O nado-morto
Um cavalheiro identificado como presidente do PSD/Algarve decidiu que a «festa do Pontal» - realizada há dias em Quarteira, no aconchego de um chamado «calçadão» semeado de mesas para o jantar -, «representa o que mais de genuíno existe no PSD, uma festa do povo e para o povo, onde convivem de igual para o igual (sic) o ministro e o mais humilde militante e simpatizante».
Verifica-se que esta festa «do povo e para o povo» se encolhe, instantaneamente e no mesmo discurso, para um lugar «onde convivem de igual para o igual o ministro e o mais humilde militante e simpatizante», o que deixa de fora «o povo» mas, sem dúvida, reuniu à mesa «ministros e humildes militantes» a partilharem um arroz de pato, que se adivinha companheiral.
Resulta disto que a festa do Pontal exibiu, efectivamente, «o que de mais genuíno existe no PSD»: ministros e militantes irmanados no frémito «de ir ao pote» - como mimosamente o líder Pedro definiu, em vésperas da tomada do poder -, ficando obviamente de fora o povo, como sempre esteve, durante este tenebroso consulado.
O chanceler Coelho subiu ao palanque a improvisar mais um longo discurso onde, no atabalhoado do costume (incluindo o da gramática), quis dizer três coisas.
Que «os indícios» económicos demonstram que «estamos no rumo certo».
Que o parceiro CDS lhe deu «garantias» de coesão governamental.
Que «não se demitirá» em caso de desaire nas autárquicas.
Pelo meio, quis de novo pressionar o Tribunal Constitucional na apreciação do seu Orçamento - mais uma vez eivado de inconstitucionalidades -, embrulhando a coisa nas «dificuldades» que podem «pôr obstáculos» à sua bela governação.
Pelo que o chanceler mostrou duas coisas.
Que nada aprendeu com a denúncia do falhanço desta política feita pelo seu próprio ex-ministro das Finanças, nem com a balbúrdia pastoreada pelo seu parceiro Portas, nem com os protestos populares já generalizados e massivos por todo o País reclamando o fim imediato desta política de desastre nacional.
Que, finalmente, a sua prosápia das «garantias» de fidelidade do CDS e de que «não se demitirá» em caso de desastre eleitoral nas próximas autárquicas só mostra que, além de obstinado na continuação de uma política de erro generalizado, Passos Coelho está cheio de medo - precisamente do que fanfarronou não temer.
Dois anos passados, tornou-se correntio escrutinar a impreparação global deste Governo, que começa no próprio primeiro-ministro – um «jota» que não conseguiu construir uma carreira de barítono e agora sonhou destruir um regime democrático inteiro – e prossegue numa amálgama de gente que oscila entres os licenciados a fingir e os académicos a brincar à governação por folhas Exell, a generalidade com uma característica comum: um chocante desprezo pela vida dos portugueses e o futuro do País.
Expulsar este Governo nado-morto é um imperativo nacional.