Candidaturas de «cidadãos independentes»

Os perigos do discurso anti-partidos

O Par­la­mento apre­ciou faz hoje oito dias uma pe­tição da au­toria do Mo­vi­mento In­de­pen­dente para a Re­pre­sen­ta­ti­vi­dade Elei­toral onde os sig­na­tá­rios so­li­ci­tavam aos de­pu­tados que na pró­xima re­visão cons­ti­tu­ci­onal fosse aberta a pos­si­bi­li­dade aos cha­mados «ci­da­dãos in­de­pen­dentes» de se can­di­da­tarem às elei­ções le­gis­la­tivas sem terem de in­te­grar as listas de par­tidos.

Em jeito de nota prévia, o de­pu­tado co­mu­nista An­tónio Fi­lipe afirmou a re­cusa da sua ban­cada em pac­tuar com essa «for­mu­lação que está na moda» que é a de trans­formar os grupos de ci­da­dãos elei­tores em «ci­da­dãos in­de­pen­dentes».

Isto pela razão óbvia de que os ci­da­dãos que se can­di­da­taram aos ór­gãos das au­tar­quias lo­cais em listas de grupos de ci­da­dãos não ti­veram de apre­sentar «ne­nhum cer­ti­fi­cado de in­de­pen­dência nem ne­nhum com­pro­va­tivo de in­de­pen­dência», ha­vendo ci­da­dãos com car­tões de par­tidos e sem car­tões de par­tidos.

Para o PCP a de­sig­nação de in­de­pen­dentes é assim mis­ti­fi­ca­tória e, nessa me­dida, «não deve ser uti­li­zada, porque não cor­res­ponde à re­a­li­dade e porque a de­sig­nação legal é grupos de ci­da­dãos elei­tores».

Num de­bate onde só o BE deu aco­lhi­mento a esta pre­tensão – «a pe­tição abre ca­minho, há que pros­segui-lo até que seja aco­lhido pela Cons­ti­tuição, afirmou Ce­cília Ho­nório –, o PCP mos­trou-se fa­vo­rável a um «re­forço sig­ni­fi­ca­tivo dos me­ca­nismos de de­mo­cracia par­ti­ci­pa­tiva a todos os ní­veis», lem­brando que a «de­mo­cracia não se es­gota nos par­tidos» e que «o di­reito de apre­sen­tação de can­di­da­turas de grupos de ci­da­dãos às au­tar­quias lo­cais está con­sa­grado e está muito bem».

Isto é uma coisa e outra bem di­fe­rente é o «aná­tema contra os par­tidos po­lí­ticos», no qual o PCP não alinha, como bem vincou An­tónio Fi­lipe, de­fen­dendo que «não deve haver ne­nhuma es­tig­ma­ti­zação dos ci­da­dãos que fazem parte dos par­tidos po­lí­ticos e que se in­te­gram em can­di­da­turas apre­sen­tadas por par­tidos seja a que nível for».

Pe­rigos reais

Sobre a pre­tensão em con­creto dos pe­ti­ci­o­ná­rios no que toca à en­trada na AR de in­de­pen­dentes fora dos par­tidos, An­tónio Fi­lipe ex­plicou que os par­tidos po­lí­ticos não estão con­sa­grados na Cons­ti­tuição apenas em sede de can­di­da­tura para a AR mas, desde logo, como en­ti­dades que «con­correm para a or­ga­ni­zação e ex­pressão da von­tade po­pular, no res­peito pelos prin­cí­pios da in­de­pen­dência na­ci­onal e da uni­dade do Es­tado e da de­mo­cracia po­lí­tica».

Daí que em nome da uni­dade do Es­tado seja proi­bida a cri­ação de par­tidos de âm­bito me­ra­mente re­gi­onal, o que só por si co­lide com a pro­posta da pe­tição no sen­tido de ser pos­sível a um grupo de ci­da­dãos can­di­datar-se a um de­ter­mi­nado cír­culo elei­toral.

O de­pu­tado do PCP fez ainda notar que a AR é a re­pre­sen­tação na­ci­onal, não é a soma de re­pre­sen­ta­ções lo­cais e que os de­pu­tados re­pre­sentam todo o País e não apenas o cír­culo por onde são eleitos. «Um de­pu­tado re­pre­senta todo o País e re­pre­senta um pro­jecto po­lí­tico e um pro­jecto de go­verno para o País», frisou, lem­brando que se é isto que se exige, então, «aquilo que se exige para uma can­di­da­tura à AR é que haja um par­tido po­lí­tico», chame-se-lhe o que se quiser, nos termos em que a Cons­ti­tuição e a lei prevê.

Em suma, para o PCP, o que não é ade­quado do ponto de vista de­mo­crá­tico é que al­guém co­meta essa «ver­da­deira fraude pe­rante os ci­da­dãos que é querer ser par­tido mas não lhe querer vestir a pele», porque existe na opi­nião pú­blica um dis­curso anti-par­tidos.

An­tónio Fi­lipe chamou ainda a atenção para os pe­rigos que com­porta para a de­mo­cracia esse dis­curso anti-par­tidos, re­cor­dando que foi assim que sur­giram «muitas ex­pe­ri­ên­cias au­to­ri­tá­rias no sé­culo XX na Eu­ropa e foi assim que ti­vemos uma di­ta­dura du­rante 48 anos, que se afir­mava como anti-par­tidos e que re­cu­sava a de­sig­nação de par­tido para a União Na­ci­onal que era um par­tido único».




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