A luta!

João Frazão

Tendo como pano de fundo as es­ta­tís­ticas do INE que dizem que Por­tugal se en­contra, em termos de pro­dução eco­nó­mica, no pa­tamar de há uma dé­cada atrás, Passos Co­elho foi ao Pontal anun­ciar que o rumo que nos trouxe à crise eco­nó­mica, so­cial e po­lí­tica, com o de­ses­pero de mi­lhares de fa­mí­lias, o de­sem­prego nos ní­veis mais ele­vados desde o fas­cismo, a acen­tu­ação brutal da ex­plo­ração, o agra­va­mento da po­breza, esse rumo, é para manter, ainda que tal seja feito à margem da lei - o tal risco cons­ti­tu­ci­onal.

Mas eu as­si­nalei que, no meio do dis­curso (que terá ser­vido mais para des­cansar o grande ca­pital be­ne­fi­ciário das suas po­lí­ticas), de­dicou ainda duas pa­la­vras aos que pro­testam. Em jeito de apelo, veio pedir união, para ajudar o Go­verno a con­cre­tizar as suas po­lí­ticas e quando che­gassem as elei­ções, lá para daqui a dois anos, te­riam então a opor­tu­ni­dade de ex­pressar a sua opi­nião, de fazer o seu jul­ga­mento.

Re­ve­lando a sua es­treita con­cepção de de­mo­cracia, hor­ro­ri­zado com a di­mensão e a di­nâ­mica da luta de massas, re­ceoso de que os tra­ba­lha­dores e o povo in­sistam em ma­ni­festar, nas em­presas e na rua, a exi­gência, que cresce a cada dia que passa, de uma outra po­lí­tica ao ser­viço do povo e do país, se­guro de que a res­posta às me­didas adi­ci­o­nais anun­ci­adas após cada ava­li­ação muito po­si­tiva da troika, não pode deixar de ser a in­ten­si­fi­cação da luta, Passos Co­elho pa­rece propor então aos mi­lhares de fun­ci­o­ná­rios pú­blicos que mandou des­pedir, que co­la­borem para o seu des­pe­di­mento; à ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores que aceitem pas­si­va­mente o au­mento do ho­rário do tra­balho e a re­dução dos sa­lá­rios; aos utentes das scuts que pa­guem sem re­filar; aos utentes do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde que as­sistam à en­trega dos hos­pi­tais aos pri­vados e que aceitem o corte nos me­di­ca­mentos; aos re­for­mados e pen­si­o­nistas que en­caixem a sua vida nos cortes ao seu ren­di­mento, nem que isso im­plique deixar de comer.

Na ver­dade, Passos Co­elho sabe que a luta, a luta or­ga­ni­zada, a luta que une as forças dos ex­plo­rados e dos opri­midos, essa, não con­quista apenas vi­tó­rias ime­di­atas, como as pá­ginas do Avante! nos trazem todas as se­manas. Ele sabe que a luta é, em si mesma, se­mente de novas forças trans­for­ma­doras e é o ter­reno mais fértil para a cons­trução da al­ter­na­tiva que o povo exige contra a al­ter­nância que as forças do­mi­nantes es­peram con­servar. É por isso que ela lhes custa tanto!




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