Novas bases <br>do agronegócio lusitano

Jorge Messias

«Costuma dividir-se o agronegócio em três partes: na primeira, trata-se do negócio agropecuário propriamente dito, (o que se chama dentro dos limites): agrupa todos os produtores rurais, pequenos, médios ou grandes, explorações familiares e empresas. A segunda parte desta sistematização (área pré-limite) reúne os interesses dos fabricantes de insumos ou seja, de adubos e fertilizantes, sementes modificadas, protectores químicos, equipamentos, etc. Numa terceira área (pós-limite), integram-se todos os que participem na distribuição, compra e venda ou financiamento das mercadorias, formação de quadros técnicos, etc.» (Wikipedia, Agronegócio, 2013).

«Portugal é um país com pouca extensão territorial e sem novas fronteiras agrícolas a serem exploradas. Esse facto coloca o Brasil como um dos parceiros estratégicos daquele país… (Biagi Filho, latifundiário brasileiro, presidente do COSAG – Conselho Superior do Agronegócio no Brasil).

«O agronegócio reúne a cadeia que vai desde a produção até à comercialização. Para a Associação de Marketing Rural e Agronegócio, recentemente criada, este conceito deve ser desenvolvido para pôr em evidência a mais-valia económica e social que o sector traz ao país...» (Território – Nova associação quer trazer para o mundo rural o marketing e o agronegócio, Sara Pelicano, Fevereiro de 2014).

«70% das terras aráveis brasileiras pertencem às grandes empresas e 30% aos pequenos agricultores. Aquilo que hoje temos é uma situação de miséria extrema dentro do próprio país, com os capitais internacionais a produzirem lucros e a desenvolverem territórios à custa da pobreza!» (Bernardo Mançano, Universidade Paulista, 2009).

Como já vimos, o projecto global do agronegócio faz parte da operação de globalização que integra os objectivos da Nova Ordem Mundial capitalista. Mas a estrutura foi minuciosamente concebida de forma a garantir a sua sobrevivência caso tudo o resto venha a falhar. É por isso que, de país para país, o agronegócio propõe diferentes patamares. Nos estados que integram enormes plantações, matérias-primas minerais, riqueza em pescado, pecuária ou reservas imensas em madeira e em fontes de energia (casos, por exemplo, do Brasil, da Índia, da Rússia ou de Angola), o agronegócio empenha-se em acelerar e exportar a produção, a preços baixos, dos países pobres para as economias ricas. Trata-se, no fundamental, de continuar as práticas bem conhecidas do anterior imperialismo colonial. A diferença consiste nas políticas seguidas pelo neoliberalismo, relativamente aos chamados países emergentes que são transformados em novos mercados consumidores das tecnologias de ponta dominadas pelos monopólios. Desta forma, a exploração dos pobres pelos ricos diversifica-se, aumenta e conhece dimensões jamais vistas. Aprofunda-se o abismo entre a riqueza e a pobreza, galopa a concentração do capital e estagna ou recua o progresso social alcançado pelos povos. São cenários actuais da luta de classes.

Já nos pequenos países que não dominam extensos territórios (nomeadamente os do Sul da Europa) a orientação neoliberal tem, necessariamente, de ser outra. Como sistema, o agronegócio exige o domínio dos mercados, o que implica a instalação, em pouquíssimo tempo, de uma complexa rede de gestão, comercialização, acumulação de lucros financeiros, formação de quadros, inovação e controlo político, abrindo caminho ao velho e ambicioso objectivo capitalista da substituição integral do poder político pelo poder financeiro dos monopólios. Os pequenos países periféricos estão vocacionados para o desempenho desta missão. Actualmente, também eles estão colonizados por potências mais poderosas e ricas. Mas já foram sede de impérios e mantêm interesses importantes nas antigas colónias. Por outro lado, estão intimamente ligados a religiões que dominam extensas redes de instituições em todo o mundo. Assim, as parcerias entre a Caridade e o Lucro seriam já meio caminho andado para a instalação do tão ambicionado mercado de distribuição desigual da riqueza reclamado pelo neocapitalismo. O capitalismo vive obcecado pela expansão do seu poder. Num futuro pouco distante, dominará o mundo e a humanidade.

Isto, evidentemente, na perspectiva dos actuais monopolistas, os maiores ladrões que a comunidade humana jamais conheceu.




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