EUA ficam no Afeganistão após 2014

«Preto no branco»

Washington e Cabul já acordaram os termos da manutenção de tropas ocupantes no Afeganistão a partir do próximo ano, texto que corresponde aos interesses imperialistas e que estes pretendem impor o quanto antes.

 

Os EUA querem assinatura do tratado até ao final de 2013

O consenso sobre o chamado pacto de segurança entre os governos norte-americano e afegão foi anunciado quarta-feira, 20, pelo secretário de Estado dos EUA. John Kerry revelou que o acordo foi selado em conversa telefónica com Hamid Karzai. O presidente títere do Afeganistão, entretanto, procura ganhar espaço para as presidenciais de Abril de 2014 no país. Consciente do amplo repúdio que o prolongamento da ocupação militar do território suscita entre o povo e a cúpula política local, pretende que a entrada em vigor do documento se concretize somente após o sufrágio, noticiaram agências informativas.

No passado dia 11, a Frente de Unidade Nacional do Afeganistão – plataforma que diz reunir políticos, clérigos, líderes comunitários e estudantes universitários – promoveu na capital afegã uma manifestação contra a impunidade dos ocupantes e a presença de tropas estrangeiras.

Ao defender a promulgação e aplicação do texto para o pós-eleições no Afeganistão, Karzai visa manter do seu lado a Loya Jirga, assembleia tribal que reuniu 2500 chefes locais entre quinta-feira, 21, e domingo, 24, e cujo apoio é fundamental para quem aspira ao poder. Simultaneamente, numa iniciativa com o objectivo evidente de dar a ilusão de que a Loya Jirga tem peso na decisão, desvendou que o número de soldados estrangeiros no Afeganistão poderá variar entre 10 e 15 mil, e instou os participantes a pronunciarem-se.

A questão é que os EUA não estão dispostos a esperar por argumentos e rearrumações de forças e facções internas. A anteceder a reunião, avisaram que «devemos avançar o mais depressa possível». Em declarações à imprensa, citadas pela Lusa, a porta-voz do Departamento de Estado, Jannifer Psaki, precisou mesmo que «o mais depressa possível» significa até ao final deste ano.

No mesmo dia, a Casa Branca insistiu na celeridade. Josh Earnest garantiu que o total de militares do contingente não está estabelecido. Ou seja, os afegãos assinam e o Pentágono depois decide.

Imperialismo impune

As pressões imperialistas sobre o processo foram-se avolumando nos últimos dias. Primeiro, um relatório divulgado com a chancela da ONU antevia um cenário de segurança caótico caso as autoridades afegãs não aceitassem prolongar a ocupação. No mesmo sentido, pronunciou-se o Pentágono, que prognosticou mesmo um regresso dos talibans ao poder no final de 2014. Mais directamente, o secretário da Defesa britânico, Phillip Hammond, foi ao Afeganistão inaugurar uma academia militar e aproveitou para advertir que a não assinatura por parte de Cabul do acordo nos termos imperialistas, implicava o fim da colaboração militar de Londres.

«Preto no branco», o conteúdo do «tratado bilateral de segurança», aliás já publicado na página do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão, assegura a imunidade local dos militares ocupantes acusados de actos criminosos. Garante, também, que as forças estrangeiras possam realizar «operações contra-terroristas» em zonas residenciais; que a composição destas inclua contingentes especiais das forças armadas e de mercenários afectos a empresas de segurança; prolonga a soberania imperialista sobre nove bases militares, incluindo as duas maiores, em Bagram e Kandahar; e estabelece cinco pontos de entrada de armas e mantimentos controlados pelos EUA nas fronteiras afegãs.

A provar que outro desfecho era altamente improvável, no passado dia 12 a Direcção Nacional de Segurança do Afeganistão abandonou a investigação à morte de 17 civis afegãos detidos pelos EUA na província de Maidan Wardak. Os corpos foram sepultados nos arredores da base norte-americana de Green Berets. Washington ditou o fim do apuramento dos factos. Cumpriu-se.

 



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