Jovem alemão morre após maratona de trabalho

Escravatura dos estagiários

Moritz Erhardt, um jovem alemão de 21 anos, foi encontrado morto, após ter trabalhado sem interrupção durante três dias na sucursal londrina do Bank of America Merril Lynch. 

Jovens são vítimas de práticas desumanas

O corpo foi encontrado, dia 15, junto ao chuveiro, na residência para estudantes, Cleredale House, no Este de Londres, segundo noticiou o Independent.

O jornal cita mensagens anónimas divulgadas no site wallstreetoasis.com, onde colegas do falecido afirmam que o jovem chegou a casa às seis da manhã, após três dias de trabalho contínuo, e terá sucumbido a um ataque de coração ou de epilepsia.

Moritz Erhardt era estudante de gestão de empresas e estava a um ano de terminar o curso. Faltava-lhe sete dias para concluir o estágio de sete semanas na filial londrina da Merrill Lynch, banco de investimento que pertence ao Bank of America, a segunda maior entidade financeira norte-americana a seguir ao JP Morgan.

O incidente trouxe de novo para a ribalta as condições desumanas em que os jovens estagiários são forçados a trabalhar, na mira de conseguirem um emprego bem remunerado após o estágio.

A exploração desenfreada a que os estagiários são sujeitos já foi glosada num reality show, designado «The Work Experience» (experiência de trabalho), emitido pelo canal de televisão E4, em que os jovens são confrontados com situações humilhantes, sem se darem conta de que a empresa é uma encenação e que os seus quadros são actores.

A rotunda mágica

Os vários testemunhos recolhidos pelo Independent confirmam que os estagiários são forçados a cumprir horários de trabalho que ultrapassam o imaginável. No caso da banca, a jornada diária atinge habitualmente as 14 horas diárias e as 100 ou 110 por semana.

Um jovem que estagiou num banco de investimento em 2011 afirma que «os estagiários trabalham as horas que lhes são pedidas». E acrescenta que «o maior pesadelo era a chamada «rotunda mágica» («the magic roundabout»). Esta prática, à qual Moritz Erhardt terá sido sujeito, resume-se a ser levado de táxi para casa às sete da manhã, tomar um duche, mudar de roupa e regressar no mesmo táxi ao local de trabalho.

Segundo um colega, Erhardt terá trabalhado oito dias inteiros, dia e noite, em duas semanas. As suas últimas três jornadas que lhe custaram a vida estendiam-se por 21 horas.

Em cada Verão, o centro financeiro de Londres acolhe cerca de 300 estagiários durante sete a dez semanas. Os jovens esforçam-se ao máximo por impressionar os patrões: «Todos trabalhamos muitas horas, mas os que estão na banca de investimento ficam regularmente até às três ou quatro da madrugada». A violência dos horários é patente: «As pessoas ficam com o olhar turvado, bebem café para aguentar, mas ninguém se queixa porque a potencial recompensa é enorme. Competimos por empregos muito bem pagos», explicou um dos jovens citados pelo diário londrino.

Em troca desta submissão total, a banca remunera os estagiários muito acima dos restantes sectores, oferecendo-lhes 2700 libras por mês (3150 euros). Parece muito, mas os ritmos infernais de trabalho ficam na memória dos jovens como uma penosa experiência.

Tocado pelo escândalo, o Bank of America Merrill Lynch já anunciou que irá rever as práticas laborais do grupo, dando especial atenção aos membros mais jovens do pessoal. Em comunicado divulgado dia 23, a instituição compromete-se a constituir um grupo de especialistas para «analisar todos os aspectos desta tragédia». 




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