Tartufo e o PS
Molière, grande dramaturgo francês, escreveu em 1664 «Tartufo», uma sátira sobre a hipocrisia de um falso devoto, cujas palavras «santas» escondem a intriga para concretizar os seus reais intentos venais.
O PS, cuja génese é estranha ao movimento operário e sindical, nasceu em 1973 com alguns social-democratas e uns tantos figurões arregimentados pelo «estado de necessidade» dos grandes interesses, perante a crise revolucionária que levou ao derrube do fascismo, e visando «meter o socialismo na gaveta». Desde então, tem estado sob influência político-ideológica do «tartufismo», em que se afirma uma coisa para agir em sentido contrário.
Na história recente do PS estão os PEC e o pacto de agressão, em cuja teia de políticas do capital financeiro se mantém, em conflito com as suas declarações de defesa do «Estado social» e dos interesses do País. O PS orienta a sua acção, desde que se formou este Governo PSD/CDS, para o deixar governar até 2015, para que o caderno de encargos do capital financeiro vá o mais longe possível, com as consequências evidentes, e para que depois o poder caia no regaço do PS, em condições de fazer uns floreados «à esquerda».
O PS chegou a «exigir» eleições antecipadas, mas apenas para não ficar mal na fotografia da luta popular, e «fez de morto» no combate pela demissão do Governo. Na crise política, com o Governo derrotado, e ligado à máquina, em vez de um sopro para o seu derrube, o PS deu-lhe o oxigénio de «negociar» a sua continuidade (um dia se saberá o que então acordaram), e só «rompeu» com a certeza do «novo fôlego» deste Governo. E agora, na intervenção da «rentrée», A. J. Seguro fez «críticas duras» mas apenas q.b., defendeu o Tribunal Constitucional, mas para tentar prender a luta de classes nesse patamar, e de concreto nem uma palavra sobre romper com o pacto de agressão, demitir o Governo de desastre nacional e convocar eleições antecipadas.
Como Tartufo, o PS diz-se «do contra», mas o que quer é que o Governo continue, porque o que lhe importa não são os problemas do País, é tão só o poder venal, para continuar a política de direita.
Também por isso é urgente reforçar o PCP e a CDU.