As «virtudes» das privatizações

Aurélio Santos

Quanto em 1989 o Go­verno de Ca­vaco Silva deu início à pri­va­ti­zação da Banca, os ar­gu­mentos adu­zidos foram os que hoje se in­vocam para pri­va­tizar tudo o que é pú­blico: «O Es­tado é mau gestor, não tem vo­cação para gerir, o sector pri­vado é mais di­nâ­mico, bla, bla, bla.».

Em 2008 apre­sen­taram-nos a fac­tura das ditas vir­tudes dessas pri­va­ti­za­ções. Os con­tri­buintes eu­ro­peus viram des­vi­ados mais de quatro bi­liões (tri­liões ame­ri­canos) dos seus im­postos para salvar os bancos que em nome da «trans­pa­rência» con­ti­nuam a car­te­lizar taxas e co­mis­sões, e agem como ver­da­deiros agi­otas. E apesar de parte do em­prés­timo da troika, pelo qual nos são exi­gidos sa­cri­fí­cios antes ini­ma­gi­ná­veis, ter ido para a Banca, os em­pre­sá­rios queixam-se que essa mesma banca não está a fi­nan­ciar a eco­nomia.

A bem da ver­dade é pre­ciso es­cla­recer que os pre­juízos que os bancos hoje apre­sentam re­sultam das im­pa­ri­dades exis­tentes e que, para não as­sustar muito, foram em parte es­con­didas em 2008. A con­versa que re­cen­te­mente veio a pú­blico sobre este as­sunto entre dois ban­queiros ir­lan­deses é bem elu­ci­da­tiva.

De­pois em nome das «vir­tudes» da con­cor­rência pri­va­ti­zaram as pe­tro­lí­feras e o sector ener­gé­tico. O re­sul­tado é co­nhe­cido: os com­bus­tí­veis custam em Por­tugal (sem im­postos) mais três a quatro cên­timos do que a média eu­ro­peia.

No sector ener­gé­tico é ainda pior. Ocu­pamos um hon­roso 2.º lugar na Eu­ropa no preço do gás e um 3.º no preço da elec­tri­ci­dade. Nos úl­timos dez anos fomos o país que so­freu maior au­mento de preços da energia (40%) e des­ca­ra­da­mente ainda nos dizem que temos um dé­fice ta­ri­fário de mi­lhões. Os fa­bu­losos lu­cros que a EDP apre­senta advêm so­bre­tudo do mer­cado in­terno.

A sanha pri­va­ti­za­dora não pára. Agora foram os CTT. Em­presa lu­cra­tiva, a ac­tuar sem con­cor­rência, e que pres­tava in­dis­cu­ti­vel­mente um bom ser­viço ao País. Es­queceu-se o Go­verno de dizer quanto vamos pagar aos CTT pri­vados de in­dem­ni­za­ções com­pen­sa­tó­rias pelos ser­viços pú­blicos que esta em­presa presta.

A ava­liar pelo que tem acon­te­cido não tarda que es­te­jamos com os ser­viços pos­tais mais caros da Eu­ropa.

Assim vai este canto do mundo cada vez mais mal go­ver­nado.

 



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