As outras faces do capital

João Frazão

Os re­sul­tados das elei­ções para o Par­la­mento Eu­ropeu, re­ve­lando di­fi­cul­dades da so­cial-de­mo­cracia e da cha­mada di­reita tra­di­ci­onal, com que­bras muito acen­tu­adas em boa parte dos países, deixam à vista a afir­mação de ou­tras for­ma­ções, sejam da ex­trema di­reita, sejam de sec­tores po­pu­listas, digam-se à di­reita ou à es­querda, te­nham elas ca­rácter pro­lon­gado ou apenas ex­pressão mo­men­tânea.

Não pre­ten­dendo sim­pli­ficar, creio que es­tamos a falar apenas das vá­rias faces do ca­pital.

Tendo a so­cial-de­mo­cracia e a di­reita as­su­mido o papel de impor aos povos a po­lí­tica que visa o seu em­po­bre­ci­mento, e en­fren­tando por isso uma for­tís­sima con­tes­tação so­cial que, tendo no centro a classe ope­rária e os tra­ba­lha­dores, mo­bi­lizou vastas ca­madas, ca­ta­lisou sobre si a an­gústia e a re­volta de am­plas massas atin­gidas por estas po­lí­ticas an­ti­po­pu­lares. Veja-se a ta­reia que, em Por­tugal, apa­nharam os par­tidos ma­ri­o­netas da troika, PS, PSD e CDS.

Pe­rante esta re­volta, o ca­pital, e a co­mu­ni­cação so­cial ao seu ser­viço, pro­cura os es­capes pos­sí­veis. O ob­jec­tivo é sempre o mesmo. Fe­char todas as saídas às forças que, de forma con­se­quente, de­ter­mi­nada e co­ra­josa, não se sub­metem aos seus di­tames e im­po­si­ções, se batem por al­ter­na­tivas ao ca­pi­ta­lismo, na cer­teza de que a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos o irão, mais cedo que tarde, der­rotar.

E para fe­char todos os ca­mi­nhos à afir­mação de al­ter­na­tivas po­lí­ticas, das que não se li­mitam à mera al­ter­nância sem di­fe­renças de con­teúdo, o ca­pital cons­trói mis­ti­fi­ca­ções, de­turpa as suas po­si­ções, mente sobre as suas pro­postas, abrindo por sua vez as portas as essas falsas saídas, que não co­locam em causa a sua na­tu­reza. Abre as portas, fa­ci­lita a pas­sagem, pro­move a pro­gressão, es­ti­mula o per­curso. Porque servem os mesmos se­nhores e os mesmos in­te­resses.

Não nos dei­xemos en­ganar! O ca­pi­ta­lismo, na sua fa­ceta fas­cista, na sua fa­ceta po­pu­lista, na sua fa­ceta «hu­ma­nista», não deixa de ser ca­pi­ta­lismo.

Um sis­tema pa­ra­si­tário e de­su­mano que não olha a meios para atingir os seus fins, e que só não con­vive bem com os que re­sistem e lutam. Com os que, como em Por­tugal, no pas­sado do­mingo, se con­fir­maram como a força de es­pe­rança e de con­fi­ança numa al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda!

 



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