do dobro das propostas do que o conjunto dos vereadores do PSD, PS e CDS. Esta é a nossa marca. A CDU não aparece apenas quando existem eleições. As propostas baseiam-se no conhecimento aprofundado do dia-a-dia da nossa cidade e o seu valor é reconhecido por parte da população e das forças vivas.
Na actual situação de crise social, económica e política no País, é válido o argumento de que as políticas autárquicas são completamente distintas das políticas nacionais, bem como os seus intervenientes?
Existe uma interligação profunda entre a política de direita que tem vindo a ser seguida a nível nacional e a nível local. Os partidos que governam a cidade são os mesmos que governam o País há 38 anos. A coligação PSD/CDS que governa o Porto nos últimos anos acrescentou austeridade à austeridade. O orçamento municipal para 2013 atingiu um dos níveis mais baixos, sem paralelo, com a redução do investimento em 17,7 milhões de euros, o aumento da carga fiscal e das taxas e o ataque aos trabalhadores, contribuindo para a redução da capacidade de resposta dos serviços públicos municipais.
O projecto da CDU e as suas candidaturas no Porto têm hoje uma importância fundamental, no contributo que podem dar para a afirmação de uma alternativa política de esquerda para o Porto e para Portugal.
Há candidatos apoiados pelo PSD e PS (Menezes e Pizarro) e há «independentes» (Rui Moreira e Nuno Cardoso), das mesmas áreas políticas. Rui Rio, presidente da Câmara pela coligação PSD/CDS-PP, declarou já que não apoia o candidato do seu partido. Qual a interpretação que a CDU faz destes factos?
O Porto tem sido refém das guerras partidárias internas e das ambições pessoais, nomeadamente entre o PSD e CDS-PP que governa a cidade e o PSD e CDS-PP que governa o País, o que não é aceitável. O Porto viveu de costas voltadas para Vila Nova de Gaia por causa disso e os meios de propaganda da Câmara foram postos ao serviço da promoção de Rui Moreira, um delfim de Rui Rio. O que é importante perceber é que não existem de facto candidaturas independentes. Se a candidatura de Luís Filipe Menezes é a candidatura do PSD de Passos Coelho, a candidatura de Rui Moreira é a candidatura do CDS-PP de Paulo Portas, é um veículo para eleição de elementos do antigo regime de Rui Rio e do CDS-PP. É de lembrar as responsabilidades, por exemplo, que Rui Moreira teve à frente da SRU. O mesmo se pode dizer de Nuno Cardoso, que é mais uma candidatura do PS em confronto com Manuel Pizarro, o candidato do governo PS de Sócrates.
Estas candidaturas, aproveitando o descontentamento estimulado face aos partidos e à «classe política», pretendem, no fundo, evitar que o outro descontentamento, face à política de desastre que tem vindo a ser seguida, provoque o esvaziamento dos partidos da troika. A 29 de Setembro, temos que dar um cartão vermelho a este governo e aos partidos da troika.
O que distingue a candidatura da CDU?
A CDU tem uma visão estratégica diferente. Temos um projecto e propostas concretas para inverter o actual modelo de desenvolvimento do Porto, que tem conduzido ao definhamento da cidade. É um projecto de esquerda, que responde às necessidades da população e aos problemas estruturais que o Porto enfrenta, reafirmando os valores de Abril. É um projecto que aproveita todas as potencialidades que a cidade tem, para que possamos ter um Porto vivo, dinâmico, verde e de justiça social, e que dá continuidade ao trabalho permanente de contacto e de proximidade com a população.
Atrair investimentos
Que Porto é possível ter, caso a população entregue a sua confiança à CDU nesta eleições?
Poderemos ter um Porto onde se preserve as comunidades locais, que recupere e repovoe o seu centro histórico, criando as acessibilidades e outras condições para que aí se possa viver, estudar e trabalhar. Onde a reabilitação urbana contribua para potenciar um mercado social de arrendamento e onde haja habitação, com rendas a custos controlados, apoiando a infra-estruturação da cidade. Onde se requalifique e modifique as cicatrizes deixadas pela VCI e a Circunvalação, que hoje constituem verdadeiros obstáculos à resolução das assimetrias de que a cidade padece. Um Porto em que se reforce o investimento público na reabilitação urbana e na requalificação dos bairros sociais.
Criando incentivos para atrair investimento para a cidade, teremos um Porto gerador de postos de trabalho, onde a cultura e o património sejam eixos principais de desenvolvimento. Um Porto de ambiente sadio, que estenda a sua mancha verde, aproveitando os corredores ecológicos naturais, que promova a eficiência energética e combata a poluição sonora, atmosférica e dos leitos de água.
Com a CDU, poderemos ter um Porto que reforce os serviços públicos e onde se dê predomínio ao transporte público, promovendo a interoperacionalidade da rede de transportes. Um Porto de cooperação intermunicipal e que estabeleça parcerias estratégicas com as suas forças vivas, onde o espaço e os equipamentos públicos sejam devolvidos aos portuenses. Este é o Porto que queremos e de que precisamos. Este é o desafio que lançamos aos portuenses e esperamos merecer a sua confiança.