Jerónimo de Sousa lança severas críticas ao Governo

Mentiras e eleitoralismo

Je­ró­nimo de Sousa teceu duras crí­ticas ao chefe do Go­verno a quem acusou de «falta de le­al­dade» e de «mentir aos por­tu­gueses» a pro­pó­sito dos cortes nos sa­lá­rios e pen­sões.

Go­verno es­conde me­didas para ar­re­cadar o voto dos por­tu­gueses

«O que agora vem anun­ciar é que afinal são de­fi­ni­tivos», cons­tatou o Se­cre­tário-geral do PCP, de­pois de lem­brar que em vá­rias oca­siões Passos Co­elho dis­sera da que os cortes nos sa­lá­rios e nas pen­sões, o au­mento dos im­postos, os cortes da pro­tecção so­cial se­riam tem­po­rá­rios.

O líder co­mu­nista, que fa­lava no de­bate quin­zenal re­a­li­zado dia 5, re­cordou que o Go­verno adi­an­tara também que os sa­lá­rios no sector pri­vado já ha­viam sido ajus­tados por via dos cortes nas horas extra, nos fe­ri­ados, nos su­ple­mentos e nou­tras re­ga­lias.

«Ora afinal querem al­terar a lei dos des­pe­di­mentos, fa­ci­li­tando o des­pe­di­mento dos tra­ba­lha­dores com di­reitos e subs­ti­tuindo-os por tra­ba­lha­dores sem di­reitos e com sa­lá­rios mais baixos», in­dignou-se Je­ró­nimo de Sousa, não pou­pando crí­ticas, por outro lado, ao anúncio da «mu­ti­lação» desse ins­tru­mento ne­go­cial entre as partes, con­quis­tado ainda antes do 25 de Abril, que é o «di­reito à con­tra­tação co­lec­tiva».

Cortes

O pri­meiro-mi­nistro afir­mara mi­nutos antes, em res­posta ao líder do PS, que o País não pode re­gressar ao «nível sa­la­rial» nem ao «nível re­mu­ne­ra­tório das pen­sões» de 2011. Mais adi­ante, pres­si­o­nado por Je­ró­nimo de Sousa, vol­taria ao as­sunto para afirmar que «não po­demos re­gressar ao pas­sado, à mesma bi­tola sa­la­rial», em­bora de­fen­dendo que «também não se pode manter ad eternum este nível de desvio do leque sa­la­rial na ad­mi­nis­tração pú­blica», sob pena de «pôr em causa o fu­turo» desta. E es­cla­receu ser essa até a razão pela qual o Go­verno iria fazer uma «ta­bela re­mu­ne­ra­tória única e uma re­visão de todos os su­ple­mentos».

E pouco mais adi­antou, apesar de muito ins­tado a des­vendar antes das elei­ções eu­ro­peias quais as me­didas que tem em car­teira. Adi­antou apenas que o OE será apre­sen­tado nos termos da Cons­ti­tuição até 21 de Ou­tubro e que as suas «grandes li­nhas», que «estão no pró­prio me­mo­rando de en­ten­di­mento», serão re­ve­ladas com an­te­ce­dência.

«O que o PCP quer saber é quais são essas me­didas no con­creto e não as «grandes li­nhas de ori­en­tação», con­trapôs Je­ró­nimo de Sousa, in­sis­tindo: «Onde é que vai cortar esses dois mil mi­lhões? Diga: aos re­for­mados, aos tra­ba­lha­dores, aos pen­si­o­nistas?».

Fac­tura es­con­dida

Alu­dindo ao «acerto» já fir­mado com a troika» – a 12.ª ava­li­ação a de­correr em Abril –, Je­ró­nimo de Sousa an­tevê que o res­pec­tivo re­la­tório venha a ser co­nhe­cido só em Junho. Ou seja, até 25 de Maio, dia das elei­ções, de­nun­ciou, o que o País vai as­sistir é ao aclamar de «su­cessos, aos si­nais po­si­tivos, às boas novas». A fac­tura, essa, virá de­pois, ad­vertiu: «voto ar­re­ca­dado, fac­tura apre­sen­tada».

E por isso o repto: «diga lá, se­nhor pri­meiro-mi­nistro: a pan­cada que dói mais não é pre­ci­sa­mente o corte de dois mil mi­lhões que estão pre­vistos mas não foram anun­ci­ados?»

«Cortes nos ser­viços pú­blicos, cortes nos di­reitos?», in­sistiu, lan­çando novo de­safio: «diga lá quais são as me­didas que o Go­verno não tem co­ragem para apre­sentar para apenas ar­re­cadar o voto dos por­tu­gueses?».

Je­ró­nimo de Sousa ini­ciara a sua in­ter­venção abor­dando pre­ci­sa­mente a te­o­ri­zação feita por Passos Co­elho no Con­gresso do PSD quanto à pan­cada que dói mais: «se as que foram dadas ou aquelas que vêm a se­guir». E com­parou estas afir­ma­ções com ou­tras ul­te­ri­ores do vice-pri­meiro-mi­nistro, Paulo Portas, de exal­tação ao «ca­minho do su­cesso». «Em que fi­camos: na po­lí­tica de su­cesso ou nesta ameaça ve­lada de que vem aí mais pan­cada?», in­quiriu Je­ró­nimo de Sousa pondo assim a nu a in­sa­nável con­tra­dição que trans­forma num exer­cício im­pos­sível a ma­nobra de pro­pa­ganda com a qual a mai­oria PSD/​CDS-PP e o Go­verno querem en­ganar os por­tu­gueses.

 

Opção pelos graúdos

Sobre as me­didas anti-so­ciais do Go­verno, Je­ró­nimo de Sousa quis saber se ao pri­meiro-mi­nistro não lhe causa pre­o­cu­pação ne­nhuma o facto de, por exemplo, estar a «car­regar sempre sobre os mesmos».

Na ré­plica, ima­gine-se, Passos Co­elho negou ser essa a ori­en­tação do Go­verno, in­vo­cando a «taxa adi­ci­onal de so­li­da­ri­e­dade» que, se­gundo ele, per­mite que «os que têm mais pa­guem mesmo pro­por­ci­o­nal­mente mais do que todos os ou­tros». E voltou a agitar o papão de que uma «saída do euro» ou uma re­es­tru­tu­ração da dí­vida pú­blica «teria con­sequên­cias muito pi­ores, em par­ti­cular para aqueles que estão mais vul­ne­rá­veis».

Só que, nem de pro­pó­sito, a des­mentir o pri­meiro-mi­nistro es­tava a no­tícia saída na vés­pera que dava conta do au­mento das for­tunas dos três ho­mens mais ricos do País por via do au­mento dos di­vi­dendos. «A esses não são pe­didos sa­cri­fí­cios, para esses não há me­didas para que con­tri­buam para a con­so­li­dação or­ça­mental», la­mentou Je­ró­nimo de Sousa, sem con­tudo se mos­trar sur­pre­en­dido por tão vil dis­pa­ri­dade e afronta, por­quanto, ob­servou, é bem sa­bida de an­temão a opção do Go­verno, tendo em conta a na­tu­reza de classe da sua po­lí­tica: «pôs-se do lado dos mais fortes, contra os mais fracos».

 

Medo do fu­turo

Abor­dada pelo Se­cre­tário-geral do PCP foi ainda a questão da na­ta­li­dade, no­me­a­da­mente o facto de em Por­tugal haver hoje mais mortes do que nas­ci­mentos. Em sua opi­nião esta re­a­li­dade tem causas eco­nó­micas e so­ciais, re­sul­tantes de po­lí­ticas con­cretas, do de­sem­prego, da emi­gração, dos cortes nos apoios so­ciais e nos ser­viços pú­blicos. Mas, pior do que isso, o que a «nossa ju­ven­tude sente hoje é o medo do fu­turo», ad­vertiu, con­victo de que «com este Go­verno não há cura» nem para este nem para ne­nhum dos res­tantes pro­blemas do País. Daí que Je­ró­nimo de Sousa en­tenda que bem pode o Exe­cu­tivo apre­sentar pro­gramas de na­ta­li­dade que de nada va­lerão se con­ti­nuar a cortar nos abonos de fa­mília, no apoio aos de­sem­pre­gados, no apoio aos jo­vens.

«É pre­ciso ir às causas e este Go­verno não está em con­di­ções de as tratar», re­matou.

 

 

 



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