Golpe de estado em banho-maria

Pedro Campos

Gi­sella Ru­bilar Fi­gueroa é uma das mais re­centes ví­timas pro­vo­cadas pela ex­trema-di­reita que nunca deixou de aca­ri­ciar a ideia de um golpe desde que Hugo Chávez venceu as elei­ções de 1998. De­zoito der­rotas em de­za­nove pro­cessos elei­to­rais não são su­fi­ci­entes para que as forças ne­gras do fas­cismo, ao ser­viço do im­pe­ri­a­lismo de Washington e da mais ran­çosa bur­guesia ve­ne­zu­e­lana, se con­vençam de que este não é o seu tempo.

Por que ma­taram Ru­bilar Fi­gueroa nesta orgia de vi­o­lência e morte? O «crime» desta chi­lena bo­li­va­riana foi ajudar a re­tirar uma gua­rimba (bar­ri­cada) aban­do­nada que es­tava perto da sua casa. De re­pente, apa­receu um grupo de en­ca­pu­çados e dis­parou sobre ela e duas pes­soas mais que a aju­davam. Os três foram atin­gidos e ela, de­pois de 24 horas de agonia, fa­leceu.

Esta nova ten­ta­tiva de golpe está der­ro­tada, mas não será a úl­tima. En­tre­tanto, já lá vão mais de 20 mortos e esse, junto com a des­truição de ins­ta­la­ções pú­blicas e pro­pri­e­dade pri­vada, é o saldo de que se podem or­gu­lhar os grupos mi­nús­culos apos­tados no der­rube do go­verno de Ma­duro.

Será re­al­mente que os es­tu­dantes e a mal cha­mada «so­ci­e­dade civil» pro­testam por causa da in­se­gu­rança e es­cassez de al­guns bens? Nada disso. Sem negar que existem esses e ou­tros pro­blemas, o que apa­rece claro é que está em de­sen­vol­vi­mento um con­junto de ações cri­mi­nosas ao es­tilo Líbia. Ou seja, cheira a pe­tróleo! No co­meço destas quase quatro se­manas de terror fas­cista – que ao con­trário do que querem fazer ver os media não ocorre em todo o país, mas só em poucos mu­ni­cí­pios – o seu chefe mais vi­sível, o fas­cis­toide Le­o­poldo López, disse-o cla­ra­mente. Quando per­gun­tado até quando iriam durar as gua­rimbas, res­pondeu que «até se irem em­bora os que nos go­vernam». Golpe de es­tado à vista!

A 18 de Fe­ve­reiro López de­cidiu en­tregar-se às au­to­ri­dades (es­tava so­li­ci­tado pela sua par­ti­ci­pação da ten­ta­tiva de golpe lento) não para as­sumir as suas res­pon­sa­bi­li­dades mas porque foi con­ven­cido pelo go­verno bo­li­va­riano de que a sua pró­pria gente se pre­pa­rava para o li­quidar como forma de agu­dizar crise po­lí­tica. Hoje está a salvo... na prisão!

Fas­cismo com rosto des­co­berto

Ve­ne­zuela é hoje o centro das aten­ções do im­pério norte-ame­ri­cano. Não se tem im­pu­ne­mente as mai­ores re­servas mun­diais de pe­tróleo sem se ajo­e­lhar aos pés de Washington. Ca­racas teve o atre­vi­mento de se pôr de pé e isso tem um preço muito alto que é pre­ciso pagar. Esta nova ten­ta­tiva im­pe­ri­a­lista de de­volver o país ao «quintal das tra­seiras» não vai fun­ci­onar. A in­tenção de in­cen­diar o país de uma ponta à outra está des­ti­nada ao fra­casso. Em Ca­racas, por exemplo, os al­caides dos mu­ni­cí­pios de classe média onde estão as gua­rimbas sabem-no per­fei­ta­mente e já as cri­ti­caram pu­bli­ca­mente ainda que nada façam para as deter e até pro­tegem os gua­rim­beros. Ca­priles, ex-can­di­dato pre­si­den­cial, agora en­fren­tando López pela li­de­rança da opo­sição fas­cis­toide, já o disse também. Edu­ardo Fer­nández, um dos lí­deres his­tó­ricos da de­mo­cracia-cristã, foi ainda mais longe: «O go­verno não está a cair, nem convém que es­teja a cair e muito menos que caia (...) Ima­ginem elei­ções num mês se Ma­duro re­nuncia. Tenho a im­pressão de que na opo­sição há perto de 17 can­di­datos...». Ainda que fron­tal­mente oposto à re­vo­lução bo­li­va­riana, caiu-lhe o «Carmo e a Trin­dade» em cima!

É que a in­to­le­rância é o valor (?) que pre­do­mina no seio de uma opo­sição en­ve­ne­nada e im­be­ci­li­zada pelos media. Re­cen­te­mente, na sua fúria en­lou­que­cida, ar­re­me­teram contra a im­prensa da di­reita e os fo­tó­grafos das agên­cias de no­tí­cias in­ter­na­ci­o­nais, que co­briam com sim­patia as suas ac­ções fas­cistas. Tra­tados sempre como he­róicos «es­tu­dantes ve­ne­zu­e­lanos» que pro­testam «contra a cen­sura e pela li­ber­dade», pas­saram a ser «ma­ni­fes­tantes (que) agridem jor­na­listas» (El Na­ci­onal) e au­tores de «ale­gadas agres­sões a jor­na­lista na­ci­o­nais e in­ter­na­ci­o­nais» (CNN). Dagne Logo (2001) de­nun­ciou por twitter que agre­diram o seu co­lega Cris­tian Her­nandez com uma barra de metal na ca­beça. «Se não ti­vesse ca­pa­cete, não sa­bemos o que se teria pas­sado...». Quando es­tava a ser agre­dida pela bri­gadas fas­cistas disse a um dos ener­gú­menos tra­tando de deter o as­salto: «Eh, pá, temos aqui três se­manas con­vosco» e a res­posta foi: «azar, en­trega a câ­mara». Os re­pór­teres da EFE, AP e Reu­ters, entre ou­tros, ao verem a ati­tude agres­siva dos gua­rim­beros, de­ci­diram re­tirar-se do local como lhes foi pos­sível... É o fas­cismo com o rosto des­co­berto!




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